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Elise Dawson

15 octobre 2005

Mitologia aborígene.

 

A mitologia dos aborígenes australianos, embora muito rica culturalmente, é largamente desconhecida. Ela cobre todo o continente com nuances culturais e significados aprofundados, e capacita os ouvintes com a sabedoria acumulada, a visão mística, a criatividade e o conhecimento dos antepassados, ​​desde tempos imemoriais. Nela aparecem seres incríveis, com descrições muito interessantes e curiosos papéis dentro da natureza criada.

Durante a assimilação da Austrália pelos brancos europeus se tornou comum acreditar que tais criaturas fossem reais, até pelo motivo dos primeiros colonos não estarem familiarizados com a fauna australiana. De qualquer modo, os não-aborígenes não só “testemunharam” a existência delas em certas ocasiões como, com o passar do tempo, fizeram várias tentativas para entender e explicar suas origens como entidades físicas.

Abaixo, discorro sobre três destas figuras mitológicas :

 

Bunyip

O Bunyip, que na língua Wemba-Wemba significa “diabo” ou “espírito maligno”, também conhecido como  Kianpraty, vive nos pântanos, lagos, riachos, rios e poços de água da Austrália. O escritor Robert Holden identifica pelo menos nove variações regionais para o nome da criatura entre os povos aborígenes.

Em várias histórias para dormir dos nativos, se credita a ele engolir crianças e gado que cheguem perto da borda da água, e que emite um som terrível. 

Normalmente o descrevem como tendo um rosto semelhante a um cão, pelagem escura, cauda de cavalo, nadadeiras, uma presa de morsa e um bico de pato. Embora sejam variados os modos como o retratam, todos os avistamentos parecem concordar que é definitivamente um mamífero aquático. Alguns até acreditam que o Bunyip é realmente o marsupial pré-histórico Diprotodon australis, e que teria conseguido escapar da extinção.

Uma lenda narra que um homem chamado Bunyip quebrou a maior lei da Serpente Arco-Íris (divindade da mitologia aborígene, criadora e preservadora da vida, fertilidade e água, que forma com seus movimentos os elementos da paisagem) ao comer seu totem animal. Banido pelo bom espírito Biami, o homem tornou-se um espírito maligno que atrai para a água moradores das tribos e seus animais para que pudesse comê-los. Também é dito que se aproveita das mulheres e crianças das tribos durante a noite.

Um dos primeiros relatos registrados ocorreu em 1818, quando James Meehan e o explorador Hamilton Hume encontraram enormes ossos no lago Bathurst, localizado em Nova Gales do Sul, e descreveram o animal como semelhante a um peixe-boi ou um hipopótamo.

Em meados da década de 1830, o colono George Rankin descobriu ossos fossilizados nas Wellington Caves, localizadas também em Nova Gales do Sul, algo que, mais tarde, também foi encontrado pelo explorador Thomas Mitchell. O anatomista britânico Sir Richard Owen descreveu estes restos como do  marsupial pré-histórico  Diprodoton. Simultaneamente a estes acontecimentos, colonos observaram que os nativos da área falavam que um animal muito grande já existiu nos grandes riachos, sendo que muitos deles pregavam que ainda existiria.

Em julho de 1845, o  jornal “Geelong Advertiser” descreve a criatura em grande detalhe, naquela que foi a primeira vez registrada em que o termo “Bunyip” foi utilizado. Segundo a publicação, uniria as características de um pássaro e de um jacaré, tendo a cabeça semelhante a um emu e um bico longo, na extremidade do qual está uma projeção transversal em cada lado com bordas serrilhadas como o osso da raia. Seu corpo e pernas têm a ver com a natureza dos crocodilianos. As pernas traseiras são notavelmente espessas e fortes, enquanto as dianteiras são muito mais longas, mas ainda com grande força. Possui garras longas, todavia os aborígenes dizem que o seu método usual de matar a presa é abraçando-a até a morte. Quando na água, nada como um sapo e, quando em terra, caminha sobre suas patas traseiras com a cabeça ereta, posição na qual atinge mais de 3,50m. de altura.

Em 1847, um estranho crânio foi encontrado no rio Murrumbidgee, perto de Balranald, em Nova Gales do Sul, ocasião em que quem o encontrou logo proclamou que os aborígenes o chamaram de Bunyip. Foi depois exposto no Australian Museum de Sydney, onde muitos visitantes vieram a relatar seus próprios avistamentos do ser mitológico. O achado foi mais tarde comprovado ser apenas o crânio desfigurado de um potro ou bezerro.

A palavra “Bunyip” acabou ganhando a conotação de farsa, mentira ou impostura, a partir dos anos 1850. Chegaram a adotá-lo para descrever australianos que aspiravam ser aristocratas, em 1853.

 

Yowie

O Pé-grande original é uma história dos Estados Unidos, todavia vários outros tipos semelhantes a ele têm sido avistados ao redor do mundo, como o Sasquatch canadense, o Yeti nepalense, o Orang Pendek indonésio e o Yowie australiano.

O Yowie seria um marsupial humanóide com presas e, munido de muitos recursos de primatas, poderia ser uma espécie não descoberta de um grande macaco, talvez um Gigantopithecus (um gênero que se acredita estar extinto) ou um descendente deste. 

As lendas aborígenes o descrevem com 2 a 3 metros de altura, pelagem marrom ou avermelhada, uma grande boca vermelha e garras parecidas às de aves de rapina. Também contém dois grandes caninos como presas, algo que o distingue das outras espécies de “Bigfoots”. Uns o definem como tímido e pacífico, ao passo que outros como sendo uma das espécies mais agressivas do grupo de indivíduos conhecido como Pés-grandes (foi relatado que o viram atirando cabeças de cangurus e de cães, além de, embora raro, atacar humanos também).

É altamente improvável que descenda de um macaco asiático, já que as criaturas da Ásia nunca chegaram à Austrália, e vice-versa, devido à profundidade do mar. Esta separação é marcada pela linha de Wallace, uma fronteira invisível que separa as regiões zoogeográficas da Ásia e da Australásia, identificada pelo naturalista Alfred Russel Wallace.

O primeiro avistamento registrado do Yowie teria ocorrido já em 1795.

Na década de 1870, narrações sobre grandes símios nativos apareceram no “Australian Town and Country Journal”. O primeiro, em novembro de 1876, perguntou aos leitores quem já tinha ouvido falar, desde o primeiro assentamento da colônia, os aborígenes mencionando um animal sobrenatural ou indivíduo não-humano chamado Yowie. 

Seis anos depois, em um artigo intitulado “Australian Apes”, o naturalista amador Henry James McCooey afirmou ter visto um “macaco” na costa sul de Nova Gales do Sul, entre Batemans Bay e Ulladulla. Segundo ele, se estivesse perfeitamente em posição vertical alcançaria quase 5 metros de altura. Era coberto de pelagem muito longa de cor preta, sendo de cor vermelha suja ou de rapé sobre a garganta e o peito. Seus olhos, pequenos e inquietos, estavam parcialmente escondidos por cabelos enrugados que cobriam a cabeça. McCooey se ofereceu para capturá-lo para o Australian Museum por £ 40. 

A aparição deles ocorreu em várias histórias australianas entre o final do século XIX e início do século XX e, de acordo com o já citado Robert Holden, um segundo surto de relatos de avistamentos se deu em 1912. 

O Yowie também aparece em Hillendiana, de  Donald Friend, uma coleção de escritos sobre os garimpos perto de Hill End, em Nova Gales do Sul. Ele refere-se ao animal como uma espécie de Bunyip. 

 

Yara-Ma-Yha-Who

Este é um sugador de sangue do folclore aborígene que se esconde nas copas das árvores, geralmente figueiras, até que uma pessoa ande debaixo dela. Pulará da árvore sobre o desafortunado, agarrará o seu braço e, através das ventosas sugadoras em seus dedos, sorverá quase todo o seu sangue. Sairá então do local, deixando a presa enfraquecida, e retornará depois para engoli-la inteiramente. Após devorar a pobre alma, a regurgitará, parará para tomar um pouco de água e tirar uma soneca, e depois a comeria novamente para vomitá-la uma vez mais, repetindo a ato outras tantas vezes. A vítima vai ficando mais curta e mais vermelha a cada vez que o processo se reprisa, até que se torne um Yara-Ma-Yha-Who.

A criatura é descrita como um pequeno homem ou mulher vermelha, com cerca de 1,2m. de altura, e cabelos e pele vermelhos. Tem uma boca alargada sem dentes, pode deslocar a mandíbula como serpentes, e possui as já mencionadas ventosas sugadoras nas pontas dos dedos que usa para puxar o sangue de humanos, seu alimento preferido. 

De acordo com a lenda, o Yara-Ma-Yha-Who é ativo apenas durante o dia, e somente mira presas vivas. Então, fingir-se de morto até o pôr-do-sol é tido como um estratagema para evitar o ataque.

Este personagem mitológico poderia ser uma interpretação de uma variedade desconhecida de tarsius, um gênero de primatas do sudeste asiático com dedos que se assemelham a ventosas. Mas existem alguns problemas com essa teoria, já que os tarsius são relativamente inofensivos e muito menores que o Yara-Ma-Yha-Who, além do fato de não viverem na Austrália.

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

Monstros de pedra em catedrais.

O catálogo de animais reais e fantasiosos.

Quando o homem atinge a perfeição.

Estudando em casa.

O calendário na Primeira República Francesa.

 

 

Commentaires (6)

 

O condenado William Buckley relatou ter visto o bunyip em sua biografia de 1852, no período de 30 anos em que viveu com o povo Wathaurong.

Ele afirma que no lago Moodewarri, hoje chamado de Modewarre, teria visto, mais de uma vez, um animal anfíbio extraordinário, chamado de bunyip pelos nativos. Mencionou que também era comum no rio Barwon. Disse ainda que somente conseguiu ver a parte de trás do animal, que parecia estar coberta de penas de uma cor cinzenta obscura, que ouviu sobre uma mulher aborígine sendo morta por um, e que acreditavam que tem poderes sobrenaturais.

Posté par Ana Cristina Charbonneau, 15 octobre 2005 à 18:45 | Répondre

 

Os gritos ou uivos atribuídos ao bunyip podem ter sido produzidos por vários outros animais capazes de produzir sons assustadores, também encontrados perto de lagos e pântanos. Por exemplo, a coruja Ninox connivens, que vive nesse ambiente, emite sons que lembram uma mulher ou criança chorando.

Criptozoologistas sugerem que a criatura é a recordação transformada em mito de um animal real encontrado pelos aborígines do passado na Austrália, que depois se extinguiu. Talvez tenha sido o Diprotodon optatum, ou mesmo o Quinkana (um tipo de crocodilo terrestre) ou ainda o Procoptodon (parecido com o canguru, mas com rosto redondo e braços grandes).

Posté par Rogério Paterlini, 15 octobre 2005 à 19:51 | Répondre

 

Já ouvi falar no Mokoi.

No folclore dos Murngin, uma tribo do norte da Austrália, acredita-se que esta criatura, nascida da sombra de humanos, seja uma espécie de fantasma malévolo ou espírito que causa doenças fatais ou acidentes. Os aborígenes crêem que as pessoas raramente morrem de velhice por causa da interferência dele. Estes espíritos também podem ser aproveitados e utilizados por feiticeiros que os usarão para atacar seus inimigos.

Só são ativos pela noite, quando atacam as tribos e seqüestram crianças, o alimento preferido.

Posté par Ana Flávia Valtrich, 15 octobre 2005 à 21:00 | Répondre

 

Me recordei imediatamente dos drop bears, parentes grandes, perversos e carnívoros do pacífico e herbívoro coala. Mas se trata de uma fraude no folclore australiano moderno para assustar e confundir crianças ou principalmente turistas, enquanto os locais se divertem.

Propagam que o seu método de ataque é brutal e matará, inclusive, seres humanos facilmente. Eles permanecem escondidos em uma árvore, geralmente eucalipto, até que vejam suas presas caminhar embaixo, então caem e atacam brutalmente a cabeça da vítima usando seus dentes e garras.

As maneiras de evitar ataques do drop bear seriam estranhas, mas geralmente simples. Elas consistem em colocar garfos em seu cabelo, espalhando pasta de dente atrás de seus ouvidos, axilas ou em seu pescoço, urinando em você mesmo, ou apenas falando inglês com um sotaque australiano. Há Há Há Há !!!!!!!!
Felizmente, geralmente eles só caçam e se banqueteiam de noite, tornando-os mais difíceis de encontrar.

Posté par Estevão Balestre, 15 octobre 2005 à 21:16 | Répondre

Bem lembrado Estevão !

O Australian Geografic publicou um artigo sobre o animal como uma piada, no dia primeiro de abril de 2013, onde alegava que pesquisadores descobriram que eles eram mais propensos a atacar turistas do que pessoas com sotaque australiano.

Até existem os que levam a sério a existência da criatura, mas são uma minoria desinformada é claro. O problema é que quando homepages e publicações os colocam ao lado de outros seres realmente mitológicos, acabam sendo levados a este status também. Chega a um ponto que viram parte do folclore.

Os drop bears também foram mostrados no jogo Crossy Road, onde se você é um animal australiano, o drop bear pode cair sobre você, fazendo com que seja desbloqueado.

Posté par Darcio Blossfeldt, 16 octobre 2005 à 21:31 | Répondre

 

Os povos aborígenes da Austrália têm em sua mitologia uma entidade vampírica chamada mrart, que significa "fantasma". Eles acreditam que é o espírito inquieto de um membro da comunidade. Parecendo um fantasma, na noite, ocasião em que seus poderes estão mais fortes, agarra sua vítima e a leva da luz da fogueira para a escuridão total circundante. Na falta de presas humanas, arrebata corpos em cemitérios.
Entre os nativos do norte da Austrália, em particular o povo Tiwi, ocorrem contos sobre o papinijuwari, um gigante de um olho que vive em uma grande cabana onde o céu acaba. Dizem que as estrelas cadentes seriam estes seres cruzando os céus com uma fogueira ardente em uma mão. A criatura alimenta-se dos corpos dos mortos e do sangue dos doentes, sendo capaz de localizar pessoas enfermas pelo cheiro. Ao encontrar uma vítima se torna invisível e suga seu sangue sem deixar ferida. À medida que a pessoa enfraquece, torna-se pequeno o suficiente para entrar no seu corpo através da boca e, então, bebe o resto do sangue por dentro.

Posté par Lise Breda Adrieli, 16 octobre 2005 à 13:02 | Répondre

 

 

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12 septembre 2005

No topo da ciência.

 

Tive a honra de conhecer o ilustre expoente das ciências John Warcup Cornforth na série de conferências promovidas pelo Australian Institute, em meados dos anos 90, e o privilégio de agradecê-lo pessoalmente por suas décadas de trabalho pela humanidade. A partir disto, logrei o prazer de conviver com esta admirável figura humana por alguns anos, mesmo fora dos meios científicos e acadêmicos. Além de ter uma mente iluminada e ser um profissional mais que vencedor, é um homem de caráter, correto, probo, e de um coração de ouro, digno de todos os êxitos e glórias. As premiações que conquistou no transcorrer de sua carreira brilhante não representam nada perto do prêmio que ele é para a sociedade. Nós é que somos laureados!

Cornforth sempre foi um homem pensativo e, além de ter contribuído com os seus serviços para o avanço da química, sempre sublinhou a importância do papel dos cientistas na sociedade. Ele costuma afirmar que considerar virtuosa a fé, além da razão, tem sido prejudicial para os homens e, como sempre, a maioria dos danos é realizada pelas pessoas que estão convencidas de estarem certas. Diz ainda que a disciplina da ciência tem gerado uma relação especial com a verdade.

Ele nasceu em Sydney, em 7 de setembro de 1917. O segundo dos quatro filhos de seu pai, J.W. Cornforth, um inglês graduado da Oxford University, e sua mãe, Hilda Eipper Cornforth, oriunda de uma família alemã que havia imigrado para a Austrália no princípio do século XIX. Começou a praticar química já na adolescência, em um laboratório doméstico improvisado.

Passou parte de sua infância em Sydney e parte em Armidale, Nova Gales do Sul, e foi diagnosticado com otosclerose (tida como hereditária, é um dos casos mais comuns de surdez progressiva entre jovens; está relacionada ao crescimento anormal do estribo, um dos ossos no ouvido interno, o que impede que estruturas dentro do ouvido trabalhem de um modo correto; portanto, vai causando diminuição na audição) quando tinha quase 12 anos, tendo sofrido o aumento progressivo da perda auditiva desde a idade de 10. Mesmo assim, foi capaz de freqüentar aulas regulares na Sydney Boys' High School. Quando entrou na University of Sydney aos 16 anos, estava completamente surdo.

Cornforth demonstrou aos seus professores de faculdade um grande talento para o trabalho de laboratório em química orgânica, apesar de não conseguir ouvir nenhuma das aulas. Por força desta labuta prática laboratorial, e de sua atenção especial aos livros didáticos, concluiu sua graduação universitária em 1937. 

Depois, passou um ano fazendo pesquisas de pós-graduação, recebeu mestrado em 1938 e, no ano seguinte, ganhou uma das duas bolsas estudantis anuais para estudar química com Robert Robinson, agraciado com o Prêmio Nobel da área em 1947, na inglesa Oxford University. O outro vencedor da bolsa foi a também química Rita Harradence, com quem se casaria em 1941 (no mesmo ano em que recebeu seu doutorado de Oxford). Aliás, foi na University of Sydney, graças a um incidente engraçado, que ele conheceu sua futura esposa : Rita tinha quebrado um instrumento e, sabendo que Cornforth era capaz de soprar vidro, lhe pediu para repará-lo.

O, agora, novo casal trabalhou com Robinson em Oxford para determinar a molécula central da penicilina antibioticoterapica, durante a Segunda Guerra Mundial. Os Cornforths também começaram a investigar o problema da síntese química em esteróides (compostos integrais para estruturas celulares de plantas e animais). Sua esposa, igualmente brilhante em química orgânica, ajudava-o a se comunicar com os outros e colaborou estreitamente com ele em todos os momentos, já que Cornforth dependia completamente da leitura dos lábios e da comunicação escrita em 1945.

Em 1946, ainda ao lado de Robinson, começou a trabalhar para o National Institute of Medical Research (NIMR) em Hampstead e, em seguida, nos Mill Hill Research Laboratories em Londres. Durante este período, desenvolveu sua técnica para estudar os processos estereoquímicos das enzimas, pelo que conseguiu mostrar os caminhos dos processos bioquímicos. Vale ressaltar que o estudo da estereoquímica é tido como vital para a compreensão do mundo orgânico no seu nível bioquímico mais básico, mostrando como as coisas se encaixam no nível molecular e como elas afetam o gosto e o cheiro.

Em 1949, Cornforth ajudou Robinson a escrever “The Chemistry of Penicillin”, que detalhou o enorme esforço internacional que entrou no projeto de guerra. Ele e sua equipe da NIMR, simultaneamente com o químico Robert Wood, conseguiram completar a primeira síntese total da molécula de colesterol em 1951.

Na NIMR, Cornforth também começou o que se tornaria uma colaboração de 20 anos com George Popják, um bioquímico húngaro também interessado na molécula de colesterol. Ele queria descobrir como as células realmente sintetizavam o colesterol, então usou isótopos marcados de hidrogênio para rastrear os passos químicos do processo a partir de seus originais em ácido acético, técnica engenhosa que lhe garantiu o Prêmio Nobel de 1975.

Enquanto isso, continuava seu trabalho sobre a síntese e descrição da estrutura de muitos produtos naturais, incluindo hormonas e olefinas de plantas, substâncias sintéticas usadas nos têxteis. Ele completou a biossíntese de muitos outros esteróides, e conseguiu rastrear mais de uma dúzia de passos estereoquímicos na biossíntese do esqualeno, um precursor do colesterol que é amplamente distribuído na natureza. Em 1959, Cornforth publicou suas descobertas no “Journal of the Chemical Society”.

Em 1962, Cornforth e Popják deixaram o NIMR e se tornaram diretores conjuntos do Milstead Laboratory of Chemical Enzymology, da Shell Research Limited, em Sittingbourne (condado de Kent). O primeiro projeto ao qual se dedicaram foi um esforço para entender a estereoquímica das reações enzimáticas usando a substituição isotópica para introduzir artificialmente a assimetria. Em 1967, Cornforth também começou a colaborar no grupo de metais assimétricos com Hermann Eggerer. Popják deixou o Milstead em 1968 para novas atividades na Califórnia, deixando o australiano como único diretor do referido laboratório. Mais tarde naquele mesmo ano, Cornforth publicou os resultados de seu último estudo no “Journal of the American Chemical Society”.

Em 1965, ele concordou em assumir a responsabilidade de um posto como professor associado em ciências moleculares na University of Warwick, na inglesa Coventry, onde permaneceu no cargo até 1971, quando aceitou uma função semelhante na University of Sussex, em Brighton. Durante este seu período como professor, descobriu o amor docente pelo assunto sobre o qual era tão apaixonado. Tanto que, em 1975, ele decidiu ensinar em tempo integral em Sussex como professor de pesquisa da Royal Society, deixando o Milstead. Também nesse ano, compartilhou o Prêmio Nobel de Química com o suíço Vladimir Prelog.

Inúmeros prêmios foram concedidos a Cornforth por suas contribuições para a química, incluindo a Medalha Corday-Morgan, da Chemical Society de Londres (1953); a Medalha CIBA, da Biochemical Society (1965); a Medalha Davy, da Royal Society (1968); o Prêmio Guenther, da American Chemical Society (1969); o Royal Society Award (1976); além de um título de cavaleiro em 1977. O cientista australiano ministrou aulas regulares na University of Sussex até 1982, quando recebeu o status de emérito. Também ganhou a prestigiosa Medalha Copley, da Royal Society, em 1982.

Em 2002, ele e sua esposa emprestaram o nome para uma nova fundação na University of Sydney, a Cornforth Foundation, que apóia o ensino no campo da química orgânica. Ele também é membro de muitas academias científicas na Austrália, Holanda, Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.

Em 2003, Cornforth e muitos outros vencedores do Prêmio Nobel assinaram uma petição amplamente divulgada, afirmando a verdade do aquecimento global e exigindo ações para remediar seus efeitos. No documento, pedem uma ação unida para combater o aquecimento global e o armamento, objetivos que serão componentes vitais da estabilidade à medida que avançamos em direção ao maior grau de justiça.

O cientista e sua esposa passam parte de seu tempo em Saxon Down, Cuilfail, Lewes, na Inglaterra. Tiveram 3 filhos (John, Brenda e Philippa), e vários netos. Me junto aos colegas de Cornforth ao o descreverem como tendo uma personalidade calorosa e extrovertida, além de se destacar em inúmeras atividades de lazer, como tênis e jardinagem, mas nomeadamente o xadrez. Se tornou um pouco mais político em seus últimos anos e, ocasionalmente, fala sobre questões ambientais e sociais usando seu status de nobelista para aumentar o peso de suas declarações. 

Um dia, falando para uma platéia de estudantes, declarou que, quando Rita e ele estavam aprendendo química não era muito difícil, pois não havia tanta coisa para se saber, mas que agora sentia muito por aqueles ouvintes, porque há realmente muito a saber. Isso também graças aos seus trabalhos.

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

A verdade dói.

Se espalhando pelo mundo.

Heróis da vida real.

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Thylacoleo e a evolução convergente.

 

 

Commentaires (8)

 

Mais tarde ele disse que concentrou sua atenção na química porque oferece uma carreira na qual a surdez pode não ser uma desvantagem insuperável, e acabou se tornando um leitor habilidoso de lábios. Um professor, de nome Leonard Basser, o influenciou na direção desta área.

Sua esposa, Rita Harradence, era sua colega de classe universitária, uma colega química, um assessor valioso em comunicação com o mundo auditivo e seu freqüente colaborador científico.

Posté par Max Graham, 12 septembre 2005 à 19:36 | Répondre

 

A Austrália é um país jovem se comparado às nações do chamado Primeiro Mundo, no entanto conta com uma das economias mais saudáveis do globo, além de servir de exemplo em áreas como saúde, segurança, e direitos humanos.

Seu sistema educacional é de altíssimo nível, e é garantido por organismos fiscalizadores sérios e eficientes. Não é por menos que tantos jovens de todas as partes do planeta buscam esta nação para estudar, nos mais diversos níveis educacionais.

As escolas australianas facilitam a vida do estudante estrangeiro, permitindo que trabalhe vinte horas semanais ou, durante as férias, em período integral. Há centenas de colégios de língua inglesa e institutos de formação profissional, além de muitas universidades (públicas e privadas).

Tudo isso só poderia culminar em sucesso, como nas premiações do Nobel.

Posté par Arthur Léveillée, 12 septembre 2005 à 19:54 | Répondre

 

Enquanto brasileiro já supervaloriza uma suposta amizade ou o encontro que teve com aspirantes a subcelebridades, futebolistas, e atores ou cantores que usam a bunda para representar ou cantar (pra falar a verdade conheço um monte de débil mental que ao conseguir conversar - ou ao menos cumprimentar - com o pegador do bairro onde mora ou da empresa onde trabalha já sente que sua vida inteira valeu a pena ou fez sentido; talvez o suicídio seja uma boa opção para estes zeros, pelo bem deles e da sociedade), gente do seu nível se orgulha de conhecer e conviver com humanos do mais alto padrão moral e intelectual, de trajetória impecável e relevância social ímpar, como o Dr. Rodrigo Guizzardi, e até mesmo de nobelistas, como o Dr. John Cornforth.

Não é difícil separar o certo do errado, nem o proveitoso do inútil. Trabalhoso é ser alguém racional, ético e com discernimento, que consiga efetivamente enxergar o justo e, principalmente, optar e praticar o que é o correto, de verdade ! Quem é bom, é bom ! E quem é ruim, NÃO PRESTA !

Minha cara Elise, eu não vou cumprimentá-la pela maravilhosa carreira ou pelo trajeto de vida fantástico que você tem. Vou aplaudi-la pelo que você é !!! Parabéns por ser assim, ter os valores e os conceitos que tem, e por conseguir identificar o que é bom, tudo sempre de uma forma natural ! O resto é conseqüência !

Posté par Denise Duckett, 12 septembre 2005 à 20:08 | Répondre

Obrigada Denise! Você é maravilhosa!

Posté par Elise Dawson, 12 septembre 2005 à 22:10 | Répondre

Denise, você já deve ter percebido que aquilo que o cidadão verdadeiramente inteligente, honesto e maduro dispensa ou repudia, o mau elemento, de cabeça vazia, sem caráter e corrupto, agarra com unhas e dentes. Por que será que funciona assim? Uma mera coincidência?

Concordo = quem é bom, é bom. E quem é ruim, não presta, e tem de ser excluído socialmente!!! Acontece que o Brasil é o país mítico do faz de conta, do 1º de abril, e do dia do contrário! E o povo de lá, inserido neste contexto cultural endêmico, é feliz assim. Só não tem coragem de assumir. Nós é que temos de nos cuidar e zarpar deste inferno!!!

Posté par Andrea Scuderi, 13 septembre 2005 à 20:22 | Répondre

 

Cornforth era fascinado por fenômenos naturais e as leis que os regem e, como disse em uma entrevista em 2002, era uma pena as pessoas olharem para uma flor e não entenderem nada do que está acontecendo.

Ele, antes da universidade, estudou e praticou experimentos em um laboratório que foi construído na lavanderia da sua casa. Uma vez que grande parte da literatura sobre química estava escrita em alemão, aprendeu sozinho o idioma.

Acima de tudo, ele tem sido um forte defensor da cultura da dúvida como base para pesquisas. Em 1992, por ocasião do 75º aniversário de fundação do Instituto Químico Australiano, ele disse sobre os cientistas que têm de duvidar de tudo, pois são as únicas pessoas que prosperam sendo céticos. A ciência é a arte do possível, e o negócio dos cientistas não está no crer, mas no experimentar, verificar e desafiar as teorias, até mesmo suas próprias.

Posté par Lisa Alleway, 12 septembre 2005 à 21:38 | Répondre

 

A Austrália já conta com 8 prêmios Nobel, entre seus nascidos ou naturalizados:-
William Lawrence Bragg, Física, 1915
William Henry Bragg, Física, 1915
Sir Howard Florey, Fisiologia ou Medicina, 1945
Sir Frank Macfarlane Burnet, Fisiologia ou Medicina, 1960
John Carew Eccles, Fisiologia ou Medicina, 1963
Patrick White, Literatura, 1973
John Warcup Cornforth, Química, 1975
Peter Charles Doherty, Fisiologia ou Medicina, 1996
Já o lamentável Brasil não tem nenhum, e nem nunca terá ! Estou convicto de que nenhum indivíduo brasileiro teria uma formação tão boa, competente e dedicada, ou faria uma tão relevante contribuição para a humanidade, que lhe proporcionasse vencer a premiação sueca. Sinceramente, se algum dia tivermos um tupiniquim levando esta medalha, provavelmente seria alguém que abandonou o Brasil para construir em outro país a carreira que lhe valeu este reconhecimento, e estou sendo otimista nisso!

Posté par Marcus Siddle, 13 septembre 2005 à 18:18 | Répondre

Em tempo, no dia 3 de outubro último foram anunciados dois australianos, Barry Marshall e John Robin Warren, para o Nobel de Medicina de 2005.
Quem pode, pode. Quem não pode, bate palma!

Posté par Marília Hammel, 10 octobre 2005 à 21:10 | Répondre

 

 

20 août 2005

Monstros de pedra em catedrais.

 

Diz uma lenda que um enorme dragão estava causando destruição e morte em torno da cidade francesa de Rouen. O monstro, chamado “La Gargouille” pelos habitantes, tinha um corpo de réptil e asas, vivia em uma caverna perto do rio Sena, e era aplacado com ofertas de sacrifícios anuais, especialmente de jovens moças. Por volta do ano 600 de nossa era surgiu em Rouen um sacerdote cristão chamado Romanus, que prometeu libertar o povo da ameaça iminente em troca da conversão de todos e da construção de uma igreja. Com a concordância da população, Romanus exorcizou o monstro, submeteu-o com o sinal da cruz, e levou-o para longe amarrado a uma coleira feita com a batina. O dragão foi queimado na fogueira, mas seu pescoço e sua cabeça, temperados pela respiração quente, não foram destruídos pelas chamas, então foram separados do corpo e colocados nos muros de Rouen, tornando-se assim o modelo para as gárgulas dos séculos posteriores.

A palavra “gárgula” deriva do francês “gargouille”, que vem diretamente do latim “gurgulium” (“garganta”), termo onomatopéico que se refere ao gorgolar, o borbulhar da água pluvial que passa através da parte final do tubo de escape ou canal externo de uma calha (no citado vocábulo francês, tinha este mesmo significado). Na arquitetura, usada principalmente em construções góticas, normalmente uma gárgula é uma pedra esculpida grotesca, com pescoço comprido e a boca agindo como um bico projetado para transportar água de chuva, de um telhado ou uma cornija, para longe de um edifício, no intuito de impedir que a mesma escorra pelas paredes de alvenaria e venha a corroer e deteriorar a argamassa. Servia como um desaguadouro, portanto. A espiritualidade visionária da Idade Média gerou peças de muitos tipos guardando lugares particularmente em prédios religiosos, tendo rostos sorridentes ou sendo terríveis figuras demoníacas, representando seres monstruosos meio bestas e meio homens ou quimeras (híbridos formados de muitos animais). 

As primeiras que surgiram não eram necessariamente esculpidas. Se tratavam de meras características arquitetônicas, tais como entalhes em vigas de madeira que sobressaiam do telhado ou tubos de várias formas em cerâmica. A partir do século X ou XI começou a se espalhar na Europa o uso de pedra para a sua feitura, principalmente mármore e pedra calcária, que tinha a vantagem de poder ser esculpida e depois adaptada artisticamente para a arquitetura. Também há notícias de gárgulas de chumbo e de terracota (estas não sobreviveram pois foram totalmente estragadas pelo tempo).

Enquanto tinham essencialmente a função de escoar a água da chuva de um edifício, o grotesco é um tipo de escultura similar mas que não funcionava como desaguadouro, somente tendo funções artísticas e ornamentais embora também tenha ficado conhecido popularmente como gárgula. Os grotescos são essencialmente figuras bizarras ou fantásticas, muitas vezes com valores simbólicos fortes. Derivada em parte da arte românica, encontrou a sua máxima difusão no final do século XIII e, especialmente, no século XIV, quando se espalhou por toda parte a elaboração de motivos fantásticos em bordas de manuscritos e nos interiores de igrejas.

A prática habitual era esculpir a gárgula na sua posição definitiva, a fim de evitar os atrasos na inserção da peça, eventuais quebras e outros problemas. Mais rara era a esculturação no chão da figura, que geralmente se baseava em um modelo em argila ou cal. Grande atenção era dada à decoração dela, que era ricamente pintada e, em vários casos, dourada - ao longo do tempo as cores escamavam e eram eliminadas pela chuva e erosão, restando apenas a superfície cinzenta da pedra, sem traços de coloração. 

O termo “gárgula” é majoritariamente aplicado ao período medieval mas, através das épocas, trabalhos semelhantes com a função de desaguadouros foram adotados por outros povos. No antigo Egito, escoavam a água usada para lavar os vasos sagrados. Nos templos gregos, a água dos telhados passava através da boca de leões, os quais eram esculpidos ou modelados em mármore ou terracota na cornija. Na cidade romana de Pompéia muitas, feitas de terracota, eram modeladas na imagem de animais.

Os egípcios tinham um panteão com um certo número de divindades híbridas, e estavam entre os primeiros a usar estes seres como decoração em seus templos. A partir deles, as quimeras entraram no inconsciente coletivo grego, que também tinha uma forte inclinação para visões fantásticas, de modo que começaram a usar harpias, grifos, centauros, além de outros seres fantásticos, e em particular cabeças de leão, como já foi dito. Da Grécia, o uso se tornou comum no mundo clássico, tanto que o Homem Verde também é encontrado em colunas romanas do século II e até mesmo em templos hindus.       

A queda do Império Romano do Ocidente causou um declínio no uso desta técnica arquitetônica, e somente a partir do século XII ocorreu uma distribuição homogênea na Europa de desaguadouros em forma de gárgula e até mesmo no Japão, onde era comum que fosse moldada como Shachihoko, demônio com cabeça de tigre e corpo de peixe. No final do século XIII as figuras aparecem mais complexas, com até um metro de altura e esculpidas com mais cuidado. Neste período, as formas humanas passaram a substituir os animais.

Em seguida se nota um aumento geral na plasticidade da postura e nos detalhes. O século XV vê como tendência comum a expressão facial cômica, distorcida ou com um sorriso sinistro. Depois do século XVII as gárgulas, bem como os grotescos, empregadas muito comumente até então, passaram a ser apenas ocasionalmente utilizadas por instituições acadêmicas, igrejas ou mesmo bancos, com intenção propiciatória, apotropaica ou de simples decoração.

A simbologia é incrivelmente complexa, e é possível encontrar significados por trás da imagem que, por vezes, vêm das escrituras cristãs, mas que, na maior parte, se baseia no universo pagão. Um substrato simbólico que une culturas sucessivas e cria uma linha sutil de união entre elas. Em muitos casos, muda eventualmente seu significado de positivo para negativo, e vice-versa, no decorrer dos séculos, assumindo um significado bivalente, ao mesmo tempo, identificando a natureza do homem nas duas grandes tensões psicológicas, a espiritual e a material, ou, o celeste e o demoníaco. 

O Homem Verde, ou Homem das Folhas, é talvez o símbolo mais famoso, e ainda usado nos dias atuais. É comumente tido como uma gárgula mas, embora ambos compartilhem muitos locais físicos, é uma espécie de arte inteiramente distinta e pode ser considerado grotesco em vez da outra. As origens, significados e até mesmo algumas das qualidades físicas do Homem Verde se fundiram com as gárgulas, não obstante seus caminhos tenham sido separados há muito tempo. Essencialmente, é uma cara que sai como uma flor entre folhas da árvore, por vezes um rosto feito de folhas, de certa forma como em uma pintura de Giuseppe Arcimboldo, e em outras ocasiões as folhas saem dos seus olhos e da sua boca. O motivo aparece em catedrais européias a partir do século XI, mas é possível encontrá-lo em colunas romanas do século II e em templos hindus, em suas diversas variantes. Como grotesco, aparece nas paredes dos grandes bancos de Wall Street como um símbolo de bons votos. Seu significado simbólico diz respeito ao poder inesgotável da vida que não pode ser extinto, mas é renovado ciclicamente no encadeamento nascimento - morte - renascimento, como com as decíduas (nome dado às plantas que, em uma determinada estação do ano, geralmente nos meses sem chuvas e frios, perdem suas folhas, mas que se revigoram nos períodos mais favoráveis seguintes). Na Idade Média representa a luxúria como pecado capital e também assume o valor de proteção, e como tal, pode ser encontrado no costume dos celtas de embrulhar com folhas de carvalho as cabeças empaladas dos que morreram após uma batalha, para afastar os espíritos do mal.

Com a Reforma houve um desaparecimento do Homem Verde, que voltará na era vitoriana como decoração de parede nas ruas. O símbolo, como é usado hoje, é um simples desejo de prosperidade financeira.

Alguns dos atributos mais comuns, tanto da gárgula quanto do grotesco, são os chifres e os cascos picados. Por sinal, muitas imagens do Homem Verde na América do Norte contêm os chifres curvos do carneiro ou os retos tão freqüentemente associados a Satanás. Essas características fazem parte de uma tradição religiosa muito antiga, pré-cristã, em que deuses com chifres foram adorados para garantir prosperidade e fertilidade. A igreja cristã fez tudo o que podia para destruir as tradições e os rituais que se dedicavam a esses deuses, ou para assimilá-los em sua iconografia. Pã, Fauno, Cernuno, e outros deuses da fertilidade, tornaram-se retratos do Diabo, e suas formas foram tiradas dos templos pagãos para decorar estruturas cristãs primitivas. Ao longo do tempo, suas imagens tornaram-se parte do simbolismo cristão, mas conservaram suas naturezas duais, representando o modo de vida e a crença pagãos, bem como a advertência religiosa para os demônios e as conseqüências do pecado. Vale lembrar que no mundo celta, Cernuno, deus das florestas e senhor dos animais, nasce no solstício de inverno, se casa, e depois de uma temporada de fertilidade, morre no solstício de verão. Ele alterna com a deusa da lua o contínuo ciclo de morte e renascimento, adquirindo função semelhante ao do Homem Verde.

Na maioria das catedrais medievais (mas também em universidades e edifícios construídos em períodos mais recentes) há uma enorme variedade de animais representados como gárgulas :

- assírios, persas, sumérios, gregos e romanos usavam o leão, que na simbologia medieval retornou como Cristo, chamado “Leão da tribo de Judá”. Como o leão que dorme com um olho aberto, a força do cristão vigilante não permite ao mal entrar, e combina as qualidades do comportamento real com a atenção para verdades sagradas. No entanto, tempos depois, passou a ser visualizado como pecado do orgulho.

- o cão transmite o conceito de lealdade, e no universo literário medieval adquire qualidades como sabedoria e lógica do raciocínio, simbolizando o padre que cuida de seu rebanho dos perigos do mundo. No entanto, por vezes, assume conotações negativas, como o lobo que assusta e personifica o mal quando tenta se aproveitar das ovelhas.

- não é claro o valor simbólico das aves mas, uma vez que arar os céus é sua característica principal, foi uma escolha óbvia colocá-las como gárgulas empoleirando-se em telhados. São representadas tanto na forma de criaturas celestiais como na de monstros alados, indicando uma tensão mística para os céus, para cima, ou para o mal, para baixo.

- a literatura medieval reveste a cabra de natureza onisciente, sábia e gentil, mas vem associada da mesma forma como o pecado da luxúria.

- os símios simbolizam a queda no pecado, devido à sua forma semelhante ao homem, mas pelas características bestiais, por vezes, torna-se o próprio mal.

Com a forma humana, muitas vezes as gárgulas e grotescos mostram sua língua ou ficam sorridentes, com expressões estranhas bem como com deformidades físicas em seus corpos, uma referência muito clara para o mal personificado criado no homem, através do sofrimento, do pecado e da morte. O rosto desenhado simboliza também o pecado de traição, heresia ou blasfêmia. O próprio Satanás ocasionalmente é representado como uma gárgula que mostra a língua, e o nascimento de uma criança deformada era, freqüentemente, associada a uma intervenção demoníaca. 

O legado das bestas híbridas egípcias e gregas se misturou na Idade Média ao universo mítico dos bestiários como o Physiologus (vide o texto onde abordo o assunto – Um catálogo de animais reais e fantasiosos.), livros ilustrados com descrições de animais reais e imaginários de terras distantes, que experimentaram uma enorme propagação e influenciaram os arquitetos das catedrais góticas que neles se inspiraram para ornamentar alguns desaguadouros. As características dos animais imaginários foram claramente reinterpretadas a partir de uma perspectiva cristã. Dos bestiários dos primeiros séculos de nossa era e do livro de Isidoro de Sevilha, parecem vir as primeiras formas modernas de híbridos de gárgulas e grotescos :

- decorrente da quimera grega, as representações destes seres na arquitetura medieval tinham a cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente, além de cuspir fogo pela boca. Muitas vezes misturavam também outros animais na figura da quimera, como focinho, bicos ou outros apêndices monstruosamente exagerados. Quanto à simbologia, parece correto uma referência à multiformidade dos aspectos em que o diabo se manifesta e, de uma maneira particular, à atração sexual.

- o dragão, usualmente representado com um corpo de cobra (ou réptil) e asas de pássaro (ou morcego), com garras e sopro de fogo, no uso medieval como gárgula pode ser rastreado até Satanás, a serpente original, que oferece a perspectiva tentadora de um conhecimento superior que se revela bastante falacioso e causa sofrimento e morte. Do mundo greco-romano se moveu para a tradição cristã, sempre como monstro que simboliza o mal.

- a medusa era uma bela donzela amada por Poseidon, o que provocou a ira de Atena, que a transformou em um monstro com serpentes no lugar dos cabelos, dotado do poder de transformar em pedra aqueles que olhassem em seus olhos. Depois foi morta por Perseu que levou sua cabeça para Atena. No simbolismo da Idade Média, tornando-se uma gárgula de pedra, a cara horrível da górgona deveria aterrorizar qualquer um que foi tentado a cometer o mal, e removeria os demônios para longe dos lugares santos.

Como se observou, gárgulas e grotescos sempre possuem valências negativas e positivas, assumindo valores virtuosos ou demoníacos ao mesmo tempo. Entretanto, como não existem muitos registros sobre o significado deles, têm sido propostas várias teses para explicar a presença das peças como, por exemplo, que seriam usados como guardiões da igreja para aterrorizar os demônios, ou que mostravam forças do mal vencidas e convertidas, ou que simbolizavam os seres das trevas dos quais os transeuntes iriam encontrar refúgio no templo cristão, ou que seriam as almas pecadoras que foram proibidas de entrar na igreja, condenadas por sua conduta e transformadas em pedra, ou, simplesmente, que representava um símbolo dos medos inconscientes do homem medieval. Talvez seja um conjunto dessas teorias. 

O uso moderno de gárgulas incorpora símbolos antigos ritualizando a ligação entre o homem e o que parece não sofrer de corrosão do tempo. Instituições, bancos e universidades em vários lugares do mundo são decorados com estas imagens em suas estruturas como um desejo de prosperidade, de saúde e de bons negócios, onde todos os vestígios de espiritualidade no símbolo parecem dissolvidos. 

Posté par Elise Dawson

 

 

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Commentaires (6)

 

Olá Elise !

A palavra italiana "grotteschi", derivada do latim "grotto" (caverna), foi criada durante escavações de ruínas romanas subterrâneas que os arqueólogos do século XV confundiram com cavernas antigas. Nas ruínas da "Casa Dourada", uma construção requisitada por Nero após o incêndio que consumiu parte da cidade, foram descobertas criaturas míticas em imagens e estátuas, as antepassadas diretas daquelas que passaram a ser utilizadas sob a expressão de grotesco.

Não existem textos antigos que expliquem o significado destas imagens, mas sabemos que os artesãos já na Idade do Bronze usavam o grotesco (de górgonas, esfinges, grifos ...) para evitar os poderes do mal. Talvez o homem medieval tenha sentido que estas criaturas poderiam evitar as forças malignas, ou representar o aprisionamento dos subalternos de Satanás.

A decadência da Idade Média trouxe consigo mais descobertas sobre o mundo natural, o fim da praga, e o enfraquecimento das crenças pagãs. À medida que a vida se tornava mais segura, os grotescos tornaram-se menos temíveis, mais caprichosos e contemplativos, porém, séculos após o desenvolvimento dos tubos de drenagem de chumbo que renderam anacronismos funcionais de gárgulas, os grotescos de pedra ainda estavam sendo esculpidos e ancorados na alvenaria de edifícios em toda a Europa, ou mesmo nas Américas.

Posté par Angela van Thiel, 20 août 2005 à 17:59 | Répondre

 

Realmente o termo “gárgula” foi diluído com o passar dos tempos, e hoje é muitas vezes erroneamente usado como generalização para todas as caricaturas, esculturas monstruosas e criaturas fantásticas que aparecem no exterior de edifícios. Embora muitas dessas estátuas compartilhem características sobrenaturais e animalísticas semelhantes às gárgulas, não servem ao propósito de guiar as águas vindas do telhado para fora da construção e possuem apenas uma finalidade decorativa. Neste caso, são chamadas de “grotescos” ou “quimeras”.

A partir da construção da Catedral de Canterbury, no século XIII, a propagação grotesca se deu em toda a Europa e tornou-se uma técnica de decoração comum.

Alguns entenderam essas esculturas de pedra como distorcidos anjos da guarda, enquanto outros argumentaram que essas criações monstruosas eram demônios de pedra que espreitavam fora dos limites seguros da igreja e esperavam pacientemente a próxima vítima. Parece que tudo representaria a dualidade paraíso-inferno, onde o interior das construções religiosas seria o refúgio (com suas pinturas e estátuas celestiais), enquanto no exterior dela ficariam as trevas (com as gárgulas em forma de demônios). Uma outra interpretação negativa sugeria que eram as encarnações de “almas” condenadas pelos seus pecados e, enquanto salvas da condenação no inferno, o custo de suas transgressões seria a sua eterna petrificação no topo de uma igreja.

Posté par Nestor Hallack, 20 août 2005 à 19:40 | Répondre

 

No início do século XIII apareceram prolongamentos de calhas para melhorar a drenagem da água da chuva do telhado que antes fluía diretamente na rua por projeções estabelecidas em bordas. Estes ornamentos com figuras monstruosas em breve tornaram-se o que passou a ser chamado de gárgula, figuras esculpidas cuspindo água através de suas bocas.
Dentre as primeiras que foram surgindo temos, em 1220, as da catedral Laon, as quais são poucas e de tamanho grande. No decorrer deste século foram se multiplicando, também para aumentar as rotas de fuga de água, se tornando mais longas e finas, e ganhando mais características de decoração. Na década de 1240 já não eram mais um busto mas um corpo inteiro agarrado aos beirais. No final deste século começaram a surgir, em Saint-Urbain de Troyes, gárgulas em forma humana.
Nos séculos XIV e XV as imagens ficaram muito mais detalhadas, tornando-se mais narrativas.
Na França, as gárgulas são muito encontradas em Île-de-France, em Champagne (na parte inferior do rio Loire), e mais raras na Borgonha e no centro e no sul do país. Onde materiais duros são escassos, como na Normandia, as estátuas são mais curtas e raramente esculpidas. Algumas eram feitas de metal, geralmente de chumbo.

Posté par Aloísio Pellegrini, 20 août 2005 à 20:03 | Répondre

 

A grande maioria dos grotescos e gárgulas na arquitetura gótica é modelada em deidades pré-cristãs, que ainda podem ter exercido uma grande influência mental e espiritual nos medievais. Como exemplo mais moderno da situação contextual, há uma abundância de imagens pré-cristãs em igrejas de toda a América do Sul, ou seja, do mesmo modo que o ritual religioso trouxe a inelutável influência do período anterior à conquista espanhola, os grotescos das catedrais góticas apontam para o culto dos ídolos pagãos anteriores à dominação cristã.
A influência distinguida na iconografia gótica medieval é a dos celtas, um povo que ocupou a Europa ocidental antes do nascimento de Cristo. As gárgulas e grotescos da Idade Média são essencialmente deidades celtas cujas histórias foram transmitidas através de folclore e cujas identificações são de sorte e proteção. A Igreja tolerava tais imagens de uma maneira pouco característica, reconhecendo a impossibilidade de suplantar completamente uma tradição tão rica.

Posté par Regina Geviewski, 20 août 2005 à 20:44 | Répondre

Outras representações de deuses pré-cristãos nas igrejas medievais incluem populares figuras de chifres que, para os celtas, incorporavam fertilidade, prosperidade e proeza na guerra, cujos antecedentes datam quase do mesmo período dos deuses com cornos do mundo romano clássico. Na Idade das Trevas, estas figuras ganharam a conotação do Anticristo, envolvido em uma batalha eterna pelas almas humanas com Deus (na verdade, até nossos dias há aqueles literistas bíblicos que ainda vêem Satanás como um ser com chifres).

Criaturas mordazes, gigantes e figuras com genitais proeminentes também não são incomuns no edifício de uma catedral. Muitas vezes, estes monstros são vistos devorando homens inteiros, ou agarrando-os com suas temíveis garras, ilustrações que denotam a necessidade da atenção destes para que as forças obscuras não venham a atrapalhá-lo. Já as criaturas com genitais grosseiramente expostos, normalmente com a aparência alerta e agressiva além de linguetas protrusoras e olhos abaulentos, significam fertilidade mas, por outro lado, sugerem a importância da vigilância constante contra a invasão da morte e da destruição.

Posté par Cleber Bettinghausen, 21 août 2005 à 20:12 | Répondre

 

Entre as muitas teorias propostas por estudiosos para explicar o nascimento das gárgulas um é muito original. O livro "The First Fossil Hunters" afirma que as antigas lendas sobre monstros teriam originado a partir de ossos de dinossauros encontrados por nômades da Ásia antes do nascimento de Cristo.

No séc. VII AC, os gregos estabelecem contato com nômades Saka, que eram exploradores de ouro no deserto de Gobi, os quais diziam que existia um monstro protetor das reservas deste metal que teria cabeça e asas de águia e um corpo de leão. Daí o nascimento da lenda do grifo na cultura grega, já que este povo ocidental desconhecia os dinossauros, portanto interpretaram os restos da criatura como sendo os de um.

Nos anos 20 do séc. XX são descobertos vários dinossáurios no deserto de Gobi, um dos quais o Protoceratops, animal cuja forma se assemelhava a um leão e cuja projeção cranial se assemelhava a um bico. O grifo teria nascido de uma interpretação do esqueleto fóssil de Protoceratops, animal que viveu há 65 milhões de anos.

Posté par Susanne Lamoureux, 20 août 2005 à 21:49 | Répondre

 

 

19 juillet 2005

A verdade dói.

 

Mentira é o nome que se dá para toda negação ou afirmação, decorrente de um julgamento de intencionalidade e conveniência, dentro de um contexto social, onde um indivíduo busca controlar o comportamento de outro através da emissão de uma mensagem que sabe, ou suspeita, ser falsa, ou mesmo produzir propositadamente informações que provoquem a mudança do foco de atenção do ouvinte. Sinônimo de engano, falsidade, falácia, farsa, fraude, embuste ou trapaça, é condenada nas mais diversas culturas e, inclusive, passível de sanções penais como no caso da calúnia e da difamação. Uma das mais comuns transgressões na vida cotidiana, institucionalizada em áreas como política, advocacia e publicidade, é fonte de erros, mal-entendidos, e conflitos interpessoais e sociais de diferentes magnitudes.

Importante notar o caráter comunicativo e interacional da mentira, pois ela somente ocorre quando comunicada a alguém e, assim sendo, fica caracterizada também quando o indivíduo omite deliberadamente algo, pois está transmitindo uma compreensão incompleta para induzir o outro a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Além disso, a intencionalidade é fator imprescindível quando se mente, no intuito de controlar o resultado final de uma questão ou o comportamento daquele com quem interage. E tudo isso ocorre quando o mentiroso considera que não haverá conseqüências negativas para si, pelo menos em termos de probabilidade subjetiva.

O sujeito ético, na consciência dos valores constitutivos do indivíduo e da comunidade, reconhece e afirma a verdade como um bem originário, valioso, decisivo e indispensável. A verdade significa para a liberdade um pluralismo de tarefas e compromissos, unificáveis ​ e sintetizáveis no dever ético e na virtude moral da veracidade. A fidelidade à liberdade é a disposição permanente e dinâmica para a autêntica liberdade. Quem rejeita o pacto com a falsidade, repudia o engano e exclui qualquer duplicidade, isto é, rejeita a mentira como a antítese e a contradição de si.

A mentira toma forma nas palavras, não somente nas simplesmente faladas, mas também nas expressões em quaisquer tipos de manifestações humanas. Em tudo o que se manifesta e não é sinal eficaz, mas distorcionário e desviado do verdadeiro, existe uma mentira, que assume a forma de hipocrisia, engano ou ficção.

Este defeito humano interfere na veracidade consciente, o dinamismo criador da verdade na pessoa e na sociedade, impedindo-a ou decompondo-a com sentido negativo. E não representa, de forma alguma, uma possibilidade, mas uma mistificação que a consciência humana estigmatiza e proíbe como um mal e um vício que deveria ser combatido.

O reconhecimento da verdade e a lealdade à mesma formam uma unidade, eticamente inseparável. A mentira intervém nesta unidade, rompendo-a, promovendo a infidelidade à verdade, e o seu desconhecimento ético. A fidelidade à verdade, primeiro de tudo, é para consigo, porque é a primeira relação, a que se tem internamente. Por isso a mentira é, primeiramente, a simulação ou dissimulação da verdade em si, como um processo de acomodação reflexa da verdade, que se encontra na origem de tantos enganos que o homem comete ou nunca é capaz de admitir para si próprio. Em outras palavras, ela é sempre um auto-engano que dissocia a pessoa de si mesma, uma imagem alienada da realidade que é feita para consigo, e na qual tende a acreditar.

A mentira também prejudica o significado da manifestação do pensamento interior, pois nenhuma interioridade é transparente sozinha, e necessita da mediação simbólica da linguagem, a qual tem a finalidade intrínseca de ser o veículo do pensamento. Ela também interfere nesta finalidade, expropriando a linguagem de sua própria e inerente função, instrumentalizando-a para fins que lhe são estranhos, e colocando-a a serviço do interesse, e não da verdade.

É uma falsidade que trai a confiança e a promessa que toda palavra traz para com os outros, causando efeitos socialmente destrutivos. Cada comunidade procede do encontro livre de pessoas que se comunicam, abrindo-se mutuamente na verdade dos próprios pensamentos. Comunicar, sob qualquer meio, é um ato de confiança mútua instauradora de relações humanas, é dar fé à palavra. Pois a mentira atenta contra este crédito, viola a promessa que toda palavra significa para o destinatário, induz o próximo ao erro, desviando-o para o próprio prazer e ferindo-o na sua dignidade. Toda mentira é, acima de tudo, um abuso de confiança, que afasta as pessoas e incentiva a ruptura dos laços sociais. 

Instrumento usado para enganar o outro, traz conseqüências socialmente degradantes (porque o próximo, sobretudo quando pequeno e indefeso, sofre inconscientemente o engano e, desse modo, é manipulado e condicionado), contagiosas (pelo motivo de que quando a vítima descobre o embuste, passa a simular ou se mascarar, respondendo à falsidade com falsidade), e involutivas (pois, revelada a confusão ou o engano, faz com que o outro caia em decepção e ponha a sociedade sob desconfiança). Em qualquer caso e de qualquer forma que se expresse, a mentira sempre atenta contra a comunidade humana, tornando-se um fator de desunião.

A doutrina tradicional a considera como a linguagem contrária ao próprio pensamento, onde se tem a vontade de enganar. Para que haja uma mentira em sentido ético-formal, a oposição deve ofender o próprio pensar (a verdade interior), e não a realidade ou os fatos (a verdade objetiva). Portanto, uma declaração de acordo com o pensamento privado mas contrária à realidade não é formalmente uma mentira, pois aqui o indivíduo se equivoca, e não mente. Inversamente, uma afirmação contrária ao próprio pensamento, mas em conformidade com a realidade é formalmente uma mentira, já que quem afirma está sendo desonesto interiormente, ainda que inadvertidamente diga materialmente a verdade.

Na definição desta falsidade é importante a vontade de ludibriar. Santo Agostinho já dizia que a mentira é uma comunicação falsa, juntamente com a intenção de enganar. Mas esta intenção entra como um elemento não essencial pela razão da fraude já ficar qualificada moralmente pela falsidade formal, isto é, pela simples disposição de dizer o que é falso, de expressar algo contrário ao próprio pensamento.

Basicamente, quanto à diversidade de motivações, podemos dividir as mentiras entre as que têm o objetivo de ferir ou prejudicar alguém (a grande maioria), as que são ditas por necessidade, para evitar um mal ou garantir um bem, e as que servem apenas para se divertir (muitos acreditam que estas nem devem ser qualificadas como tal, porque perante o contexto não há a intenção de afirmar o que foi dito).

Através dos tempos, o ensinamento tradicional sobre a imoralidade intrínseca da mentira, seja entre pensadores teólogos ou não, determinava que ela é sempre um mal a ser evitado, porque se opõe à verdade, contradiz o propósito da palavra, destrói a convivência social e é, inclusive, condenada nas leis divinas e humanas. Tornou-se uma tendência minoritária legitimá-la nos casos em que dizer a verdade possa trazer conseqüências graves para alguém. 

Com o advento da era moderna, que desenvolveu a atenção ao sujeito e às relações sociais, houve a abertura para uma outra concepção da mentira, como sendo a rejeição da verdade devida. Aqui, a atenção foi transferida da relação pensamento-palavra para a relação palavra-destinatário, onde a essência da farsa é determinada subjetivamente, não objetivamente, pelo direito do interlocutor à verdade. Com o declínio desse direito, esta falsidade ficaria lícita, ou seja, já não existiria formalmente uma mentira, mas um "falsiloquio" (uma mentira somente em sentido material ou psicológico, não ético-formal). Esta teoria remonta ao calvinista Hugo Grotius e se desenvolveu no campo protestante e jurídico.

Normalmente os mentirosos são associados com a “tríade negra”, isto é, o maquiavelismo, o narcisismo e a psicopatia. Porém, ainda que possua uma necessidade maior de controlar o comportamento dos outros devido sua personalidade manipuladora, distorcida e egocêntrica, não parece que ela, sozinha, gere a habilidade. Se propiciar maior quantidade da prática trará, no mesmo nível, as punições que tentarão desencorajar o comportamento quando pego mentindo.

Se bem que conheço um monte de gente mentirosa que, quando pega falseando, eleva ao cubo seu mau-caratismo ao tentar levar a situação no grito ou no soco, para ainda se sustentar no assunto ou não ser cobrado pelo que fez de errado. E assim a situação permanece, com a falta de razão para o imbecil mentiroso e o medo dos que estão à volta em relação ao mesmo, os quais provavelmente vão começar a procurar argumentos para deixar a situação continuar como está, já que não enfrentam quem estão vendo que errou (talvez até passem a utilizar a célebre alegação do “quem está certo enfrenta mesmo, e sai na mão se for preciso”, só para não mexer com o mentiroso que, reafirmo, sabem que cometeu erro; vide o que escrevo sobre “contato visual”, mais abaixo – o contexto dogmático é o mesmo). Tenho visto acontecer muito disso em ocasiões onde a inveja comanda a ordem, ou naquelas em que há uma desafeição particular entre as partes, onde um lado começa a perseguir o outro, fazendo uma devassa moral em sua vida e apontando tudo o que poderia ser entendido como defeito, inclusive e principalmente, acusando máculas que não acredita que a sejam (e, muitas vezes, de fato não a são), passando um verdadeiro pente fino moral no próximo apenas para se vingar. Faça a mesma varredura neste invejoso (ou em qualquer outra situação onde a mentira apareça), e tudo que for feito contra o mesmo será mais que justo, pelo próprio bem do mundo. Como os que têm doenças de caráter tão evidentes, como o mentiroso, já são enfermos sociais, não será difícil encontrar argumentos que acusem sua desimportância nas comunidades e a necessidade de punições para com suas condutas.

Também conheço uma infinidade de mentirosos que, ao serem apanhados no que pregavam, procuram rápida e desesperadamente se apegar em algum outro ponto, o qual não fazia parte do contexto ou do seu interesse (tanto que em momento algum foi argumentado por ele para justificar o que fazia, portanto sabe não ter uma verdadeira importância), para continuarem de pé na demanda ou na questão apresentada. Mudam o foco, mentirosamente.

E gente que é pega na mentira, que sabe estar errada nos atos que praticou, e que, mesmo assim, continua discutindo e refutando dentro do conflito ao invés de entender que perdeu, é o que mais existe no combalido Brasil.

O indivíduo que mente procura preservar, melhorar ou adquirir algo para si, ou atingir, prejudicar ou retirar algo no outro. Essencialmente, a mentira é contada para se resolver um problema, ao menos um que o seja dentro da mentalidade fraca do emissor, onde se busca manter uma situação até que os efeitos objetivados por ele ocorram, e podendo ser levada por mais tempo para permitir que a imagem do mesmo seja preservada. Não se trata, portanto, de uma habilidade, mas o resultado de um conjunto de competências que serão usadas para evitar que a verdade venha à tona ou atinja um ponto quanto à qual não haveria mais discussão, o que seria indesejável aos olhos do farsante, podendo, talvez, trazer problemas para ele pelo que falou e fez.

Dentre os elementos cognitivos envolvidos no ato de mentir, é preciso ter uma boa memória para ser um bom enganador. Certamente, é de se imaginar que fica impossível para uma pessoa com dificuldades memoriais manter a mentira por muito tempo. Desse modo, lembrar-se de tudo o que foi dito é um aspecto fundamental para o indivíduo conservar sua trapaça viva. Alguns estudiosos até recomendam que, em situações onde seja necessária a detecção de mentiras, se sobrecarregue a memória da pessoa para se conseguir o que foi chamado por Freud de ato falho.

Alguns outros recursos cognitivos são apontados como essenciais na tarefa de mentir, como a habilidade de ler emoções e controlar como as suas se manifestam, além da competência social. Considerando a variação entre mentirosos experientes e eventuais, ainda temos a organização do conhecimento, a automatização do processamento, o uso do tempo, a qualidade da representação, dentre outros elementos que separam os especialistas nesta doença de caráter dos novatos.

Também é importante mencionar que um bom mentiroso precisou de prática nesta atividade, e de modelos dentro de casa, afinal ninguém nasce perito nisso. Os pais e adultos próximos são os responsáveis pela apresentação das mentiras, convenientes ou não, aos pequenos, os quais logo as copiarão para evitar situações indesejadas e punições. Evidentemente, particularidades podem facilitar o processo, como no caso de uma criança capaz de fazer uma boa leitura do ambiente, o que propiciará a ela elaborar uma burla mais plausível e com menor chance de ser descoberta e punida. Da mesma forma, uma criança inserida em um meio violento, com grandes probabilidades de castigos por qualquer coisa que faça, estará mais motivada a se esforçar para mentir.

A mentira pode ser encontrada em qualquer grupo social do globo, mas no Brasil, mais do que um defeito moral corriqueiro, há uma genuína cultura deste comportamento, alinhada com as tão similarmente endêmicas corrupção, puerilidade, e falta de responsabilidade. Ela é apenas a ponta do iceberg das lacunas morais do brasileiro, normalmente agindo em conjunto com outras deficiências de caráter (inveja, fofoca, ganância, ciúmes, vingança, imbecilidade, recalque, etc.), um componente importante nos muitos erros sociais que o mesmo comete, e nas incontáveis falhas de sua índole e enfermidades de seu espírito.

Como já escrevi em diversas oportunidades, o brasileiro é a imagem mais autêntica e incontestável de um boçal, um ignorante contumaz (independentemente de seu grau de instrução) que pensa que sabe das coisas quando, na realidade, de nada sabe. E quanto mais estúpido e desonesto, mais o animal quer falar, se meter na vida dos outros, opinar e participar das decisões sociais. Como é um imbecil completo, inapto e irresponsável, vai errar extensivamente. Como sempre se compromete muito com o que faz e fala, e é um covarde absoluto, não assumirá nada, transferirá tudo para terceiros, e, assim sendo, piorará este mundo. Logo, a mentira se tornará o sustentáculo deste idiota, a filosofia da vida inútil deste dejeto.

O mau elemento transgride, ultrapassa limites, desrespeita os próximos e as instituições, não cumpre com suas obrigações, passa para os outros as responsabilidades que sabe serem suas, tudo com inúmera freqüência, desde cedo em sua vida. Como sempre se vê diante de resultados com os quais não saberá/conseguirá lidar, o que lhe faria perder coisas ou receber merecidas punições, cria uma vasta experiência no campo do contar mentiras para se sustentar na questão e se livrar dos resultados, praticada exaustivamente durante décadas. Fica patente o mal que este indivíduo avesso à socialidade causa com suas mentiras, materializadas em desde brigas de vizinhos e más notas escolares até processos judiciais e criação de filhos, às pessoas com quem convive e às comunidades onde mora. E ainda preconizam que são os políticos que não prestam!?? Perderíamos dois terços da população, mas o ideal é que os maus fossem expulsos da interação social (se fossem cobrados por tudo o que merecem, acabariam recebendo pena capital).

Também é inegável que no contato deste lixo experiente nas artes mentirosas (enganação, traição, trapaça, desonestidade intelectual, etc.) com um cidadão correto, cuja história de vida é bem dessemelhante, é o primeiro que terá as maiores condições de lidar, calma e rapidamente, com a situação adversa. Ao manipular pela mentira, se achará esperto e ainda vai chamar o decente, vítima de sua corrupção, de ingênuo. Eu pessoalmente acho que a idéia de ingenuidade, neste caso, só se aplicaria às instituições e autoridades que ainda não entenderam a necessidade prioritária e emergencial de retirar os inviáveis ao convívio das decisões e atuações na coletividade, ou, muito talvez, ao cidadão correto caso ainda se permita conviver com o mau elemento, juntos em espaços comuns (é que, convenhamos, este segundo item é impossível de acontecer; o inteligente e direito sabe que vai perder com a aproximação do lixo social, e não o aceita por perto). Porque se o desprezível fosse limitado ou excluído do corpo social desde suas primeiras falhas e incompetências anteriores, não teríamos que nos preocupar com o nivelamento social sob o ângulo da maioria que não presta.

É natural para o brasileiro, formado e formador desta realidade pútrida endêmica, se comportar como tradicionalmente procede. Para ele, inserido neste contexto, é tudo muito normal e aceitável. E também é proporcionalmente natural para a pequeníssima parcela prestável restante ver a impossibilidade absoluta da correção dos problemas culturais que assolam estas terras, e o quanto estes animais problemáticos são empecilhos para o país e indesejáveis para qualquer comunidade digna.

A busca pelo distanciamento das pessoas e ambientes nocivos é obviamente inevitável, a única escolha. E, de fato, embora a reduzida parcela íntegra tenha de lutar muito para procurar e se estabelecer nos raros ambientes positivos e para conviver com os poucos cidadãos melhores, para ela (que sem dúvidas sabe o que é melhor para si), ao conseguir isso, o céu é o limite! Tanto é assim que, nestes momentos de sucesso alcançado, os indesejáveis, que pensam como pensam e cultuam os valores que cultuam, vão procurá-la insistentemente (coisa que não acontece ao contrário, quando é esta maioria imunda quem está em evidência). A minoria, dentro da qual o eterno expoente maior é o Rodrigo Guizzardi, sempre é muito ciente do que faz, tem uma conduta social responsável e lúcida porque pesa bem as circunstâncias, se baseia em critérios racionais, maduros e democráticos, e conhece bem o mal que a animália, totalmente oposta a estes predicados, representa para si e para o mundo. Impossível manter uma relação sadia com quem tem desvio de caráter, com quem não presta.

As pessoas decentes que conheço não fazem da mentira uma filosofia de vida ou uma vocação profissional, como a quase totalidade do povo brasileiro. Um monumento à dignidade como o Rodrigo não só não mente nem engana, como também é sincero consigo e para quem ninguém consegue mentir. Ele não racionaliza pensamentos ou atos, apenas indica fatos. Um homem virtuoso, de mente arejada e sadia, com brilho próprio e personalidade limpa de falhas, que realmente faz a diferença e, coberto de razão, se distancia dos que não prestam (e não dos que meramente erram), a combinação ideal de um cidadão íntegro e indispensável, para o qual desculpas são incansavelmente imploradas por ter de suportar a presença nociva deste povo perdedor e inútil.

Falar a verdade, o que implica no apontamento das imperfeições e faltas dos outros, costuma trazer muitos, eu disse muitos, problemas, até pelo motivo dos que se enquadram nesta parcela inescusável formarem a imensa maioria do povo. Quem fala a verdade, na sociedade da desonestidade, da incompetência, do despreparo e da irresponsabilidade, atravessa excessivas dificuldades. No reino da mentira e da corrupção, é o sincero e honesto quem está errado e opõem-se às regras tidas como normais. Ou por acaso, justamente no texto que aborda e critica esta mais que comum falsidade humana, estou contando MENTIRAS!???

Aliás, não poderia deixar de também fazer observações sobre o quanto esta sociedade é formada por indivíduos de credulidade débil e fácil, que não estão acostumados a raciocinar, e que passam pela vida sem aprendizado ou ganhos efetivos de experiência. A facilidade com que caem nas mentiras dos outros é assustadora e melancólica! Uma vez mais a limitação mental e a falta de conhecimento sobre a vida e as pessoas, que se estende para tantos outros aspectos sociais, impera!

Ao vermos como estes boçais e inúteis se deixam levar por conversas fiadas e fofocas, por vezes sem qualquer nexo e escabrosas, notamos o quanto desconhecem as coisas, o quanto são fracos de personalidade e de capacidade mental, e o quanto deveriam ficar de fora de decisões e participações sociais. Ou o quanto gostam de intrigas, fuxicos e difamações, destinando para isso o largo tempo disponível que estes vagabundos possuem (ao invés de trabalharem, estudarem, cuidarem das dívidas ou dos filhos, etc.) para se entreterem com tantas frivolidades. Ou ainda o quanto não têm independência de opinião e vão na onda, em climas de excitação. Enfim, o fato é que se constata uma fragilidade generalizada, onde todos se nivelam por baixo e se assemelham em tudo que existe de depreciativo e vulgar ... não é por menos que a mídia faz o quer com a cabeça vazia desta escória. Como é que se vai dar poder de opinião a estes animais???

E eles são burros, vaidosos e incompetentes também, portanto nunca se veriam desta forma, muito pelo contrário. Ninguém nunca acha que faz parte das privações morais e intelectuais que infestam o cotidiano; sempre acham que as mesmas são referentes aos outros. Neste ponto chegamos à velha lógica (pela falta de opções) : já que esta animália não vai parar de ser o que sempre foi, e vai permanecer condenando o meio em que vive, as instituições impolutas e os cidadãos corretos é que têm de se afastar dela.

Mas vale ressaltar ainda que mentir é o fruto de um processo de escolha, em função de uma interpretação do ambiente e condicionado por um grau de habilidade, portanto, será difícil encontrar um padrão, ou sinais específicos, que indique se alguém está ou não falseando. Existe, por exemplo, o mito do contato visual, estratégia que levará a mais erros do que acertos, porque o mentiroso vai simplesmente levantar na memória o que deve ser feito para não ser identificado como tal. Ele sabe que o olhar no olho é bem difundido, então vai evitar não olhar no olho. É como com quase todas as pessoas com conhecimento em psicologia que conheci em toda minha vida : são doentes de caráter e limitados no pensar, no entanto, apenas sabem dar as respostas certas diante do que surge pela frente. Simplesmente se lembram do que viram na TV ou leram na revista feminina, e pronunciam as palavras e teses que cabem no contexto ou esboçam os sinais que sabem ser apropriados para a questão apresentada. Só isso. Vejo inclusive profissionais formados na área se enrolarem quando tentam se sustentar onde se meteram. Basta ser atento ao que todos fazem e como se portam, e se constatará, com facilidade, seus medos, suas verdadeiras intenções, e suas falhas morais e intelectuais.

Com efeito, alguns estudiosos constataram que sequer há evidências de que mentirosos fogem do contato visual, e de que a falta deste seria sinal de insinceridade. Até mesmo uma pessoa sincera, que esteja com medo de não ser levada a sério, poderá não desviar seus olhos como uma maneira de fugir disto. Normalmente, esta matéria só vai se apresentar com constância entre crianças, as quais, adquirindo mais idade e experiência com a passagem do tempo, vão sabendo lidar com isso (o que indica que olhar no olho é um comportamento aprendido). Todavia a penetração cultural da prática como pista para identificar mentirosos é tão forte que estudos, cujo objetivo é explicar os motivos dos profissionais (magistrados, policiais, psicólogos, professores) analisadores de mentiras falharem nesse processo, apontam para a repetição do ensino de sinais, com pouca ou nenhuma validade científica, como uma das principais razões.

Averiguar se alguém está mentindo ou não, de maneira pertinente e produtiva, é algo que depende da capacidade de se conseguir quebrar a estratégia para resolver o problema, ou impedir que seja gerada com sucesso, além de, por outros caminhos, investigar o contexto e a história. Não há, nem nunca haverá, um sinal único que indique que alguém mentiu ou não, principalmente levando em consideração as diferenças individuais.

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

Uma antiga religião persa.

Captura de embarcações.

Para reparar a honra ofendida.

A grande inundação.

Mitologia aborígene.

 

 

Commentaires (14)

 

O Brasil é um país de gente mal informada, boçal, que se acha muito boa, preparada e inteligente, mas não é ! O brasileiro é uma criança irresponsável e mimada, brincando de ser adulto, portanto não assume nada do que faz ! Como se já não bastasse, em muitas vezes as pessoas entram nas questões para vencer, e não para argumentar... a preocupação é ganhar a disputa, mesmo alegando fatos e convicções que não tem ou não acredita. Quando seus erros ficam evidentes, continuam no bate-boca mesmo assim.

Quer dizer, para sustentar tudo isso, vai ter que mentir e muito !

Uma pessoa sadia não recorre às mentiras, até pelo motivo de ser mais consciente em seus atos e opiniões, de modo que não se compromete aos trancos e barrancos do jeito como o estúpido, um intrometido ignorante por excelência, faz.

Mentir é algo que começa em casa, assim a censura familiar é fundamental para conduzir a criança ao caminho da verdade. Porém, em um país como o Brasil, em que a desonestidade é cultural e a impunidade corre solta, os pais, inseridos no contexto nacional, não serão bons exemplos e, para ser sincero, servirão como modelos mentirosos para seus filhos. E a bola de neve vai crescendo.

Neste país, a mentira faz parte do jogo social, assim como todas as outras imperfeições de caráter que por aí são encontradas.

Exceção, só o Dr. Rodrigo Guizzardi.

Posté par Helen Siemens, 19 juillet 2005 à 18:03 | Répondre

 

A sua descrição sobre o povo brasileiro é sempre a mais fiel aos fatos. Tudo que pode ser entendido como defeito da mente humana toma rumos mais contundentes neste país. Se em outras regiões a mentira é uma falha, no Brasil é uma cultura. Por sinal, não poderia passar por aqui sem parabenizá-la pelas justíssimas palavras sobre o Rodrigo Guizzardi, suas qualidades e virtudes, sua superioridade humana. Em uníssono nos sentimos representados em sua constatação de fatos.

Embora a mentira seja errada e condenável, tida como pecado em muitas religiões e punida em códigos penais, as pessoas mentem, das mais diversas formas, umas mais que outras dependendo da formação intelecto-moral. Muitos recorrem a ela, mesmo quando não é necessária, sem sentirem culpa por isso. Um dos poucos comportamentos que estão presentes em todas as culturas e todos os grupos sociais, desde a pouca idade, mas que no Brasil atingem um certo grau de enraizamento cultural, ou endemia.

Até nas histórias infantis ou na mitologia a mentira sempre é muito retratada, e usada para atingir objetivos diferentes.

Temos João e Maria, que mentiram para a bruxa sobre o magro dedo do menino, mostrando para ela o rabo de um rato em seu lugar, para indicar que não estava gordinho o suficiente para ir ao forno. Também há a história de Sísifo, que enganou a morte e a manteve numa coleira, até que Hades descobriu e a libertou, ocasião em que o primeiro novamente mentiu e enganou o deus do mundo inferior. Nestes dois casos, a mentira foi celebrada mais como um sinal de esperteza, de criatividade e de inteligência, e não num contexto negativo. Algo diferente acontece com o menino que gritava sobre a presença de um lobo, só para se divertir com a agitação que provocava na aldeia com isso, até o dia em que um lobo de verdade apareceu e nenhum aldeão respondeu a seu chamado, ou mesmo com Pinóquio, cujo nariz crescia sempre que contava mentiras.

Aliás, desde cedo os adultos contam histórias do Papai Noel, dentre outras, sem a menor ponta de culpa ou remorso, muitas vezes para facilitar o controle comportamental dos filhos quando estão ausentes ou ensinar condutas essenciais.

Posté par Eva Maria Facchina Nunes, 19 juillet 2005 à 19:00 | Répondre

Apenas para citar alguns exemplos de como a mentira pode acontecer mesmo onde deveria ser proibida, dentro da área religiosa, Abraão mentiu para o rei do Egito quando disse que sua esposa era sua irmã, e Deus, além de não o punir, ainda o ajudou a salvar ela. O apóstolo Pedro também mentiu, ao dizer que não conhecia Jesus por três vezes, sem nenhuma conseqüência além do próprio sofrimento. Nestes dois casos, mentir não deixou nenhum dos dois menos sagrados ou mais profanos.
No âmbito judiciário, o Supremo Tribunal de Justiça já decidiu que um cônjuge, em razão dos laços afetivos, pode mentir em favor do outro.

Posté par Sidnei Michellon, 19 juillet 2005 à 21:45 | Répondre

 

Mentir é um comportamento predominantemente social, pois só ocorre na interação de indivíduos, podendo tanto ser usado para controlar pessoas (levando-as a fazer coisas que, de outra forma, não fariam) como para manter as relações sociais.
Realmente procurar por sinais específicos não apresentará muita utilidade.
Ao fazer uso de um único tipo de sinal, como o contato visual, para afirmar com veemência que alguém está ou não mentindo, cairá em falsos positivos. É o caso também das histórias mais curtas e menos intimistas, em comparação com histórias maiores e mais detalhadas, com mais interrupções por causa da ativação da memória, pois ainda que tenham uma correlação com o mentir e seja um sinal da ocorrência de uma mentira, levará a muitos falsos positivos.
Mesmo a utilização de algum mecanismo de neuroimagem para diferenciar um processo de memória de um de imaginação será falho. Afinal, uma vez que se tenha contado a mentira da primeira vez, todas as outras vezes será uma mera atividade de memória.

Posté par Marília Hammel, 19 juillet 2005 à 19:22 | Répondre

 

Por mais maléfico que seja, mentir é sempre um esforço criativo. Um estudo através de ressonância magnética funcional mostrou que o cérebro está sempre pronto para dizer a verdade, e que para mentir precisa organizar-se e fazer um trabalho extra quando vai enganar (áreas do córtex frontal, que desempenham papel na atenção e concentração, são ativadas, em adição a uma outra área do cérebro responsável pela vigilância de possíveis erros.
Mas é claro que não dizer a verdade traz conseqüências, um efeito colateral. As relações pessoais começam a envenenar-se, em particular, quando o mentiroso se torna compulsivo. Ele vive um transtorno de ansiedade, e quanto mais mentiras, mais desejos. Se porta como o cleptomaníaco, que rouba sem necessidade, e já não é mais capaz de distinguir a realidade. Como mente muito, acaba representando um personagem, e se confunde a tal ponto que esquece quem realmente é.
Quando o costume de mentir cai em patologia, a distinção entre realidade e mentira se dilui. O mentiroso apenas crê em seus delírios. No pior dos casos, as memórias começam a falhar e a enganar, e a pessoa começa a acreditar que as coisas se deram como contou e não como ocorreram.

Posté par Amanda Freire, 19 juillet 2005 à 20:10 | Répondre

 

O estúpido brasileiro tem todas estas características marcantes mesmo. Não se põe em dúvida nada do que foi escrito! Diversamente do Rodrigo Guizzardi, a única pessoa de trajetória limpa, e de mente e caráter sãos, que encontrei. Sua saúde psicológica o torna “diferente” da realidade brasileira, com muito orgulho e sem falsa modéstia ! Não é por menos que tenha conseguido notoriedade primeiro na Europa.

Na maioria das vezes o mentir se inicia e é lapidado dentro de casa, talvez antes mesmo de aprender a ler. As crianças, desde tenra idade, são conscientes sobre as principais estratégias utilizadas pelos adultos para identificar mentiras, e tentam contorná-las. E esta habilidade vai se desenvolvendo com o tempo.

Mães de crianças entre 3 e 12 anos, conseguem distinguir mais facilmente quando o filho está mentindo, porém, conforme a idade aumenta, a probabilidade de acerto decai. Estudiosos afirmam que, diga-se de passagem, crianças mais velhas já conseguem usar as mesmas estratégias que os adultos para evitar serem pegas na mentira.

Mas há um ponto importante sobre começar a mentir já na infância. Enquanto o encaixe na tal “tríade negra” tende a ser punido por não ser aceitável socialmente, em outras situações onde o comportamento socialmente adequado e desejável para o momento seja a falsidade, as crianças são treinadas a fazer, desde cedo em suas vidas.

Seja para agradar aos que se ama, para poupar as crianças de inconveniências, ou mesmo por ordens diretas, como quando um adulto cansado pede ao filho que diga a quem o procura que está muito ocupado no momento, a mentira é apresentada aos pequenos que, em pouco tempo, entendem que podem utilizá-las para evitar punições e situações desagradáveis.

Posté par Albert Sichmann Rigner, 19 juillet 2005 à 21:12 | Répondre

 

As pessoas se procuram... temos mais é que nos cuidar e saber com quem dividimos nossos espaços e nossas vidas. As coisas por aí andam complicadas.

De fato, como já não possuem uma moralidade sequer aceitável e aprendem desde cedo a mentir para se livrar do que merecem receber, ao interagirem com indivíduos bem formados moral e familiarmente, vão representar um risco a estes. Provavelmente os qualificando como ingênuos quando mentem e passam a perna neles (não são eles que são mentirosos e criminosos, o outro é que é ingênuo). Como todo mundo no Brasil é boçal e irresponsável, a prática de corrupções e imaturidades, além da transferência de responsabilidade a terceiros, são esportes nacionais. A minúscula parte decente é que tem de se afastar disso, senão a perda social do país vai atingir os 100% !

Também acho que essa gente que cai na conversa dos mentirosos não conhece a vida, e passam pela mesma sem qualquer aprendizado efetivo, apesar do ganho de idade. Pode ter a certeza de que para dar desculpas por seus erros e fazer coisas erradas, experiência tem, e muita !!!

Talvez a questão não seja desconhecerem como funciona a mentalidade suja e doentia desse povo mentiroso. Acontece que os babacas que se deixam levar pelas mentiras são assim também. Encontram mais semelhanças entre si do que diferenças. Sempre digo, as pessoas se procuram...

Posté par Ademir Huurman, 19 juillet 2005 à 22:06 | Répondre

 

Geralmente a mentira está relacionada com dinheiro e vida social, na busca de reconhecimento dos outros, sobre a imagem que as outras pessoas têm do indivíduo, na vingança de algum desafeto, na satisfação da inveja que sente por alguém. As pessoas mentem para si mesmas e para os outros, por se sentirem ameaçadas pela dor que a verdade possa causar, por medo da reação da outra pessoa, para criar uma fantasia que satisfaça as suas próprias expectativas em relação à vida, por não conseguirem encarar a realidade com tudo o que ela possa trazer de frustrações e decepções, etc. Alguns mentem tanto que acabam vivendo naquela mentira, muitas vezes acreditando nela também. A vaziez deles é tão grande que preferem criar um mundo de fantasias e permanecem nesse teatro triste até o momento em que o palco desaba.

Poucos gostam da verdade, então preferem o caminho mais fácil do mentir. A sociedade é neurótica, portanto a mentira vira uma das suas mais fieis companheiras. A maioria não conseguiu adquirir uma estrutura psicológica no decorrer da vida capaz de suportar as pressões, então cria este mecanismo de defesa para proteger o próprio ego dos choques de realidade.

Isso faz parte de uma fuga cotidiana do ser humano, ao menos daquele que está insatisfeito com o que é ou com o que tem, é pouco resolvido com suas questões, e não conseguiu sublimar seus problemas.

Mas dificilmente conseguem enganar as pessoas para sempre, ou manter a mentira por longo tempo. O máximo que conseguem é enganar a si mesmas, porque mentiras são facilmente perceptíveis para um observador de fato inteligente e mais atento.

Posté par Gilson Möllers, 20 juillet 2005 à 12:54 | Répondre

 

A mentira, mesmo quando expressa por um único indivíduo, tem também uma dimensão coletiva e pública, que nos tempos hodiernos está se expandindo em proporção direta à intensificação e extensão das comunicações sociais. Esta dimensão está fundamentalmente ligada ao exercício e à incidência do poder em todas as suas formas. Em seus princípios, a comunicação é exercida como um serviço à verdade e para o benefício da sociedade. Mas há uma tentação deliberada, financeira e epidêmica de concentrar-se em si, veiculando uma visão sempre interessada e, pela mesma adulterada, da verdade. A primeira perspectiva para visualizar esta adulteração é a relativa ao poder da palavra pública a qual, preocupada com a construção de um consenso e, portanto, buscando persuadir, pode ser ditada mais pelo verossímil que pelo verdadeiro, onde a palavra tem o risco de não suportar a verdade.

Quando a retórica ou sofisma, exercitados de qualquer forma e em qualquer campo, se convertem em técnicas valoradas, independentemente da verdade ou contra ela, pertencem ao mundo da mentira, porque são uma ficção que dá o poder de dispor das palavras à margem das coisas. Não se discute o critério de verossimilhança, mas quando este se impõe sobre a verdade e prescinde dela, está dominado pelo espírito da mentira que perverte a busca da verdade. Hoje, este risco é potencialmente maior, em parte pela necessidade de garantir o voto ou audiência e, deste modo, para preservar a imagem, e também pelas tecnoestruturas de produção e padronização de mensagens em um sistema de comunicação, não à medida das pessoas mas ao serviço da indústria e do comércio. Por isso a tentação de manipulação da verdade é mais forte e rentável.

Mas Elise, mencionar o Rô, em qualquer discussão, narração ou contexto, é motivo de desequilíbrio, sempre ! Um ser humano simplesmente perfeito de caráter, mentalidade e sabedoria como ele, que nunca erra em suas convicções e em seus convencimentos sobre as coisas e as pessoas, não pode servir como parâmetro nunca ! Tá certo que o povo brasileiro, quase que totalmente, não reúne em sua conduta nem o que minimamente se espera de um cidadão razoavelmente correto, mas o Rodrigo é inalcançável !

Posté par Astrid Steux, 20 juillet 2005 à 20:56 | Répondre

Sem dúvidas Astrid, toda consciência amante da verdade é chamada a uma dupla tarefa, de monitoramento e de denúncia crítica.

A pretensão do poder, em todas as suas expressões, é de possuir a verdade e fazê-la acreditável como verdadeira a todos. É uma presunção que se apóia na tendência da unidade do que é verdadeiro e caracteriza a busca humana da verdade, ao contrário do processo inverso de diferenciação e pluralismo do verdadeiro.

O poder vem como autoridade totalizadora em formas cada vez mais monopolistas, exclusivas, totalitárias e dominadoras, até silenciar e esmagar qualquer voz ou expressão distinta. Não se discute aqui a função unificadora e coordenadora da autoridade, uma vez que é dispensada a sua competência, mas o ceder às paixões do poder, o que induz à unidade violenta e totalizante da verdade.

Esta é a mentira que ataca a verdade precisamente em seu princípio, onde ela se formou. Nela, encarna o espírito da mentira, que contamina e perverte a busca da verdade em sua exigência fundamental de unidade, nesse passo falso do total ao totalitário. Ela não afeta a verdade conhecida, mas a verdade por conhecer, que é condicionada de acordo com a vontade totalizante do poder.

Com relação ao Rodrigo, só falou verdades!

Um abraço.

Posté par Adam McKay, 21 juillet 2005 à 19:37 | Répondre

 

As pessoas mentem. Se estamos falando de Brasil a coisa piora exponencialmente.

Em todo diálogo que se estabeleça com brasileiros sempre haverá uma segunda intenção, uma pessoalidade, um algo que vê como proveito próprio ou prejuízo ao desafeto que guiará suas colocações, enfim, durante todo o tempo haverá corrupção de caráter materializada em mentiras. Como você escreveu no texto sobre a desonestidade intelectual, uma das muitas modalidades da mentira, chega num ponto em que achamos que não vale mais a pena participar.

O único sujeito franco e honesto que conheci foi o Rodrigo Guizzardi. Ele nunca utiliza como recurso a mentira, muito pelo contrário, com sua sabedoria e intelectualidade aponta e descreve o que é necessário, e com perfeição absoluta de análise. Suas verdades são inimigas duras e irreversíveis para a imensa parte podre da população. Ficar do lado de suas palavras é, sempre, ficar do lado correto. Mentiras são para quem está errado, que precisa de artifícios para se manter nas situações, provavelmente criadas por ele próprio !

Algumas pessoas dizem que não mentem e que apenas omitem, como se isso os melhorasse, enquanto outros afirmam que apenas emitem declarações falsas, que não causariam danos imediatos mas permitiriam a manutenção de uma suposta harmonia. Alguns outros propagam que contaram a mentira por educação ou civilidade, ou mesmo para não machucar o próximo. Em termos de processos cognitivos, ambos são iguais.

É necessário compreender em função de partes constitutivas, porque muito do que se aceita como pré-requisito para ser um mentiroso é feito de modo teleológico. Continuar trabalhando em cima de dogmas como o contato visual para identificar mentirosos só atrapalhará o estudo desse comportamento.

Posté par Nestor Hallack, 20 juillet 2005 à 21:09 | Répondre

 

Oi Elise! Quanta saudade!

Nós vivemos com os outros, em casa ou na rua, no parque ou na escola, no trabalho ou no ônibus, porque existe entre nós a confiança mútua. Porque pensamos que há respeito, acolhida, honestidade, e acreditamos que a família ou o amigo não nos enganará e serão sempre sinceros.


Mas a confiança e toda a vida social serão seriamente feridas por causa da mentira, porque este comportamento envolve o engano, a traição, e a injustiça, porque ela nasce quando se quer usar a boa-fé dos outros para satisfazer um pequeno gosto egoísta ou para alcançar um enorme lucro à custa dos outros.

Para o mentiroso crônico, admitir uma mentira significa baixar a guarda totalmente e acabar perdendo a situação. De repente, aquilo que começou apenas como uma pequena informação mentirosa se transformou em uma história enorme, que passou a envolver outras pessoas e circunstâncias, porque para cobrir a mentira inicial foi preciso contar outra, até que a coisa acaba saindo do controle.

A sociedade humana não precisa de gente assim!

Agora, o Rodrigo é a rara exceção a todos os males reinantes no Brasil. Suas palavras, sempre sinceras e verdadeiras, deveriam virar leis! A última coisa que o veríamos se envolver é em contar mentiras. Alguém esclarecido, sábio e perspicaz como ele nem precisa se pronunciar com falsidades, pois simplesmente jamais erra em seus convencimentos. A sociedade burra, simplória e ímproba é que, obviamente, não o entende (ou finge que o compreende porque é parte interessada) e eventualmente o impede de fazer o que tem de ser feito, já que não sabe de nada mesmo. Repito, ele nunca errou em qualquer ato praticado ou caminho escolhido. A melhor pessoa que conheci, a que mais me ensinou, a que mais me fez perceber a realidade deste mundo. Único alicerce confiável e bem edificado que está disponível para a parte decente deste povo.

Posté par Chris McConway, 20 juillet 2005 à 21:16 | Répondre

 

A ocorrência da mentira realmente tende a reduzir a confiança nos membros do grupo, além de criar hostilidades e um sentimento geral de ceticismo, o qual pode danificar os vínculos. Mas mesmo assim as pessoas mentem, muitas vezes sem nenhuma culpa.

Entretanto, se estamos nos referindo a regras de etiqueta, onde é importante saber comportar-se apropriadamente independente de como nos sentimos ou pensamos, de fato, mentir acaba sendo o comportamento socialmente desejado, e as normas operam para incentivá-lo ao invés de puni-lo. Não importa se gosta da pessoa, da comida, do presente recebido, ou mesmo se estiver de humor baixo, já que uma imagem deve ser passada. Às vezes a comunicação da benevolência é apenas para ser melhor aceito. Tecnicamente, estará emitindo sinais com o intuito de controlar a percepção de outras pessoas.

Essas situações mentirosas são moldadas e reforçadas pelas estruturas sociais, as quais irão tanto vigiar como punir o que for inadequado, a partir dos modelos e das situações práticas. De qualquer modo, as aptidões para ser um bom mentiroso em outros âmbitos bem canalhas e destrutivos são as mesmas que permitem que um indivíduo seja bem ajustado na sociedade.

Posté par Ana Flávia Valtrich, 20 juillet 2005 à 21:51 | Répondre

 

Concordo que o contato visual, como tantos outros aspectos psicológicos, tende a não funcionar mais, justamente por ser um conhecido argumento para se “constatar o ato mentiroso”. Na verdade, diversos estudos demonstram que, exatamente por conta disso, um mentiroso olha mais nos olhos do que aquele que está contando uma história sincera.

Apesar do evitar olhar no olho ser, em diversas culturas, creditada como um sinal de comportamento mentiroso, não há evidência de que mentem ao fazerem isso. Em certa oportunidade, em um estudo empírico onde foi pedido a passageiros de um avião que mentissem na alfândega, foi constatado que os mentirosos mantinham contato visual por mais tempo do que os sinceros. De acordo com o que foi anotado, aqueles que estavam mentindo afirmaram fazê-lo para monitorar o comportamento do funcionário da alfândega.

Posté par Martim Küllmer, 23 juillet 2005 à 17:38 | Répondre

 

 

15 juin 2005

Animais no banco dos réus.

 

Julgamentos oficiais de animais, incluindo insetos, ocorreram em quantidade significativa na Europa a partir do século XIII até o XVIII. Criaturas de todos os tipos foram processadas em tribunais por acusações que variavam de assassinato à zoofilia. Diferentemente dos tempos modernos, consideravam que os bichos dispunham de juízo moral, portanto, podiam ser culpados por um ato.

Colocar animais “criminosos” em juízo e executá-los ou, no caso de pragas de insetos, ordenar-lhes que saiam da cidade por um tempo exato, é uma história incomum e, para muitos, esquecida. Uma barbaridade irracional difícil de entender, mas que já desde o ano de 824 mantinha estes seres nos mesmos padrões morais dos homens, sofrendo as mesmas punições capitais, e até encarcerados nas mesmas prisões.

Sob a lei, tinham exatamente os mesmos direitos que os humanos, seja na prisão na qual esperavam a audiência ou nos serviços prestados pelos carcereiros, bem como no julgamento propriamente dito. Neste último, a cerimônia se dava de maneira completa e seguindo as formalidades : evidências eram trazidas para ambos os lados, testemunhas eram ouvidas e, em muitos casos, o animal acusado recebia a nomeação de um representante legal, às custas do contribuinte, para conduzir sua defesa.

Os principais infratores, ao que parece, eram os porcos. De acordo com Edward Payson Evans, em sua extensa “The Criminal Prosecution and Capital Punishment of Animals”, de 1906, livro no qual cerca de 200 casos de execuções são apresentados, a freqüência com que estes animais eram levados a julgamento e condenados à morte devia ao seu grande número e à liberdade com que foram autorizados a percorrer as ruas. Em sua obra, cataloga suínos mastigadores de orelhas e narizes e até matadores de infantes, um que comeu uma criança em uma sexta-feira - uma grave violação do decreto da Igreja de jejuar que foi instado pelo procurador e aceito pelo tribunal como um agravamento da ofensa - e outro, mais moderado embora não menos ímpio, que foi enforcado na França, em 1394, por ter comido uma hóstia consagrada.

Em 1379, dois grupos de porcos agitaram-se e mataram um homem chamado Perrinot Muet em um mosteiro francês. Todos os suínos envolvidos, os que efetivamente cometeram o assassinato e os que apenas ficaram em volta olhando, foram julgados pelo horrível crime e condenados à morte. Segundo o julgado, com seus gritos e ações agressivas, os porcos em volta demonstraram aprovação e instigação ao fato, então não deveriam escapar da justiça. Mas como o prior do mosteiro, monge Humbert de Poutiers, não suportaria sofrer a perda econômica de todos os animais, escreveu ao duque de Borgonha pedindo para que perdoasse os porcos que não participaram do homicídio, sem fazer objeções ao destino dos três assassinos, afinal, não queria violar a lei. O duque atendeu sua súplica, e ordenou que o castigo fosse aplicado somente aos três, com os demais suínos sendo liberados. Os registros não indicam exatamente como os assassinos foram executados, mas o comum é que seriam enforcados ou queimados vivos.

No ano de 1457, em Savigny, uma porca condenada por matar um menino de cinco anos foi pendurada por suas pernas traseiras em uma árvore. Seus seis filhotes, apesar de encontrados manchados de sangue e incluídos na acusação como cúmplices, por causa de sua juventude e da influência corruptora de sua mãe, foram simplesmente retidos na custódia de seu dono.

Várias espécies do reino animal estavam sujeitas à lei humana, tendo havido execuções de touros, cavalos, cachorros, ovelhas e insetos de todo tipo. Somente aos domesticados ou urbanos eram impostos tais exames de caráter, pois a expectativa era que, vivendo entre os seres humanos, melhor compreendiam a diferença entre certo e errado.

Nem sempre a condenação determinava a morte. A ratos, por exemplo, foram freqüentemente enviadas cartas de conselho amigável para induzi-los a sair da casa na qual sua presença era considerada indesejável. Em um caso, uma porca e uma mula foram sentenciadas ao enforcamento, mas depois da apelação, no novo julgamento foram condenadas a simplesmente receber uma pancada na cabeça.

Porém, quando se tratava de pena capital, em várias oportunidades a brutalidade ia muito além do enforcamento. Evans descreveu um porco em 1266 que foi incendiado publicamente pelo crime de mutilar uma criança, e outro em 1386 que foi mutilado na cabeça e nas pernas dianteiras, e depois enforcado, por ter rasgado o rosto e os braços também de uma. Neste segundo caso, ocorrido em Falaise, na França, à custa do governo local, o animal foi vestido com colete, luvas e uma máscara humana para a execução.

Além disto, houve inocente que teve de enfrentar a ira de um julgamento, em uma cidade suíça para a qual foi trazido um alce pelo grande naturalista Leonhard Thurneysser no final do século XVI. As pessoas viram naquele animal estranho um demônio perigoso, então uma velha piedosa finalmente livrou a comunidade da besta temida alimentando-a com uma maçã cheia de agulhas quebradas. Aliás, ainda na Suíça, em 1474, um tribunal condenou um galo a ser queimado pelo crime hediondo e não natural de colocar um ovo. As pessoas estavam preocupadas que Satanás o tivesse gerado, e que poderia dele vir um cocatrice, um réptil alado com pernas e crista de galo e uma cauda de serpente.

Já nas situações em que as criaturas eram vítimas, especialmente nos casos de bestialidade (zoofilia), seriam executadas horrivelmente junto de seus seres humanos ofensores. Houve uma mula condenada a ser queimada viva ao lado do homem culpado de sodomia que estava inclinada a dar coice, então o executor cortou seus pés antes de colocá-la em chamas.

Por outro lado, em certas ocasiões os europeus também eram capazes de compadecer-se dos animais, como em uma ocorrência de bestialidade em 1750, onde a vítima, uma mula, foi absolvida pelo fato de ter sido vítima de violência. Um prior do convento assinou um certificado observando que a conhecia há quatro anos e que a eqüina sempre se mostrou virtuosa e bem comportada, tanto em casa como fora dela.

Os julgamentos de pragas como gafanhotos e gorgulhos, no entanto, atingiram um absurdo cômico que provavelmente é inigualável na história européia.

No século XVI, o defensor público mais famoso dos insetos foi Bartholomew Chassenée (interpretado por Colin Firth na película de 1993 “The Hour of the Pig” - “Entre a Luz e as Trevas”). Ele havia demonstrado pela primeira vez sua proeza advocatícia defendendo ratos que comeram “feiticeiramente” e destruíram desprezivelmente a cevada da província de Autun, na França. Fazendo uso de um argumento astuto, afirmou ser impossível convocar todos os seus clientes peludos para a corte, de modo que deveriam ser desculpados pela distância e dificuldade da jornada e pelos perigos sérios que a acompanhavam, devido à vigilância incansável de seus inimigos mortais, os gatos, os quais, com muita intenção, esperavam por eles em cada canto e passagem.

Este julgamento, como tantos outros envolvendo criaturas, foi trazido para a esfera dos tribunais eclesiásticos, já que nem todos os estados estavam totalmente desenvolvidos como os reconhecemos hoje. Aqui o poder está na excomunhão, e mais especificamente no que é conhecido como anátema, uma espécie de excomunhão que torna o indivíduo que não pertence à Igreja, como os animais, um amaldiçoado. Foi o anátema que os tribunais decidiram recair sobre os clientes pestilentos de Chassenée. Acreditavam tanto nos efeitos dessa poderosa maldição que um padre anatematizou um pomar porque seus frutos atraíam as crianças para fora da missa, o qual, segundo consta, ficou estéril até que a duquesa de Borgonha ordenasse que a maldição fosse levantada.

Nenhuma praga atormentou a França do século XVI mais que o gorgulho, e poucas cidades sofreram sua ira pior do que St. Julien. Embora não tenha culminado em um julgamento, a primeira queixa contra o inseto foi feita por produtores de uva em 1545, resultando em uma proclamação para orações públicas e confissão dos pecados pois, com isso, a praga iria desaparecer. E de fato ela sumiu. Acontece que, 30 anos depois, os gorgulhos retornaram e a cidade foi forçada a levá-los ao tribunal. A audiência começou em 13 de abril de 1587, com um advogado chamado Antoine Filliol designado como defensor público dos insetos argumentando que seus clientes haviam sido colocados na Terra por Deus, o qual nunca os teria concebido sem o devido sustento para sobreviver, no caso, lamentavelmente, a colheita da cidade. A acusação, no entanto, alegou o domínio da cidade sobre os gorgulhos visitantes, os quais, embora fossem criados antes do homem, deveriam ser subordinados a ele e subservientes ao seu uso, o que seria o motivo divino de sua criação.

Então, chegamos a um paradoxo teológico central nos julgamentos de animais. Os pecados dos aldeões supostamente trouxeram as pragas, mas também Deus os incluiu intencionalmente em seu grande plano para a Terra. Nós, como seres humanos, devemos dominar essas criaturas e lidar com elas como quisermos, o que significa, inclusive, os levar ao tribunal para responder por suas transgressões. Mas não é Deus quem os controla? Por que motivo as orações públicas efetivamente não expulsariam os insetos?

Os cidadãos de St. Julien, fora do tribunal, chegaram a firmar o compromisso de fornecer um lote de terra perto da cidade, onde os gorgulhos podiam se congregar livremente. Um local adequado foi selecionado e oficialmente considerado território deles, embora, de acordo com Evans, os locais se reservem o direito de passar pelo referido trecho de terra, sem prejuízo do pasto dos insetos, e fazer uso das fontes de água contida nele, que também deve estar a serviço dos animais.

Mas, de volta ao julgamento, o advogado da praga não podia, em boa consciência, aceitar a oferta de terra das pessoas da cidade, porque o lugar era estéril e não se mostrava suficiente nem adequado no fornecimento de alimentos. Fato repudiado pela acusação, que reiterou a perfeição daquelas terras para os insetos, sendo cheias de árvores e arbustos de vários tipos.

Cerca de oito meses após o início deste julgamento, o juiz emitiu uma decisão tristemente perdida pela história, já que a última página dos registros judiciais foi destruída, sem brincadeiras, por ratos ou insetos de algum tipo. Evans acrescenta que talvez os gorgulhos processados, não satisfeitos com os resultados, tenham enviado uma delegação aos arquivos para aniquilar e anular a sentença do tribunal. Mas com base em outros julgamentos semelhantes, caso tenham sido considerados culpados, os gorgulhos provavelmente foram condenados a abandonar a cidade por uma determinada data e tempo, sob pena de anátema.

A ironia destas ações judiciais nas quais animais foram parte é que, ao puxar até o menor inseto para seu sistema de justiça, os homens os personificam, mas ao os brutalizar posteriormente por suas supostas más atitudes, se abaixam até a brutalidade que esperam de bestas selvagens. Por esta lógica, os animais não são simplesmente autômatos que sofrem de vontade livre, apenas programados para comer, dormir, reproduzir e repetir, como muitos filósofos ao longo da história argumentaram. Eles são, em vez disso, capazes de não apenas tomar suas próprias decisões, mas envolver-se em comportamentos complexos, como no caso dos porcos de Humbert de Poutiers incitando o cometimento do homicídio.

Muito antes dos movimentos modernos que classificam os animais como seres tão capazes de sentir dor e emoção como os humanos, os europeus medievais já entendiam perfeitamente que podiam sofrer as dores da morte torturante. A suposição de que eram capazes de compreender as leis e a moral da humanidade foi extremamente descontrolada, com certeza, mas hoje os ativistas estão lutando para conceder a personalidade a chimpanzés e, portanto, os mesmos direitos legais que os seres humanos desfrutam. 

Todavia, a explicação dominante de estudiosos e historiadores jurídicos é que, em uma sociedade de pessoas que acreditavam profundamente em uma ordem divinamente determinada, com os humanos no topo, qualquer transtorno da hierarquia de Deus devia ser visivelmente restaurado com um evento formal. Além disso, se nota a sugestão de que os cidadãos pré-industriais consideravam os animais dignos de justiça humana principalmente porque tinham, como os homens, o livre arbítrio para fazer escolhas básicas. O julgamento das criaturas ainda tinha outro objetivo prático, o de servir como advertência para que as pessoas não atentassem contra a hierarquia e estratificação social, caracterizadoras da época medieval.

Posté par Elise Dawson

 

 

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Commentaires (7)

 

O principal problema destas práticas estranhas é que não houve uma preocupação em fornecer informações explícitas sobre onde e como as coisas se deram. É possível que muitos dos julgamentos de animais não tenham, de fato, ocorrido. Talvez tenham sido apenas histórias que faziam parte do folclore local, ou, no caso de ratos por exemplo, uma crítica difamatória ao tipo de trabalho que o advogado estava fazendo ou ao cliente que este defendia. Ou mesmo tenham sido narrativas criadas para tornar as aulas de direito mais interessantes.

A fonte mais detalhada sobre o período medieval quanto a colocar animais “sub judice” é o trabalho de Evans publicado em 1906. O autor aponta dois tipos distintos de demandas jurídicas que ocorriam: punições capitais infligidas por tribunais seculares a porcos, cavalos, vacas, e outros animais domésticos como penalidade por homicídio; e processos judiciais instituídos por tribunais eclesiásticos contra ratos, gorgulhos, gafanhotos, e outros vermes para evitar que devorassem as colheitas e expulsá-los de vinhas, pomares e campos cultivados, por exorcismo e excomunhão.

Em outras palavras, a maioria dos grandes animais foi julgada por ofensas como assassinatos, e geralmente executados ou exilados, enquanto pragas menores e mais difusas foram mais freqüentemente excomungadas ou denunciadas por um tribunal da igreja.

Posté par Alessandra Carli, 15 juin 2005 à 18:44 | Répondre

Alessandra, essa excomunhão ou denúncia oficial eclesiástica contra animais menores foi feita, em grande parte como um esforço para fazer com que as pessoas se sentissem melhor sobre exterminá-los.

Uma vez que todos os seres são tidos como criaturas de Deus, até mesmo insetos, ratos e outros eram considerados como tal. Assim, a devastação que provocavam provavelmente era parte de seu grande plano, de modo que destruí-los seria agir contra a vontade divina e sua Criação. Se fossem julgados em um tribunal da igreja e excomungados, isso poderia mitigar a culpa.

Posté par Mauricio Harfuch, 15 juin 2005 à 22:29 | Répondre

 

Elise, na Idade Média, havia uma confusão na distinção entre homem e animal. Muitos manuscritos medievais continham imagens de diversas criaturas vestindo roupas e participando de atividades humanas, incluindo a guerra. A literatura da época era cheia de fábulas e histórias nas quais os animais se comportam e agem como pessoas.
Quando se vê animais como quase humanos com muita freqüência, podem ter começado a criar uma superficial crença de que eles têm níveis morais e de racionalidade semelhantes aos que os homens têm. Portanto, acabam creditando ao bicho que, por exemplo, ataca uma criança, a perfeita e total responsabilidade por suas ações e o merecimento de punições.
Alguns outros apontam como justificativa para a aplicação de leis humanas a animais a noção cristã de que Deus concedeu ao homem o poder de governar sobre a natureza, e que, portanto, esses julgamentos eram uma maneira de impor autoridade humana sobre os seres da Terra.

Posté par Katarina Jeffries, 15 juin 2005 à 20:05 | Répondre

 

Em 1494, perto da cidade francesa de Clermont, um porco foi preso por ter estrangulado e desfigurado uma criança no berço, o filho de Gillon e Jehan Lenfant. Várias testemunhas foram ouvidas, e alegaram que na manhã do dia da Páscoa o bebê tinha sido deixado sozinho no berço (o pai estava guardando o gado e a mãe foi à vila de Dizy), tempo durante o qual o referido porco entrou na casa e desfigurou e comeu o rosto e o pescoço da vítima que, em conseqüência, partiu desta vida.
Tendo pesado a evidência, e não encontrando circunstâncias atenuantes, o juiz sentenciou que, para o fim de que um exemplo seja feito e a justiça mantida, o dito suíno, agora detido como prisioneiro, deve ser enforcado e estrangulado em um gibbet de madeira.

Posté par Regina Geviewski, 15 juin 2005 à 20:13 | Répondre

 

Também existem casos de objetos inanimados que foram trazidos perante a lei. Na Rússia, um sino que soou por ocasião do assassinato de um príncipe foi acusado de traição e exilado para a Sibéria. Na Grécia, uma estátua que caiu sobre um homem foi acusada de assassinato e condenada a ser jogada no mar.

De qualquer modo, todos os casos sugerem que o verdadeiro propósito dos julgamentos foi psicológico.

Eram momentos de profunda incerteza. Tanto os gregos como os europeus medievais tinham em comum um profundo medo da ilegalidade, não de que as leis fossem violadas, mas de que o mundo em que viviam não fosse um lugar legal. À primeira vista, os infortúnios não tinham lógica ou razão para eles, os quais, para a intensificação dos fatos, já viviam todos os dias à beira da escuridão explicativa. Então estavam aterrorizados com a possibilidade real de que Deus estava jogando dados com o universo, ou até mesmo que Ele não existia.

Assim, os tribunais, em nome da sociedade, tomaram as coisas para si. Em outras palavras, o trabalho deles era domesticar o caos, impor ordem em um mundo de acidentes, e dar sentido a certos eventos aparentemente inexplicáveis, redefinindo-os como crimes.

Posté par Dalton Galiotte, 15 juin 2005 à 21:17 | Répondre

Ainda é assim em nossos dias Dalton, mas de uma forma invertida. Quando as coisas são inexplicadas, esperamos que as instituições da ciência façam julgamento e estabeleçam o controle cognitivo.

Também existem relatos sobre corpos já mortos, sendo levados a julgamentos. O Papa Estevão VI, em 896, acusou de sacrilégio o seu antecessor, Formoso, por sua excessiva ambição pelo cargo papal. O corpo do papa morto foi exumado, vestido com as vestes pontifícias e montado num trono, onde um diácono foi nomeado para defendê-lo. O julgamento póstumo foi efetuado na Basílica de São João de Latrão, Roma, em janeiro de 897. Quando o veredito de culpa foi pronunciado, o executor empurrou Formoso do trono, despojou-o de suas vestes, cortou os três dedos beneditórios de sua mão direita e, depois de esquartejado, foi jogado no rio Tibre.

Posté par Marjorie Elshof, 16 juin 2005 à 19:01 | Répondre

 

Na verdade, ainda nos dias de hoje, animais são condenados à morte, por eutanásia ou não, quanto ferem ou ameaçam um ser humano, em casos de fuga de circo ou zoológico (às vezes a pessoa é que adentra ou ultrapassa os limites de segurança de uma jaula), ou devido à invasão e destruição de seu habitat, onde acabam vindo para núcleos urbanos. Nos dois casos, a sociedade moderna em geral entende que as criaturas são mais vítimas que ofensoras, afinal foram obrigadas a abandonar seu meio original e ficar trancafiadas em gaiolas, ou a buscar alimentos e abrigo nas cidades porque as matas nativas foram miniaturizadas e suas caças exterminadas. Mas continuam a ser mortos, apesar disso.
A única diferença é que os animais não passam por um julgamento formal, como se humanos fossem, onde ficariam restritos às regras jurídicas e valores médios do homem. Normalmente a decisão de sacrificá-los apenas passa pelo arbítrio e conveniência das autoridades presentes ou meramente pelas pessoas locais.

Posté par Tasio Benevenuto, 16 juin 2005 à 21:48 | Répondre

 

 

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19 mai 2005

Uma antiga religião persa.

 

O zoroastrismo, também chamado de mazdeísmo ou parsismo, é historicamente uma das mais importantes crenças do mundo, embora a menor dentre as principais a se julgar pelo número de adeptos. Sua origem está na espiritualidade proto-indo-européia (que também produziu as religiões indianas) e, em seu cerne, não há a representação de deuses em esculturas.

Exerceu grande influência no budismo Mahayana e, especialmente, nas doutrinas abraâmicas do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, para as quais legou conceitos como o de uma luta cósmica entre o certo e o errado, uma hierarquia celestial de seres espirituais que mediam a relação entre Deus e a humanidade, o monoteísmo, a primazia da escolha ética na vida humana, um julgamento para cada indivíduo após a morte segundo suas ações, a chegada de um Messias no final desta criação, e um apocalipse que culmina no triunfo final do bem. 

Foi a primeira religião a ser fundada por um reformador profético inspirado, o persa Zaratustra (que significa “Luz Brilhante”) ou Zoroastro (como ficou conhecido pelos gregos), que viveu na Ásia Central, em um território que compreendia o que é hoje a parte oriental do Irã e a região ocidental do Afeganistão. É em seus ensinamentos que se baseia o que ficou conhecido como zoroastrismo.

Muitos estudiosos concordam em colocar a data do nascimento deste profeta entre 1500 e 1200 aC., mas há muitas divergências. As fontes gregas afirmam que foi 6000 anos antes da morte de Platão, ou seja, cerca de 6350 aC. Já os achados arqueológicos em Turpan, na China, dizem que foi 2715 anos após a Grande Tempestade, o que atingiria o ano de 1767 aC. Existem ainda escritos persas que o colocam 258 anos antes de Alexandre Magno, ou seja, por volta de 600 aC.

A Tradição Esotérica data o início dos ensinamentos zoroastristas muito antes de qualquer uma dessas datas, fundamentando-se em dois tipos de registros : primeiramente, a Grande Irmandade preservou armazenados em templos subterrâneos e bibliotecas os escritos antigos, e, em segundo lugar, existem os registros imperecíveis da própria Akasha (o princípio original, conforme o hinduísmo e várias correntes místicas). De acordo com esses apontamentos, o zoroastrismo e o hinduísmo são as duas religiões mais antigas da nossa humanidade moderna. 

Zoroastro liderou os iranianos em sua primeira migração, pertencente que era à mesma poderosa Fraternidade como Manu e tendo sido ministrado pelos mesmos professores primordiais, chamados de “Filhos do Fogo”. A partir dele foi derrubada uma linha de profetas, todos com o nome de Zoroastro, que supervisionaram o desenvolvimento inicial dos povos iranianos. Aquele a quem os gregos se referiam pode ter sido o sétimo nesta linha.

O zoroastrismo floresceu durante três grandes impérios persas. 

O primeiro foi o Império Aquemênida, fundado pelo zoroastrista Ciro II (provavelmente um pagão convertido), que dominou uma área bem extensa e mostrava grande respeito pelas nações que havia conquistado, permitindo que elas se governassem e seguissem suas próprias crenças religiosas. Foi ele quem liberou os judeus cativos na Babilônia para retornarem à terra natal e aos quais permitiu que reconstruíssem o Templo de Salomão. Acredita-se que o primeiro rei persa que reconheceu oficialmente o mazdeísmo tenha sido Dario I, sucessor de Ciro II, pois se proclamou devoto do deus supremo Ahura Mazda (“Senhor Sábio”), de acordo com gravações em uma placa.

A ascensão de Alexandre Magno pôs fim a este império. Com a conquista da Pérsia, em 334 aC., o macedônio saqueou o tesouro e queimou as bibliotecas em Persépolis. Muitos sacerdotes, que eram considerados como bibliotecas vivas da religião, já que haviam memorizado a maioria dos textos sagrados, foram mortos. Acredita-se que o Avesta, principal livro do zoroastrismo, foi destruído neste incêndio, pelo menos em parte.

A tribo Parta, do nordeste do Irã, derrubou os gregos em torno de 250 aC., e estabeleceu um império que era tão extenso quanto o anterior. Este povo também era zoroastriano e tolerava as crenças das terras conquistadas. Durante os aproximadamente quinhentos anos do Império Parta, houve batalhas contínuas com os romanos, os quais nunca simpatizaram com o zoroastrismo, mas, ao invés disso, praticaram o mitraísmo, no qual as deidades Mitra e Anahita foram adoradas, inclusive estabelecendo templos mitraicos em toda a parte ocidental de seus domínios. Durante a existência do Império Parta, o mazdeísmo foi bastante desregulado e, portanto, formas diferentes da religião se desenvolveram.

Os sassanianos (que também eram zoroastristas) se levantaram contra os partos por conta da situação religiosa caótica e os derrubaram em 225 dC., fundando em seguida o Império Sassânida. Eles queriam unificar o zoroastrismo e estabelecer regras que o definissem. A religião se tornou a oficial do Império, as conversões foram ativamente promovidas, e a figura de um Sumo Sacerdote, que estava ao lado do rei na autoridade, foi criada.

Quando os árabes invadiram a Pérsia e estabeleceram o Islã na área, o governo Sassânida chegou ao fim. A nova ordem determinou à população sua conversão ao Islã, o pagamento do imposto chamado “Jizya” aos não crentes, ou a morte. Os árabes tornaram a vida difícil para os zoroastristas que escolheram não se converter, de modo que, em 936 dC., um grupo saiu da cidade de Sanjan, na província iraniana de Khorasan, e seguiu até o porto de Ormuz, no Golfo Pérsico, de onde partiu para a Índia. Eles passaram dezenove anos na ilha de Div antes de chegarem na costa ocidental de Gujarate, onde prosperaram e se mudaram para outras localidades indianas. Na Índia, foram conhecidos como parsis (“os da província persa de Pars"). Enquanto isso, os mazdeistas deixados no Irã continuaram a sofrer com as adversidades. 

Quando os prósperos parsis da Índia ouviram sobre a permanente tristeza de seus irmãos de fé, despacharam emissários para o Irã, como Maneckji Hataria em 1854, que procurou reconstruir instituições educacionais e religiosas e ajudar a comunidade zoroastrista a recuperar sua força. Em 1882, conseguiu persuadir o rei islâmico Qajar a abolir o imposto Jizya.

Em nossos dias, a comunidade presente no Irã progride e tem um número excepcionalmente alto de pessoas bem-sucedidas. Houve uma emigração de zoroastrianos do Irã e da Índia para o mundo ocidental, duas comunidades que, por sinal, convivem agora unidas, freqüentam os mesmos templos de fogo, se ligam pelo casamento, e prosperam em harmonia.

 

A crença

Segundo a doutrina zoroastriana, reinavam dois espíritos ou princípios antagônicos antes do mundo existir, o do Bem (Ahura Mazda) e o do Mal (Angra Mainyu - “Espírito Hostil”). O primeiro é o criador original do universo e dos humanos, a fonte da vida, organizador do mundo de modo perfeito, com poderes para sustentar e prover todos os seres na luz e na glória supremas, enquanto o segundo é representado como uma serpente, um espírito hostil e destruidor, criador de tudo que há de ruim. Divindades menores e espíritos ajudam Ahura Mazda a governar o mundo e a combater Angra Mainyu e sua legião maléfica, dentre as quais a mais importante é Mitra, um deus benéfico que exerce funções de juiz das almas (no final do século III dC. o culto a Mitra fundiu-se com outros de procedência oriental que adoravam o Sol).

A perpétua luta entre Bem e Mal está em princípios cósmicos, e origina todas as alternativas da vida do universo e da humanidade. São princípios criadores e estruturadores do universo, que podem ser observados na natureza e encontram-se dentro da alma do homem. A vitória definitiva de Ahura Mazda sobre o oponente só poderia ocorrer se o profeta Zoroastro conseguisse formar uma legião de seguidores, forte o suficiente para vencer Angra Mainyu e expurgar seu mal. A vida humana é uma luta contínua para atingir a pureza (obtida ao vencer Angra Mainyu e sua legião de demônios), algo que só surge quando o homem desenvolve o poder do conhecimento e da escolha em sua evolução, ou seja, a dualidade original não é do bem e do mal, mas do espírito e da matéria, da luz e da escuridão, da construção e da destruição.

Para se opor a Angra Mainyu, Ahura Mazda criou Spenta Mainyu (“Espírito Santo”), um aspecto do próprio “Senhor Sábio”, através do qual cria vida e bondade. Spenta Mainyu também protege e mantém muitos reinos e criaturas, inclusive as crianças que ainda não nasceram.

Existem sete emanações de Ahura Mazda chamadas de Amesha Spentas (“Imortais Sagrados”), as mais altas e poderosas inteligências, em certas vezes tidas como aspectos do próprio deus supremo e, em outras, como arcanjos, as quais, com o tempo, também ganharam a personificação de guardiãs de vários reinos da natureza :

. O próprio Ahura Mazda. O “Senhor Sábio” está presente em todos os lugares, e é ele uma das sete inteligências.

. Vohu Manah (“Boa Mente”). É a sabedoria divina, iluminação e amor, e tem a capacidade mental de compreender o Asha Vahishta. Está ligado especialmente ao reino animal.

. Asha Vahishta (“Verdade Perfeita”). É a ordem do cosmos, a forma ideal do universo. Muitas vezes traduzido como “justiça”, a palavra “asha” é etimologicamente a mesma que o termo sânscrito “rta” e, portanto, é o dharma (plano pelo qual o mundo existe). Sua associação se dá com o elemento fogo.

. Khshathra Vairya (“Governo Desejável”). A força divina e o poder do reino de Ahura Mazda. Em termos teológicos representa o Reino dos Céus, e em termos humanos retrata a sociedade ideal. Está relacionado ao céu e ao reino mineral. 

. Spenta Armaiti (“Devoção Benfeitora”). É a atitude de piedade e devoção e, eticamente, é a atitude de benevolência. Está associado ao elemento terra.

. Haurvatat (“Plenitude”). O estado de perfeição, bem-estar completo, integridade espiritual e física. Está associado ao elemento água.

. Ameretat (“Imortalidade”). O estado de felicidade imortal, e vinculado ao reino vegetal.

Os sete podem ser concebidos ​​como princípios cósmicos ou princípios humanos. É através do nosso uso de uma boa mente (Vohu Manah), praticando amor e devoção (Spenta Armaiti) e seguindo o caminho da justiça (Asha Vahishta) que podemos atingir o estado ideal das coisas (Khshathra Vairya), onde, finalmente, a perfeição (Haurvatat) e a imortalidade (Ameretat) prevalecerão. Os seres humanos não são espectadores na vida, mas os principais agentes, através dos quais a promessa de Ahura Mazda será cumprida. Ambos são co-criadores do mundo ideal.

Sob os Amesha Spentas estão outras inteligências denominadas Yazatas, às vezes comparadas a anjos que, ao lado dos seres humanos, são ajudantes de Ahura Mazda.

O zoroastrismo entende o mundo como tendo sido criado por Ahura Mazda, e destinado a evoluir para a perfeição de acordo com a lei ou o plano de Asha, a ordem divina das coisas, o princípio de justiça pelo qual todas as coisas são exatamente como deveriam ser. Asha é a verdade suprema, o ideal do que deve ser a vida e a existência.

A dualidade existe, mas os homens também têm independência para escolher entre os opostos. Como eles têm o poder de escolha, também têm a responsabilidade pessoal de decidir bem. Spenta Mainyu promove a realização de Asha. Angra Mainyu viola Asha. Os seres humanos podem fazer uma escolha entre eles, entre espírito e matéria, entre o real e o irreal, onde a salvação pessoal é alcançada através da preferência correta. À medida que os seres humanos tomam as decisões certas em suas vidas, estão promovendo a realização de Frashokereti, a salvação do mundo, sua restauração ao estado perfeito, em acordo com Asha.

O mazdeísmo coloca grande ênfase na pureza e na não contaminação de nenhum dos elementos da criação de Ahura Mazda. Assim sendo, os adeptos desta religião não enterram nem cremam seus entes e, em vez disso, levam os cadáveres para o que se chama de Torre do Silêncio, onde são deixados expostos ao tempo para que os abutres os devorem. Restando apenas a ossada, em momento apropriado jogam os restos em uma corrente de água com destino ao mar. Hoje em dia, há uma grande controvérsia sobre essa prática.

Após a morte do corpo, os zoroastrianos crêem que a alma permanece neste mundo por três dias e noites, aos cuidados de Sraosha, um dos Yazatas. Neste período, orações e rituais são realizados para assegurar uma passagem segura da alma pelo domínio espiritual. No início do quarto dia, o espírito atravessou o outro mundo e chegou à alegórica Ponte Chinvat. Nela, a alma encontra uma virgem que é a própria encarnação de todas as palavras, ações e pensamentos da sua vida anterior. Se a alma conduziu uma vida justa, a donzela aparece em uma forma bonita, porém se for o contrário, ela aparecerá como uma bruxa feia. Essa imagem confronta a alma, esta reconhece que é o retrato de suas próprias ações e, assim, julga-se, sabendo se é digna de atravessar a ponte para o outro lado ou se deve retornar à terra para aprender mais lições (uma referência à reencarnação). Depois que a alma encontra sua própria imagem, aparece diante de um tribunal celestial, onde a justiça divina é administrada. Os bons espíritos vão para um céu chamado Vahishta Ahu (“Excelente Morada”), enquanto os maus são enviados para um inferno chamado Achista Ahu (“Pior Existência”).

Nas escrituras mais antigas o céu e o inferno não são descritos como lugares, mas estados mentais que resultam de escolhas corretas ou erradas. Zoroastro mencionou o Drujo Demana (“Casa das Mentiras”) e o Garo Demana (“Casa da Canção”), aos quais as almas são enviadas. Alguns interpretam que a ida do espírito para o Drujo Demana significa um retorno à terra, o reino da irrealidade ou da mentira (novamente a ideia de reencarnação).

 

As escrituras

As escrituras zoroastrianas são chamadas de Avesta. Aos comentários feitos pelos sucessores de Zoroastro sobre seus escritos dá-se o nome de Zend Avesta. Mais tarde, os comentários aos comentários foram escritos na língua persa pálavi, do Império Sassânida. As escrituras se encontram em várias línguas e sua composição abrange períodos extensos de tempo, entretanto, são fragmentárias por causa dos invasores que destruíram textos e perseguiram sacerdotes-eruditos através da história.

A parte mais antiga e importante do Avesta são os Gathas, que apresentam dezessete hinos compostos pelo próprio Zoroastro, onde estão os ensinamentos diretos do profeta e relatam suas conversas com Ahura Mazda. A linguagem dos Gathas assemelha-se à que é usada no Rig Veda (o Livro dos Hinos, o primeiro e mais importante dos vedas, obras cujo idioma deu origem ao sânscrito clássico, pois todos os outros derivaram dele), o que situaria a vida de Zoroastro entre 1500 e 1200 aC., e não no século VI aC. Os Gathas revelam também um pensamento dualista, sobretudo no plano ético, pois é entendido como uma livre escolha entre o bem e o mal. Posteriormente, este dualismo torna-se cosmológico, uma batalha no mundo entre forças benignas e maléficas.

Os Gathas são parte de uma seção importante do Avesta chamada Yasna, um termo que significa literalmente “sacrifício”, composto de textos recitados pelos sacerdotes durante as cerimônias. Outra seção tem o nome de Vendidad, um manual sob a forma de um catecismo que dá regras de purificação e de prevenção de pecados de comissão e omissão. Já o Khordeh Avesta (“Pequeno Avesta”) inclui invocações com belas descrições dos Yazatas ou inteligências angélicas.

Posté par Elise Dawson

 

 

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Commentaires (9)

 

Antes do surgimento do zoroastrismo, a religião do Irã apresentava semelhanças com a da civilização védica, que floresceu na região do subcontinente indiano e tinha como base de sua cultura os princípios encontrados nos textos védicos (de Vedas, que são as quatro obras redigidas em sânscrito védico, de onde se originou posteriormente o sânscrito clássico). Estas duas populações descendiam de um mesmo povo, os arianos.
Essa religião dos iranianos era politeísta, e enquadrava os seres divinos em duas classes com características positivas, os ahuras ("senhores") e os daivas ("deuses"). Nela, grande papel desempenhava o sacrifício dos animais e o consumo ritual de uma bebida chamada haoma.

Posté par Ismael Goes, 19 mai 2005 à 18:31 | Répondre

 

Muito curioso o modo como lidavam com o evento morte. Como você relatou, para os zoroastrianos a natureza é uma criação divina marcada pela pureza, então não se deve poluí-la com um cadáver.

Acreditavam ainda que o corpo humano, como parte da natureza que é, também é puro. Assim, quando o indivíduo falece e seu espírito sai do corpo num espaço de 3 dias, seu cadáver se torna impuro, o que os leva a não enterrá-lo, mas colocá-lo ao ar livre em construções chamadas de Torres do Silêncio, para serem consumidos por aves de rapina. Depois das aves terem devorado a carne, os ossos são deixados durante algum tempo para secarem ao sol, antes de serem jogados em um poço no centro da torre. A partir daí, os restos são levados ao mar, após serem depositados em um curso de água, ou seja, em momento algum tocam o solo.

Os participantes do funeral procuram evitar o contato direto com o falecido, e vestem-se totalmente de branco.

Pela ilegalidade imposta à esta tradição em alguns países e pela diminuição da população de aves de rapina, esta prática tem sido abandonada em países ocidentais e, até mesmo, no Irã e na Índia, sendo substituída pela cremação.

Posté par Vivian Robles, 19 mai 2005 à 19:29 | Répondre

 

Os princípios morais básicos que orientam a vida de um zoroastriano são três-
Humata, ou “Bons Pensamentos”, que é a intenção ou a resolução moral de respeitar Asha, a ordem correta das coisas.
Hukhata, ou “Boas Palavras”, a comunicação dessa intenção.
Havarashta, ou “Bons Atos”, a realização em ação dessa intenção.

Viver esses três princípios é exercer o livre arbítrio seguindo a lei de Asha. Eles estão em muitas orações, e as crianças comprometem-se a cumpri-los na cerimônia de iniciação, quando marcam sua entrada como praticantes desta fé.

Posté par Cleber Bettinghausen, 19 mai 2005 à 20:53 | Répondre

 

O Avesta é o principal texto religioso do zoroastrismo, e divide-se em várias secções, das quais a principal é o Yasna ("Sacrifícios"), o qual inclui os Gathas, hinos que se julga terem sido compostos pelo próprio Zoroastro. Há também o Vispered, essencialmente um complemento do Yasna. Já o Vendidad contém as regras de pureza da religião, podendo ser comparado ao Levítico das escrituras judaico-cristãs. E os Yashts são hinos dedicados às divindades. Ainda existem o Siroza, Nyayeshes, Gahs, Afrinagans, e todo um material que inclui textos incompletos chamado de “Fragmentos” que não está presente nas outras categorias.

Acredita-se que a atual forma do Avesta corresponde a apenas uma parte do original, o qual teria sido destruído na ocasião da invasão de Alexandre Magno.

Além do Avesta, existem os textos em palavi que foram escritos, na sua maioria, no século IX.

Posté par Helen Siemens, 19 mai 2005 à 21:14 | Répondre

 

Zoroastro, filho de Pourushaspa e de Dugdhova, pertencente ao clã Spitama, foi casado duas vezes, teve vários filhos, e faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote.
Quando participava de um ritual de purificação num rio, na altura de seus trinta anos, ele viu um ser de luz que se apresentou como Vohu Manah ("Boa Mente") e que o conduziu até à presença de Ahura Mazda, o deus supremo que a tudo governa, e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas. Este foi o primeiro de uma série de encontros que teve com Ahura Mazda, que lhe revelou a mensagem que passou a pregar.
As autoridades opunham-se às doutrinas expostas pelo profeta que, depois de doze anos de pregação, abandonou a sua região natal e foi fixar-se na corte do rei Vishtaspa, na Báctria, onde se encontra o atual Afeganistão. O rei e sua esposa se converteram, e o zoroastrismo foi declarado religião oficial do reino.

Posté par Elenice Goes Trevisan, 19 mai 2005 à 22:02 | Répondre

Segundo crêem, no sexto dia da primavera nasceu Zoroastro nesta família. Porém, ao nascer, o menino não chorou e, muito pelo contrário, riu com ênfase, o que chamou atenção de todos. Como todo predestinado, ainda jovem foi demonstrando o quanto era especial, seja não sendo queimado quando colocado em chamas, ou não sendo pisoteado por bovinos quando colocado na frente de um rebanho em movimento.

Para muitos, além de fundador de uma nova religião, Zoroastro foi um reformador das práticas religiosas indo-iranianas ao propor uma mudança no panteão dominante que ia no sentido do dualismo e do monoteísmo. Ao contrário do que ocorria na Índia, com Zoroastro os ahuras passam a ser vistos como seres do bem, e os daivas, como do mal. Com sua pregação Ahura Mazda foi elevado à condição de divindade suprema e criador do mundo, portanto o único digno de adoração.

Posté par Nathalia Lacasse, 20 mai 2005 à 21:42 | Répondre

 

Os zoroastrianos não proselitizam, conseqüentemente nascem para a fé.

Se uma mulher se casa fora da religião, seus filhos não podem ser mazdeistas, mas se um homem se casa fora, seus filhos podem se tornar, embora sua esposa não.

Sem dúvida, essas restrições são mais aberrações, que não correspondem aos elevados ideais e ensinamentos da religião.

Posté par Reinaldo Hiroshi, 20 mai 2005 à 19:40 | Répondre

 

Dos vinte aos trinta anos, este profeta teria vivido quase sempre isolado, em cavernas sagradas no alto de uma montanha, sem consumir alimentos de origem animal. Outros relatos afirmam que teria ido ao deserto, onde fora tentado por um espírito maligno.

Após sete anos de solidão completa resolveu regressar. E, com a idade de trinta anos recebeu a revelação por meio de sete visões, ocasião em que iniciou sua missão. E teve muita dificuldade na obtenção da conversão das pessoas à sua nova religião, pois ninguém o escutava, e somente um, seu primo, aderiu a ela em dez anos de pregação.

Evidentemente, como com todos os que surgem com idéias proféticas, foi hostilizado e perseguido pelos sacerdotes, autoridades e população ao longo destes anos, sendo inclusive encarcerado porque a sua mensagem ameaçava as tradições e causava confusão nas mentes das pessoas.

Passou a realizar milagres a partir dos quarenta anos.

Conseguindo a conversão do rei Vishtaspa, e depois de toda a corte, o que posteriormente acarretou a oficialização de sua religião no reino, deu início à verdadeira difusão dos ensinamentos e de uma grande reforma religiosa.

No Império Sassânida, principalmente no reinado de Artaxes I, o chefe religioso era a segunda pessoa no governo depois do imperador, e este, de acordo com o antigo costume, era tido como divino ou semi-divino, vivendo em particular intimidade com Ahura Mazda.

Posté par Misael Kovaleski, 20 mai 2005 à 20:33 | Répondre

 

Os lugares de culto são chamados de Templos de Fogo, locais onde uma chama eterna é mantida queimando com sândalo e incenso. Dizem que o primeiro a ser aceso em cima de um altar foi derrubado do céu por Zoroastro com uma vara. Como o fogo é um símbolo sagrado e santo, os templos são abertos apenas aos zoroastristas.
Quando os parsis fugiram do Irã e se estabeleceram na Índia, uma labareda teria sido novamente derrubada do céu por um raio para criar o sagrado símbolo de Ahura Mazda. O altar onde esse fogo histórico ainda está queimando é um importante local de peregrinação para os parsis.

Posté par Angela van Thiel, 22 mai 2005 à 21:10 | Répondre

 

 

22 avril 2005

Uma visão sobre a embriaguez na antiga Inglaterra.

 

Contado em 1682 pelo ministro anglicano Samuel Clarke, este relato peculiar fez parte de seu aviso a todos sobre os destinos traiçoeiros que aguardam os bêbados :

Um soldado e seus companheiros estavam bebendo à saúde uns dos outros, durante uma noite de celebração em uma taberna de Salisbury. Depois de ingerir muito álcool, o soldado resolveu brindar à saúde do Diabo, inclusive corajosamente desafiando o mesmo a aparecer. Afirmou ainda que se o Anjo das Trevas não o fizesse, era a prova de que nem ele, nem Deus, existiam. Seus companheiros rapidamente fugiram do local por medo, mas voltaram depois de ouvirem um barulho hediondo e sentirem um cheiro pútrido. Retornando à sala, verificaram que o soldado desapareceu, e uma janela se encontrava quebrada com a barra de ferro dela curvada e coberta de sangue. O soldado nunca mais foi visto, depois de cometer o erro fatal de perder o juízo por conta da bebida e saudar o Maligno, convidando-o para o seu mundo. 

Esta história foi apenas uma das terríveis possibilidades delineadas por Clarke que compreendiam os destinos trágicos que aguardavam todos os ébrios, pois enfermidades, destruição física e espiritual, loucura e, em última instância, a morte, também constavam no rol de conseqüências. Uma abordagem que estava ao alcance na época, diversa da virada do século XIX, onde as condenações ao álcool tornaram-se um clamor ensurdecedor que veio na forma de discursos, livros, consultas médicas e obras de arte. 

Tais avisos, no entanto, fizeram pouco para influenciar as práticas desenfreadas de consumo diário, mas, ao longo do tempo, os gritos daqueles que se opuseram ao vício foram ouvidos cada vez mais alto. E os meros murmúrios de meados do século XVII, chocados com o súbito aumento de bebidas alcoólicas disponíveis com preços baixos, multiplicaram-se no decorrer das décadas seguintes. 

As investigações espirituais e médicas sobre o efeito do álcool no corpo humano, e a medida de sua eventual moderação, permaneceram uma fonte constante de preocupação, muito antes dos movimentos contrários do século XIX. As indagações enfatizaram freqüentemente a maneira pessoal como, depois de entrar no corpo, iniciava um processo de deterioração e de uma literal transformação física.

Em 1677, Edward Bury, ex-ministro da pequena vila de Great Bolas, em Shropshire, e um contemporâneo de Clarke, escreveu extensamente sobre as formas como o pecado bestial da embriaguez distorcia o corpo, provocando devassa, corrompendo, e deformando o homem. Também alegou que este trabalho perfeito da Criação se transformava, com o nariz, olhos e bochechas ficando vermelhos, a face inchando como uma bexiga, sem contar a fisionomia perturbada, dilatada e disforme. Segundo ele, a criatura mais comparável ao bêbado era a porco, já que parecia ter grande prazer em revirar seu próprio vômito, dejetos e sujeira, além de se assemelhar aos suínos quando rastejava, depois de perder o controle sobre a capacidade de caminhar. Disse ainda que, ao contrário dos porcos, que são úteis dessa maneira, o embriagado para nada serve, além de gastar e consumir.

Para Clarke, consumir álcool não faz com que os homens virem animais, porque uma besta o despreza. Mas os transforma de uma maneira mais profunda, em tolos e ébrios, os destrói em suas próprias essências, e então os desfigura ao ponto de Deus não os reconhecer mais e afirmar “Non est hæe Imago mea” (Esta não é minha imagem).

Nenhum outro vício parecia fazer com a aparência física do corpo o que as bebidas alcoólicas provocavam. De acordo com Clarke, o bêbado experimenta um processo de metamorfose, onde seu corpo tornava-se maleável, servindo como uma argila macia com a qual Satanás pode moldar em qualquer forma.

As preocupações espirituais dominaram as denúncias iniciais dos males do álcool, e novas observações sobre seu poder transformador surgiram no século XVIII. Se um bebedor, saturado em líquidos perniciosos, abriu seu corpo para o toque tortuoso de Satanás, não se transformava em uma besta, mas parecia murchar e colapsar sobre si mesmo. A aparência decadente da pessoa, com semblante pálido e pele coriácea, tornou-se popularmente associada à própria morte.

O aumento súbito no consumo de gim entre os pobres de Londres na virada do século XVIII trouxe algumas dessas observações. A destruição corporal foi descrita como um processo gradual, em que a constituição do corpo lentamente desmorona, seus olhos vão ficando pesados e enfadonhos, seu rosto se torna pálido e seu comportamento insensível. Caso fosse uma mulher, perderia logo sua beleza, ficaria com aparência tediosa e pálida, arruinaria quaisquer esperanças de casamento, deixando-a mulher sem futuro. 

O bispo de Sodor and Man (província de York), Thomas Wilson, também falou em oposição ao aumento do consumo de gim, e apontou as maneiras pelas quais beber parecia emagrecer o indivíduo, essencialmente reduzindo-o a um esqueleto, o que, inequivocamente, associou a imagem à inevitável mortalidade. O consumo excessivo não transformava bêbados em animais ou irreconhecíveis aos olhos de Deus, como Bury e Clark sugeriram. Em vez disso, o corpo deteriorado parecia assemelhar-se à aparência que todos teriam no túmulo, tornando-se um símbolo da morte, portanto uma ameaça inquestionável para todos. 

Este retrato tornou-se uma ferramenta poderosa para os opositores organizados, e a noção do bebedor que se desperdiçou até o ponto da morte tornou-se um pilar da literatura anti-álcool, advertência corroborada por médicos que escreveram sobre os efeitos da bebida. 

O autor anônimo de “A Treatise, on the True Effects of Drinking Spirituous Liquors, Wine and Beer, on Body and Mind”, publicado em 1794, discutiu as alterações físicas causadas pelo consumo, afirmando que causava uma forma precoce de envelhecimento ao impedir o crescimento da juventude e mutilar o corpo jovem, o que traz prematuramente a decadência da velhice. Por outro lado, alinhado com os argumentos feitos por Edward Bury um século antes, alegou que não só envelhecia o corpo mas, ao corromper seu juízo, tornava o etilista mais animal do que homem. 

Começaram a surgir questões sobre a quantidade adequada a se beber, ou mesmo se alguém deveria consumir, nas últimas décadas do século XVIII. Devido à associação tradicional de álcool e remédios, muitos médicos, ministros e outros líderes sociais alegaram que era perfeitamente aceitável desde que consumido com moderação. Alguns observaram que apenas certas bebidas eram apropriadas ​​para um proveito moderado, pois muitos dos “spirits” mais populares nem para isso serviriam, e aqueles que se arriscassem na sua ingestão adquiririam uma série de doenças, com quase todos terminando em mortes certas.

Aqui vale lembrar que “spirit” é o nome pelo qual as bebidas destiladas são chamadas na Inglaterra. A origem do termo teria vindo do vinho, embora este seja um fermentado, que era considerado o espírito da vida por causa do hálito que provoca em quem o aprecia. Do ponto de vista técnico, “spirit” é a essência, o perfume, de uma fórmula.

Mas mesmo a noção de que beber com moderação fosse aceitável também foi questionada. O autor anônimo acima mencionado foi especialmente crítico sobre o que poderia significar esta moderação, já que, para uns, três copos de gim diariamente tomados seria uma quantia prudente, mas para outros, este tanto os lançaria em uma febre violenta. Por esta razão seria impossível determinar a quantidade que é inofensiva e a que irá prejudicar.

Esta questão marcou uma mudança na visão de como a ingestão de álcool no corpo humano, em qualquer quantidade, poderia potencialmente levar à decadência e transformar um usuário moderado em um bêbado deplorável. No século XIX, os defensores organizados da moderação se reuniram para acabar totalmente com o seu consumo habitual. A literatura freqüentemente enfatizava o inevitável caminho para a ruína às pessoas que tomaram a infeliz decisão de beber. 

O escritor Timothy Shay Arthur, em particular, ajudou a convencer o público americano quanto aos perigos etílicos através do seu popular romance “Ten Nights in a Bar-Room and What I Saw There”, publicado em 1854, tendo como pano de fundo uma taberna chamada “Sickle and Sheaf”. Ao longo da obra, as descrições de bebedores habituais novamente enfatizam a deterioração física causada pelo consumo de álcool, em detalhes dramáticos. Em particular, o bêbado da cidade, Joe Morgan, se destaca na narrativa como um elemento indesejável mas familiar da taberna, um pobre desmoronado e inebriado, com o poder interno da resistência pois consciente é de não ter respeito dos homens e não respeitar nenhum. Um ano se passa, e o homem retorna para o mesmo bar sem apresentar melhorias em sua aparência. Pelo contrário, suas roupas estavam mais desgastadas e esfarrapadas, e seu semblante mais tristemente manchado.

Em outro livro não ficcional publicado por Arthur, “Grappling With the Monster”, ele estabelece as formas como o álcool amaldiçoa o corpo, afirmando que não haveria a necessidade de outros testemunhos para mostrar que é um inimigo implacável após constatar as formas cicatrizadas e rostos marcados, às vezes desfigurados, de homens que se entregaram às bebidas inebriantes, figuras presentes em todos os lugares e entre todas as classes sociais. Estranha ainda que indivíduos de bom senso, juízo claro, e percepção rápida em todas as questões morais e nos assuntos gerais da vida, são muitas vezes tão cegos que afirmam que o álcool não só é inofensivo quando tomado com moderação como, na verdade, é útil e nutritivo!

À medida que o movimento de repúdio ganhou força total durante a era das publicações de Arthur, a questão da moderação já não estava mais em debate, pois o líquido maldito amaldiçoou o corpo, deteriorou as características físicas, e reduziu a pessoa a um arruinado.

Mas ainda houve quem contestasse ceticamente estas advertências dramáticas, indagando se o consumo realmente resultava em decomposição corporal, se uma pessoa poderia absorver o líquido sem se transformar em um ébrio insensato ou em um fardo social indesejável, se apenas as observações teóricas é que o fizeram...

Uma gravura da revista Puck de 1888, “Between Two Evils”, apresentou algo diferente sobre o conceito de moderação, atingindo um equilíbrio entre extremos. À direita, aparece um abstêmio imoderado, esnobadamente se recusando a sequer olhar para um copo repulsivo de bebida. À esquerda, um alcoólatra também imoderado que, em muitos aspectos, reflete toda a deterioração física já descrita. No meio, porém, está sentado um homem que representa a verdadeira moderação, bem vestido, com semblante amável, e empunhando uma caneca de cerveja sem nenhum sinal de decaimento corporal.

Sentado entre os dois pontos opostos, este homem moderado, munido de sua caneca e de um sorriso, declara resolutamente aos dois “Eu não quero nada com nenhum de vocês!”.

Posté par Elise Dawson

 

 

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Commentaires (9)

 

A diminuição do preço das bebidas e o aumento do seu consumo na Inglaterra ocorreram no contexto do aumento da superlotação e da pobreza nas cidades. No campo, o trabalho era muito extenuante para os agricultores poderem lidar com a ressaca constante, então continuaram a beber a tradicional cerveja, de ação mais lenta que as bebidas mais fortes.

Vale ressaltar que um outro motivo para a hostilidade em relação ao álcool era o nascente nacionalismo. Enquanto a cerveja era considerada a bebida doméstica da Inglaterra, as demais eram estrangeiras. Uma vez que a ameaça externa foi superada, os reformadores encontraram uma nova importação estrangeira para ficar na berlinda, o chá, para o qual aplicaram praticamente as mesmas acusações que antes tinham utilizado. Assim, chegaram a escrever que o chá era um destruidor de saúde, um engendrador de efeminação e preguiça, um devastador de juventude e um criador de miséria para a velhice.

Posté par Marcel Cutrale, 22 avril 2005 à 18:04 | Répondre

 

Entre 1700 e 1760, a cidade de Londres se entregou assustadoramente ao consumo destrutivo do gim. Para se ter uma idéia, em 1730, cerca de 7.000 lojas de gim estavam envolvidas no comércio, com cerca de 10 milhões de galões destilados a cada ano. Seja para saciar dores e dissabores, para aliviar do frio, ou para fugir do trabalho árduo, tudo isso unido ao seu preço bem baixo, o gim se tornou mais que uma bebida para o povo londrino. Tinha havido uma queda nos preços dos alimentos, o que garantiu que os trabalhadores tivessem uma renda disponível maior para gastar em bebidas alcoólicas.

Durante os anos de guerra dos britânicos com os franceses, o brandy francês tornou-se fora de moda e até antipatriótico, portanto, era cada vez mais difícil consegui-lo. Além disso, o Parlamento aprovou uma série de medidas legislativas destinadas a aumentar a produção de spirit doméstico e quebrar o domínio no mercado. Estes dois pontos foram fundamentais para o início da avassaladora soberania do gim na Grã-Bretanha.

Posté par Dirceu Bersch, 22 avril 2005 à 20:05 | Répondre

 

Benjamin Rush, famoso médico da Pensilvânia no século XVIII, também fez seus relatos sobre o tema, e contou a história de um homem que não conseguiu encontrar satisfação em seu alcoolismo. Procurando por porres cada vez mais fortes, foi mudando do ponche para o grogue, para o rum jamaicano puro, misturando com uma colher de pimenta moída, ... até encontrar a morte devido sua imoderação.

Os esforços de Rush contra o consumo de álcool certamente estavam na vanguarda do movimento de moderação emergente. Assim como outros médicos, tentou transmitir alguma compreensão sobre o quanto afetava o corpo humano, como a freqüência de estômagos irritados e vomitantes pela manhã após se envolver em uma bebedeira intensa, o desenvolvimento de tremores nas mãos, bem como a palidez no rosto contrastando com pequenas e vermelhas faixas que apareciam nas bochechas do bêbado.

Samuel Clarke advertiu que o álcool abriria a possibilidade para a corrupção do diabo. Timothy Shay Arthur zombou da idéia de que poderia fornecer qualquer fonte de nutrição. E Benjamin Rush afirmou que beber criaria um apetite insaciável por bebidas mais fortes, levando, inevitavelmente, a uma embriaguez incurável e morte. O fato é que o alcoolismo sempre aparece como uma negatividade humana, até hoje!

Posté par Elisete Fluck, 22 avril 2005 à 20:19 | Répondre

 

O álcool sempre foi um problema para a sociedade.

Na Inglaterra do século XVIII, a embriaguez era comum a todas as classes, embora a relacionada ao gim tenha sido tipicamente associada aos pobres. No entanto, a visão das classes média e alta em relação a sua bebedeira e a das “pessoas inferiores” refletia distinções de classe, pois a própria era tida como divertida.

Por exemplo, William Hogarth, em “Midnight Modern Conversation”, descreveu uma cena de embriaguez entre os foliões de classes superiores como a de um bebedor exuberante na parte de trás da sala levantando o copo em um brinde para todos os seus colegas, ao invés de uma denúncia da convivência bêbada. O mesmo autor, em “Gin Lane”, tomou atitude completamente diferente ao relatar uma cena entre pobres.

A bebida alcoólica entre as “classes inferiores” foi atacada como um problema sem precedentes no segundo quarto do século XVIII, não porque a embriaguez fosse mais comum, ou por causa da preocupação com o prejuízo que propiciava à saúde daqueles indivíduos, mas por conta de seus perigos para o bem-estar e a economia da nação. O preço mais barato do gim levaria a mais embriaguez, o que era uma preocupação porque as mortes prematuras privariam os proprietários de força de trabalho, e isso, por sua vez, resultaria em salários mais elevados e à redução do consumo de cerveja. Além disso, o gim tinha um efeito adicional sobre o consumo de tabaco, porque um homem honesto poderia consumir um cachimbo ou dois de tabaco com uma ou duas cervejas, uma noite inteira, mas é demolido pela força do tirano gim, de maneira que quase não teria tempo para fumar.

Posté par Bruna Monjardim, 22 avril 2005 à 21:11 | Répondre

 

Muito interessante !
Para contextualizar, a destilação era comum em toda a Europa na Idade Média, mas não na Inglaterra porque o monopólio doméstico mantinha os preços muito altos. Em 1689, o Parlamento proibiu as importações de vinhos e “spirits” franceses e, ao mesmo tempo, cancelou o monopólio, o que possibilitou a qualquer pessoa criar um negócio de destilaria desde que pagasse os direitos exigidos.
Os destiladores tornaram-se não apenas produtores mas também vendedores, e o custo do gim caiu abaixo do custo de cerveja, o que o tornou a bebida alcoólica favorita para as classes baixas.
Historiadores do início do século XX têm culpado o aumento no consumo de gim pela agitação social que também aumentou durante este período. Afirmam ainda que após a passagem do Tippling Act de 1751, que ficou conhecido como Gin Act, a agitação social declinou. Esta lei proibiu que os vendedores de destiladores vendessem o gim no varejo, e cobrou penas severas pelo descumprimento, como prisão, chicoteamento e até deportação para reincidentes. Como resultado, os preços aumentaram, o consumo do gim diminuiu, ao mesmo tempo em que o de cerveja aumentou, e a agitação social diminuiu.
Mas há também quem argumente que a agitação social, antes e depois do Tippling Act, estimulou e exacerbou o consumo excessivo de gim, em vez deste ter sido sua causa.

Posté par Fabiane Lienard, 22 avril 2005 à 21:48 | Répondre

Em 1700, os dados estatísticos britânicos colocavam o consumo anual de gim, na Inglaterra e no País de Gales, em cerca de 1,23 milhões de galões (medida britânica de volume, equivalente a 8 pints). Em 1714, o consumo passou para quase 2 milhões de galões por ano. Em 1735 já eram 6,4 milhões, e em 1751, 7,05 milhões.

O consumo per capita aumentou em até oito vezes, entre 1 e 2 “pints” (ou quartilho, também unidade de medida de volume no Reino Unido) em 1700 para entre 8 e 9 em 1751, cerca de um galão por pessoa.

A cerveja no mesmo período manteve-se relativamente constante em 3 milhões de galões anuais.

Posté par Alessandra Carli, 23 avril 2005 à 19:51 | Répondre

O que deu impulso às iniciativas mais contundentes para controlar a sede de gim na cidade, das quais se destaca o Gin Act de 1751, foi um evento trágico que capturou o espírito da época e causou protestos públicos. Em 1734, uma mulher chamada Judith Defour estrangulou sua filha de dois anos e vendeu suas roupas para conseguir gim.
A referida normatização, a oitava de um total de oito tentativas de regulação do consumo de álcool, proibia os destiladores de vender para comerciantes não licenciados, e também aumentou as taxas cobradas aos pequenos comerciantes, o que levou o gim a não ser mais vendido em pequenas lojas mas somente em bares maiores, onde o controle de qualidade era mais apertado.

Posté par Suzana Szafir, 25 avril 2005 à 18:17 | Répondre

 

Depois do boicote aos produtos franceses, no final do século XVII passaram a importar da Holanda o “spirit” holandês conhecido como “jenever”, que era um pouco mais fraco (cerca de 30% de álcool por volume).

Já o gim que começaram a destilar em Londres era diabolicamente forte e muitas vezes adulterado com impurezas horríveis. O “spirit” da terebintina (líquido obtido por destilação de resina de coníferas) e o ácido sulfúrico eram adições comuns e, como com os “moonshine” americanos ou os “poteen” irlandeses, contos sobre cegueira entre aqueles que os consumiam em Londres não eram infreqüentes.

Com apenas alguns centavos, os indivíduos poderiam se fartar com grande quantidade da bebida, que, como se não bastasse, teria particularmente um poder catastrófico sobre seus corpos.

Posté par Edgar Alves Scalco, 23 avril 2005 à 21:40 | Répondre

 

A partir da década de 1660, os gostos ingleses começaram a mudar.

Passaram a beber vinho melhor e cerveja mais forte do que em séculos anteriores. A elite começou a apreciar os spirits importados, principalmente o brandy francês, e o povo comum adotou gradualmente o consumo em massa de “spirits ingleses”, especialmente gim, que foi tão bebido que os moralistas começaram a pensar que era a principal causa da pobreza urbana.

A materialização dessa crença se encontra na famosa ilustração de William Hogarth, “Gin Lane”, onde uma mãe bêbada e com a sífilis deixa cair o bebê, um mendigo e um cão famintos disputam um osso, o agente de penhores e o coveiro dificilmente conseguem acompanhar o comércio, e toda a cena apresenta declínio moral.

Esta imagem só faz sentido se for vista ao lado de outra gravura dele, “Beer Street”, na qual os habitantes bebedores somente de cerveja são gordos e saudáveis, a rua é limpa e próspera, e o corretor de penhores saiu do mercado.

Posté par Cleber Bettinghausen, 24 avril 2005 à 22:03 | Répondre

 

 

14 mars 2005

O catálogo de animais reais e fantasiosos.

 

O bestiário é um tipo de literatura descritiva que traz um compêndio de bestas. Embora originário do Mundo Antigo, se tornou muito popular durante a Idade Média, e é apresentado na forma de volumes ilustrados retratando animais, autênticos ou imaginários, e até plantas ou motivos orgânicos da natureza. A história natural e a ilustração de cada criatura são geralmente acompanhadas de lições moralizantes, fundamentadas na crença de que o mundo é literalmente a criação de Deus e que, portanto, nele cada ser vivo tem seu papel. Quando a referência é específica para rochas e ervas, os textos procuram ressaltar suas propriedades e virtudes. Para a arte e a literatura cristã ocidental, os bestiários se tornaram uma importante referência de linguagem simbólica.

As populações medievais eram, evidentemente, dependentes dos animais selvagens ou domésticos para a sua sobrevivência, e assim tinham um patente interesse neles. Não bastasse isso, um aspecto espiritual e místico foi sendo creditado a eles nesta época de intensidade religiosa na Europa, Oriente Médio e norte da África, até pelo motivo de várias das religiões presentes na região serem relacionadas e compartilharem textos sagrados em comum, como a Bíblia Hebraica, nos quais surgem muitas referências à bestas.

Ao contemplar as criaturas de Deus, a mente medieval, particularmente a cristã ocidental, buscava interpretações alegóricas e relacionamentos simbólicos e não causais, de modo que acreditavam que elas, tanto reais como imaginárias, selvagens ou domésticas, tinham um significado além de si mesmas. Esta idéia foi edificada em parte por passagens bíblicas como Jó 12:7-10 (7. No entanto, questiona os animais, e eles te ensinarão; pergunta às aves do céu, e elas de esclarecerão; 8. ou fala com a própria terra, e ela te ministrará; até os peixes do mar te instruirão. 9. Qual dentre todos eles não tem conhecimento que a mão de Yahweh, o SENHOR, criou tudo o que há? 10. Na sua mão repousa a vida de todo ser vivo, e o espírito de todo gênero humano.).

Segundo afirmavam, havia um propósito edificante na Criação e nos seres componentes dela, os quais vieram para fornecer instrução moral e ensinar a conduta adequada de vida. Suas características não eram circunstanciais ou acidentais, mas criadas propositalmente por Deus como modelos para reforçar os ensinamentos religiosos. Até mesmo seus nomes significavam algo, e é por isso que há uma ênfase na etimologia na Idade Média. 

Na verdade, não era tão importante que a criatura existisse ou não, uma vez que sua existência apenas teria um propósito didático e redentor. Um exemplo interessante é a árvore Peridéxion, a qual, em sua imagem, além do próprio vegetal, continha pombas em sua copa e um dragão em sua base. Ela foi associada a passagens bíblicas no sentido de que o dragão (o demônio) aguardava que as pombas (os fiéis) se afastassem dos frutos (as ordens divinas, no abrigo da Igreja) para desencaminhá-las.

O primeiro texto conhecido a transformar animais em alegorias religiosas foi o “Physiologus”, uma compilação explicitamente cristã de uma série de lendas com origem nas tradições judaica, indiana e egípcia, acrescida de contribuições gregas dos textos clássicos sobre o mundo natural de Aristóteles, Heródoto e Plínio, escrito em grego em Alexandria no século II ou III dC., contendo uma interpretação moralizadora. O manuscrito foi traduzido para a maioria das principais línguas da Europa e da Ásia Ocidental, e muitas variações na redação apareceram ao longo dos séculos. Com o passar dos tempos seu conteúdo original, que descrevia somente algumas dezenas de bichos, continuou a acumular mais bestas e interpretações morais adicionais. 

Em torno do século VII, o arcebispo Isidoro de Sevilha escreveu o “Etymologiae” para preservar o conhecimento da Antiguidade, uma enciclopédia que inclui uma parte sobre animais derivada de livros de autores clássicos como Plínio, o Velho. Ainda assim, nesta parcela destinada às bestas, não se verifica a lição cristã da mesma maneira que aparece no “Physiologus”, demonstrando o caráter enciclopédico desta obra.

Quando o “Physiologus” combinou com o “Etymologiae” e alguns outros textos, nasceu o que ficou conhecido como bestiário. Este livro das bestas, a exemplo do “Physiologus”, também descreve uma criatura e usa esse relato como base para um ensino alegórico mas, além disso, insere materiais de outras fontes, promovendo uma descrição do mundo como era conhecido.

Estes manuscritos geralmente eram ilustrados, às vezes ricamente, como no Harley Bestiary e no Aberdeen Bestiary. Suas imagens serviram de linguagem visual para o público sem instrução, que conhecia as histórias, provavelmente pelas pregações e sermões, e lembrar-se-ia da doutrina moral simplesmente quando via a besta retratada. 

As figuras não apareciam somente nos bestiários, mas em diversos outros tipos de manuscritos, pintadas em paredes e trabalhadas em mosaicos, em tecidos e tapeçarias, e, é claro, abundantemente em localidades e prédios religiosos (esculpidas em pedra e madeira, em misericórdias - uma pequena estante de madeira na parte de baixo de um assento dobrável em uma igreja, instalado para fornecer um grau de conforto para quem se mantém durante períodos de oração - e em outros móveis decorados). 

As ilustrações geralmente não eram realistas, pois o artista nunca viu um exemplar da besta, mesmo quando não era fabulosa. Então, a título de exemplos, os ilustradores europeus muitas vezes desenhavam o crocodilo como mais semelhante a um cão, o avestruz contendo cascos, a baleia como um grande peixe escalado, e até serpentes com pés e / ou asas. Talvez eles tenham baseado seus desenhos em um animal ainda desconhecido nas descrições registradas disponíveis naquele momento, ou em outras ilustrações e esculturas que havia visto mas que não representavam exatamente os fatos. 

Muitos manuscritos ficaram com imagens bem peculiares e curiosas, devido à simples falta de habilidade do ilustrador, que eventualmente era o monge mais artístico do mosteiro contudo não um verdadeiro artista. Já outras gravuras só podem ser consideradas como obras de arte, com pinturas magníficas em muitas cores e um uso generoso de ouro.

Porém, quando se tratava de animais fabulosos, como o grifo, o unicórnio, o hipocampo, o dragão ou a fênix, ao desenhista não restava alternativa a não ser seguir as narrações ou imagens anteriores. Acreditando na existência de tais criaturas ou que são apenas fruto do imaginário humano, o fato é que algumas delas são mencionadas na Bíblia (como o unicórnio e o dragão), e como esta é reconhecida como a verdadeira Palavra de Deus, qualquer ser que lá esteja certamente deve existir ou ter existido. Além da credulidade religiosa medieval, havia a crença na veracidade dos textos de autoridades antigas como Plínio e Aristóteles, os quais claramente confirmam as bestas e os lugares onde poderiam ser encontradas.

Mas como já escrevi, sendo estes animais imaginários ou não, continuavam adequados como veículos para ensino moral e religioso, mesmo quando se tratavam de criaturas fantásticas pagãs. Tanto é assim que foram retratados em documentos produzidos, inclusive e principalmente, dentro de mosteiros, uma contradição se tivermos em mente que era uma época na qual o cristianismo se tornou hegemônico e substituiu os traços do paganismo.

As lendas pagãs eram adaptáveis a muitos contextos, o que certamente facilitou sua popularidade no mundo medieval. Podemos afirmar que a Idade Média deu continuidade à tradição clássica e pagã, e também as inovou, com os seres adquirindo propósitos de representar ideais cristãos, positivos ou negativos. No final do período, a redefinição destas feras possibilitou que fizessem parte de uma produção cultural que estava sendo edificada no próprio espaço da religião.

Na Idade Média, grande número de bestiários foi escrito em latim, a língua comum de estudiosos e clérigos, embora muitos o foram em línguas vernáculas, principalmente no francês. Normalmente seus autores ou compiladores são desconhecidos, entretanto, na França, vários em versos vernáculos apareceram e, nestes, o autor geralmente nos dá seu nome, como Gervaise, que escreveu seu “Bestiaire” no dialeto normando no início do século XIII, ou Philippe de Thaon, que grafou o seu em anglo-normando.

Os bestiários foram produzidos principalmente na Inglaterra e, dentre os outros lugares onde foram manufaturados se destaca especialmente a França. 

No escopo de classificá-los, estabeleceram-se vários grupos distintos destes livros, ou “famílias”, como ficou conhecido, segundo os manuscritos relacionados e as influências recebidas.

Nos séculos XIII e XIV, surgiram uma série de enciclopédias, redigidas particularmente em latim, por escritores como Jacob van Maerlant, Bartholomeus Anglicus, Konrad von Megenberg, Lambert de Saint-Omer, e Hrabanus Maurus. Esses textos não são bestiários porque, mesmo que contenham algum material correlato, geralmente não usavam alegorias. São obras que têm seções sobre bestas, mas também cobrem toda a gama do conhecimento em categorias como teologia, filosofia, zoologia, astronomia, medicina, cronologia, botânica e geografia. Seus autores copiavam materiais uns dos outros e de expoentes anteriores, como Isidoro de Sevilha, Plínio, Aristóteles, dentre outros. 

No entanto, a moralização animal medieval não foi sempre de conteúdo religioso, como nas fábulas bem conhecidas do antigo escritor grego Esopo e em outros contos envolvendo bichos. Uma das séries mais populares tem a ver com o protagonista Renart, a Raposa, uma figura que certamente não é um exemplo para a vida adequado, já que suas narrativas o mostram como um mentiroso, um ladrão e um assassino, sempre saindo com suas faltas ao final e geralmente com grande custo para os que o rodeiam. As histórias de Renart foram populares nos Países Baixos, Alemanha e França, onde várias versões vernáculas foram produzidas.

Posté par Elise Dawson

 

 

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Commentaires (7)

 

O Physiologus apresenta algumas histórias alegóricas se referindo aos feitos de Jesus Cristo. É o caso do unicórnio, que acaba representando a Encarnação, pois se afirma que apenas poderá ser feito prisioneiro quando estiver repousando no colo de uma virgem pura. Há também o pelicano, que alimenta seus filhotes com seu próprio sangue para que possa transmitir parte de sua vida a eles, virando um símbolo da Salvação.
Por vezes, mais de uma guardam semelhanças entre si nas referências a Cristo, como por exemplo na história da fênix que queima a si mesmo, morrendo, mas que depois de três dias ressurge das cinzas, e na da leoa cujos filhotes são natimortos, mas que ao suspirar sobre eles, os revive no terceiro dia.
Em síntese, o Physiologus procura demonstrar forte valor didático e muitas afinidades com os acontecimentos narrados nos textos da religião cristã.

Posté par Regina Geviewski, 14 mars 2005 à 19:09 | Répondre

 

O Bestiário de Aberdeen, uma compilação de vários livros semelhantes, principalmente o “Physiologus”, e que também inclui capítulos do Gênesis, é considerado um dos melhores. Se trata de um manuscrito belissimamente iluminado (tem pinturas decorativas chamadas iluminuras) e escrito na Inglaterra durante o século XII em latim, incluindo notas, esboços e outras evidências da forma como foi concebido e executado.

Para organizar o gênero, se desenvolveu o conceito de classificação de famílias, segundo obras relacionadas. Montague Rhodes James, um medievalista e escritor britânico, em 1928, dividiu os bestiários em quatro famílias:

A primeira consiste no “Physiologus” mais extratos das “Etymologies” de Isidoro de Sevilla; a segunda inclui os textos desenvolvidos durante o século XII, entre os quais está o Bestiário de Aberdeen; a terceira compreende os bestiários que aparecem no século XIII; e a quarta família é baseada principalmente em “De proprietatibus rerum”, de Bartholomeus Anglicus, a partir do século XV.

Posté par Priscila Ladwig, 14 mars 2005 à 19:37 | Répondre

No Bestiário de Aberdeen, aparece uma criatura denominada yale, com o tamanho de um cavalo, mandíbulas de um javali, rabo de um elefante, e chifres longos e ajustáveis aos seus movimentos. Estes últimos não são fixos, mas móveis, podendo se mover independentemente para qualquer direção, o que ajuda muito nas variações de necessidades de combate. Em gravuras, normalmente é retratado com chifres em direções opostas. Nas batalhas, inicialmente o animal mantém um de seus chifres voltado para trás. Se o da frente for danificado, passará a usar o outro.
Em alguns bestiários, o basilisco é apresentado como inimigo dos yales, os picando nos olhos quando estão dormindo, o que faria com que suas vistas inchassem até explodir.
Aliás o basilisco, descrito como uma serpente com cabeça de galo que nasce quando um ovo de galinha é chocado por um sapo, e que tem a capacidade de matar apenas fixando o seu olhar sobre a presa, também é outra criatura presente em bestiários.

Posté par Renato Villela Filho, 14 mars 2005 à 22:02 | Répondre

 

Os primeiros e verdadeiros bestiários, antologias exaustivas do mundo natural, apareceram na Grécia antiga, e serviam como um meio de catalogar e descrever todos os animais e plantas conhecidos, míticos ou não e, em particular, os que tinham usos curativos ou eram dignos de nota.

No período medieval, quando se tornaram extremamente populares, a religiosidade e as alegorias passaram a incidir nessas descrições, fazendo com que muitas criaturas ganhassem poderes milagrosos ou fossem representadas como símbolos de redenção, salvação e renascimento. A mistura entre fato e ficção se tornou constante, e os relatos genuínos de animais, pássaros, insetos, e plantas da vida real foram listados ao lado de descrições ridículas de animais bizarros e lendários.

Posté par Astrid Steux, 14 mars 2005 à 20:50 | Répondre

 

No período da baixa Idade Média, após o fim das invasões bárbaras, onde uma relativa paz reinou na Europa entre os séculos X e XV, tornou-se uma atividade comum nos monastérios a produção de Bestiários que buscavam retratar toda a animália conhecida, real ou não. Assim sendo, seres mitológicos como unicórnios, fênix e grifos apareciam junto a leões, raposas e gansos.

Um destes seres é o hydrus, descrito como uma serpente do rio Nilo que devora crocodilos de dentro para fora. Segundo consta nos bestiários, quando o hydrus vê um crocodilo de boca aberta, rola na lama para ficar mais escorregadia, entra nele, e passa a consumir suas entranhas até sair pela barriga do animal já morto.

Outro é o monocero, parecido com o unicórnio ou, de acordo com certos livros de bestas, correspondente a ele, retratado em um bestiário do século XIII como tendo o corpo de um cavalo, os pés de um elefante e uma cauda de um veado, além de um chifre no meio da cabeça extremamente comprido e esplendoroso que, de tão afiado, furaria qualquer coisa. Ainda conforme o texto, somente poderia ser capturado morto.

Posté par Celso Schaefer, 14 mars 2005 à 21:43 | Répondre

Cito outros quatro exemplos que me recordei agora.

O parandrus, ou tarandos, uma criatura da Etiópia do tamanho de um boi, tem a cabeça de veado com chifres em ramificação, com cabelos compridos e cascos trançados, que pode mudar sua aparência para se esconder e teria habilidades de mimetismo, camuflando seu corpo no meio. O nome científico da rena, Rangifer tarandus, é derivado do nome tarandos.

A manticora, semelhante à uma quimera, tinha a cabeça de uma pessoa, o corpo de um leão vermelho, a cauda de escorpião, uma voz como um assobio e três fileiras de dentes semelhantes a um pente.

Já o Cinocéfalo, que significa literalmente "cabeça de cão", e para alguns escritores antigos era o nome de uma espécie de macaco com cara de cão nativa da Etiópia, era um ser que sempre dá à luz a gêmeos, um dos quais será sempre amado pela mãe e o outro sempre odiado.

Também há o onocentauro, um parente do centauro, mas que tinha a cabeça e o tronco de um homem e o corpo e as pernas de um burro, e não de um cavalo.

Imagens heráldicas e brasões medievais apresentavam, com freqüência, animais fantásticos existentes em bestiários.

Posté par Adilson Saad, 15 mars 2005 à 20:30 | Répondre

 

O Romance de Renart (Le Roman de Renart), foi escrito entre 1170 e 1250 e é formado por um conjunto de 27 poemas reunidos de modo incoerente ao longo do século XIII, que pertencem a vários autores, na maioria anônimos. Nele se parodia as situações da sociedade cavaleiresca onde as personagens são animais, sendo a mais importante uma raposa. Sua base são as fábulas de Esopo, que foram recolhidas e agrupadas na Idade Média e intituladas Isopetos, da história de Ysengrinus do clérigo flamengo Nivard, onde já se encontra a personagem Reinardus, e de uma longa tradição de histórias de animais.
Renart assume diversas formas:- um ladrão astuto, um malicioso sedutor, com o dom da persuasão pela palavra, ou um demônio hipócrita. Sempre pretende levar a melhor sobre os outros.
A raposa desempenha papel destacado no imaginário popular francês, desde a Idade Média até aos nossos dias, sobretudo na literatura infantil. O termo "renart" atingiu um valor tão grande que chegou a substituir outros termos na língua francesa para designar "raposa".

Posté par Eliane Giaffone, 15 mars 2005 à 19:22 | Répondre

 

 

12 février 2005

Se espalhando pelo mundo.

 

O termo diáspora, que significa “dispersão” em grego antigo, indica o deslocamento de grandes massas populacionais, de modo incentivado ou forçado, que abandonam uma específica área nativa e vão para outras distintas. Comumente é usado como referência à remoção do povo judaico de sua pátria no mundo antigo, através de seu exílio na Babilônia, no século VI aC., e depois da destruição de Jerusalém, em 70 dC. Mais tarde, no decorrer dos tempos, esta população também foi exilada de seus países de acolhimento ou migraram voluntariamente para outros de acolhimento secundário e terciário, escrevendo uma história marcada por sucessivas debandadas e diásporas dentro de diásporas.

O primeiro exílio judaico permanente foi o assentamento na Babilônia criado pelas deportações de Judá, determinadas por Nabucodonosor II. Mas esta dispersão se inicia antes, por volta de 722 aC., quando o reino de Israel (ao norte) é destruído pelos assírios e suas dez tribos são levadas como cativas à Assíria, e Judá (ao sul) passa a pagar altos impostos para evitar a invasão dos mesmos, o que não será possível fazer com Nabucodonosor II.

O Reino de Israel teria sido a Nação formada pelas 12 Tribos de Israel, sendo seu povo descendente de Jacó, Isaac e Abraão. Salomão construiu o Templo de Jerusalém (o famoso Templo de Salomão, construído no século XI aC., tendo funcionado como um local central de culto religioso para a adoração a Javé, Deus de Israel, e onde se ofereciam os sacrifícios conhecidos como “korbanot”), o que gerou um aumento considerável nos impostos, que continuaram a recair sobre a população mesmo depois do fim da obra, causando forte descontentamento. Após sua morte, no período em que seu filho Roboão assumiu o trono, a insatisfação com os tributos acabou ocasionando o desmembramento do reino, com as 10 tribos do norte separando-se e proclamando Jeroboão como seu rei. O estado então foi dividido em Reino de Israel, ao norte e tendo como capital Samaria, e o Reino de Judá, ao sul e com capital em Jerusalém, divisão esta que os colocou em uma posição política fraca, prisioneiros do jogo político das potências estrangeiras da antiguidade, especialmente do crescente poder dos assírios.

Ambos os reinos foram travando disputas para conquistar um ao outro até que, pouco antes de 720 aC., o soberano assírio Salmanaser V invadiu a parte norte, após o rei Oseias ter recusado a pagar impostos à Assíria, o prendendo e ao povo israelita, e os levando. Os israelitas exilados pelos assírios não ficaram muito tempo como um grupo separado.

Com isso, o Reino de Judá se beneficiou, e ainda obteve um prolongamento de independência considerável por conta da posterior guerra travada entre Assíria e Babilônia. Mas, posteriormente, depois de vencer os assírios, o babilônio Nabucodonosor II arruinou Jerusalém, destruiu o Templo, e colocou um fim à liberdade dos judeus, dando início ao que ficou conhecido como o Exílio ou Cativeiro Babilônico, nome usado para a saída forçada dos habitantes do antigo Reino de Judá para a Babilônia.

Em 609 aC. houve a primeira deportação. Em 598 aC., o Templo de Jerusalém é parcialmente saqueado sendo que o rei de Judá e uma grande parte da nobreza, dos oficiais militares e dos artífices são levados para o exílio. E, em 587 aC., depois de uma rebelião, ocorre a terceira deportação com a conseqüente destruição de Jerusalém e de seu Templo. Gedalias, nomeado por Nabucodonosor II, ficou governando os poucos judeus remanescentes na área. Dois meses depois, com o assassinato deste administrador, os poucos habitantes que restavam fugiram para o Egito com medo de represálias, deixando a terra de Judá efetivamente sem habitantes e suas cidades em ruínas.

Embora o cativeiro da Babilônia seja geralmente considerado como um exílio total dos judeus, basicamente a transferência da população apenas afetou as classes superiores. Os conquistadores tinham interesse em evitar o ressurgimento de um forte poder político, e para isso, enviaram à força a classe dirigente capaz de liderar uma possível revolta. As pessoas comuns não foram muito afetadas por estas deslocações.

A perda da independência nacional foi um enorme trauma para o povo que, como uma defesa psicológica, deram o antigo Javismo nacionalista à religião moderna do Judaísmo. Eles também prepararam as primeiras esperanças messiânicas, e acreditavam que Javé os estava testando para produzir oportunamente uma mudança milagrosa em circunstâncias que traria consigo o fim dos tempos e a restauração da independência judaica.

Apesar de tudo isso, o grupo de exilados prosperou, segundo sugere textos bíblicos como os livros de Daniel e Ester, nos quais teriam alcançado posições elevadas entre os mesopotâmicos. 

No Cativeiro também teriam feito contato com as práticas idólatras dos babilônios, descritos em detalhes no livro de Baruque (secretário do profeta Jeremias). Se trata de uma carta (Capítulo 6) que Jeremias ditou a Baruque para comunicar este assunto aos judeus antes da sua deportação, a fim de preveni-los de práticas que Javé considerava contrárias ao monoteísmo e, portanto, pecaminosas. No texto houve a descrição de figuras de ouro, prata e madeira, feitos por artesãos e ourives a altos preços, com coroas na cabeça, vestes luxuosas, cobertas de ouro, e seguidas em frente e atrás por multidões que adoravam-nas, na esperança de adquirir prosperidade e proteção.

No ano de 538 aC., o rei persa Ciro II conquistou a cidade de Babilônia e destruiu seu império, autorizando, em 537 aC., através do que ficou conhecido como Decreto de Ciro, que os judeus exilados pudessem regressar à terra de Judá, em particular para Jerusalém, para reconstruir o Templo. Ele deu a esta cidade um status de semi-autônoma, possivelmente para ter um “estado tampão” que serviria como um baluarte contra o poder cada vez maior do Egito.

Embora Ciro II tenha permitido que os exilados retornassem para Jerusalém, o que de fato aconteceu em várias ondas durante o período persa, uma população considerável deles continuou a residir na Mesopotâmia e desempenhou um papel influente na história intelectual judaica a partir do século III dC.

Em Jerusalém, o Templo foi reconstruído por Zorobabel, e os judeus conseguiram manter um estado semi-independente até o fim do Império Persa em 332 aC.

 

As diásporas foram uma característica comum do mundo helenístico-romano. No século IV aC., colônias de comerciantes egípcios, fenícios e sírios freqüentemente estavam nos portos marítimos da Grécia e da Itália. Após as conquistas de Alexandre o Grande, os gregos e os macedônios constituíram uma imensa diáspora em todo o Oriente Próximo. O reassentamento étnico e a difusão religiosa ficaram de mãos dadas, à medida que os colonos trouxeram consigo cultos ancestrais e ganharam para seus deuses novos adoradores entre os habitantes locais. 

Embora não tenha sido a única, a diáspora judaica foi excelente em sua capacidade de preservar e perpetuar sua identidade a uma distância considerável da pátria e em grandes períodos de tempo.

Quando a presença romana foi sentida no Oriente, o crescimento do assentamento judeu mais a oeste se seguiu. A captura de Jerusalém por Pompeu em 63 aC. envolve o envio de muitos prisioneiros como escravos para Roma, o que fundou a diáspora no Ocidente.

Em meados do século I aC., o estadista romano Cícero, no seu discurso em defesa de Flaco, em "Pro Flaccus", já insinua que os judeus eram um elemento problemático entre as comunidades romanas. Inúmeros documentos, cartas e registros romanos atestam o aumento da população judaica em territórios ocidentais.

Grandes massas de judeus foram trazidas para Roma como escravos de generais romanos que faziam campanha na Judéia. Resgatados por outros judeus e aumentados por um fluxo constante de migrantes voluntários, eles incharam a comunidade romano-judaica, apesar dos esforços ocasionais do governo, sob um pretexto ou outro, para reduzir seus números. De acordo com observações satíricas de poetas romanos, a maioria deles era pobre e alguns eram mendigos, mas havia artesãos, lojistas, e atores, além de diplomatas, estudiosos e comerciantes.

O imperador romano Tito Flávio Vespasiano Augusto (“Titus Flavius Vespasianus Augustus”), sucessor de Vespasiano, cujo governo se deu entre os anos de 79 e 81 dC., alcançou renome como comandante militar ao servir na Judéia durante o conflito conhecido como a Primeira Guerra Judaico-Romana (de 67 a 70 dC.).

Depois da morte do imperador Nero, em 9 de junho de 68 dC., Vespasiano foi proclamado imperador pelas suas tropas, e iniciou a sua participação no conflito civil que assolou o império durante o ano da sua nomeação como tal, conhecido como o Ano dos Quatro Imperadores.

Após sua posse, a Tito foi dada a responsabilidade de acabar com os judeus revoltosos, tarefa realizada satisfatoriamente em 70 dC. com a destruição de Jerusalém e a demolição de seu Templo no incêndio. Sua vitória foi recompensada com um triunfo, cerimônia feita para homenagear um comandante militar que obteve muito sucesso em uma guerra ou campanha no estrangeiro, e comemorada com a construção do Arco de Tito.

A guerra na Judéia promovida por Tito desempenhou um papel importante durante a dispersão de judeus em todo o mundo, pois acarretou uma nova diáspora, fazendo com que fossem para outros países do sul da Europa, Ásia Menor, ou África. Mas o evento chave para o judaísmo é a destruição do Templo, aquele que o povo judeu construiu após seu regresso a Jerusalém, depois de anos no Cativeiro Babilônico, no mesmo local onde o Templo de Salomão existira antes de ser destruído, pois transferiu a autoridade religiosa dos altos sacerdotes do Templo aos rabinos.

Alguns judeus foram vendidos como escravos e outros se juntaram às diásporas existentes, enquanto outros começaram a trabalhar no Talmude. Estes foram geralmente aceitos dentro do Império Romano, mas com a ascensão do cristianismo, novas restrições apareceram.

Os estabelecimentos do Império de Alexandre Magno e, mais tarde, do Império Romano, que controlavam vastos territórios, facilitaram o assentamento permanente dos judeus e a criação de comunidades em várias partes desses domínios, bem como a comunicação entre os diversos grupos dispersos. A tendência expansionista continuou, e a migração judaica foi se espalhando do Oriente Médio, Grécia e Roma para o norte da África, o restante da Europa e Ásia. 

Mais tarde, seja de maneira voluntária ou pelas perseguições, anti-semitismo ou anti-judaísmo, os judeus migraram e estabeleceram movimentações diásporas para as Américas, Austrália e África do Sul. De um modo geral, mesmo quando a situação geopolítica regional mudou e se apresentou como desfavorável, não mudaram para o território da antiga pátria. Com a criação do estado de Israel, em 1948, muitos deles para lá se dirigiram, até pelo motivo de terem sido expulsos de países árabes onde residiam havia séculos.

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

Captura de embarcações.

Para reparar a honra ofendida.

A grande inundação.

Mitologia aborígene.

Uma antiga religião persa.

 

 

Commentaires (8)

 

As diásporas em geral, e a judaica em particular, são eventos complexos muito importantes que desempenham um papel crescente na maioria dos estados do mundo, bem como na política regional, internacional e transnacional.

Os judeus, de fato, tiveram muitos problemas nos países que os acolheram posteriormente. Comumente são divididos em dois grupos principais:- os asquenazitas do norte e leste da Europa e os sefarditas da Península Ibérica e do Mediterrâneo. Estes últimos foram expulsos de lá pelo crescente cristianismo do século XV, e migraram para outros países, inclusive para o continente americano.

Todos os grupos judaicos partilham uma série de histórias paralelas de perseguição e deportação.

Posté par Celso Schaefer, 12 février 2005 à 18:59 | Répondre

 

O povo judeu é o único que veio ao mundo com o dever divino de habitar uma específica área do planeta, de nome Canaã (Israel). Ao longo da história, todavia, se espalharam e formaram comunidades em inúmeros países onde, com exceção de Israel, têm vivido como minorias. Tantas travessias produziram grande diversidade de grupos judaicos, que influenciaram e foram influenciados pelos lugares onde viveram.

Posté par Eliane Giaffone, 12 février 2005 à 19:41 | Répondre

 

O povo judeu foi se distribuindo por várias localidades do Mundo Antigo, em considerável número e de modo forçado ou voluntário, mesmo fora das massificadas diásporas relatadas. Assim foi no Egito, por exemplo.

Apenas para contextualizar historicamente, o assunto da sucessão ficou indefinida depois da morte prematura de Alexandre Magno. Seus generais (os diádocos) se dividiram entre os que desejavam manter a unidade do império e os que queriam dividi-lo, enfrentando-se em diversas batalhas por diferentes objetivos no período que se seguiu, entre 323 a.C. e 280 a.C. Em torno de 270 a.C., uma tríplice divisão do território foi aceita de forma definitiva, onde Antíoco (filho de Seleuco, um general de Alexandre) ficou com a Síria e a Pérsia (dando origem à dinastia dos Selêucidas), Antígono Gónatas (neto de Antígono Monoftalmo, também general de Alexandre Magno) deteve as regiões européias (dinastia Antigônida), e os Ptolomeus governaram o Egito (dinastia dos Lágidas ou Ptolemaica).

Esta última recebeu esta designação devido ao fato dos seus soberanos terem assumido o nome Ptolomeu (igualmente um dos generais do conquistador macedônio, que iniciou esta dinastia). Também é conhecida como Lágida em função do nome do pai do general Ptolomeu ser um nobre de nome Lago.

Muito bem, durante o governo ptolemaico da Judéia, o assentamento judeu em grande escala começou no Egito. Sob os primeiros governantes desta dinastia, os cativos judeus, quando libertados, estabeleceram comunidades em todo o país. Além disso, os Ptolomeus trouxeram soldados judeus e suas famílias, e outros mais migraram da Judéia para o Egito provavelmente por razões econômicas.

Entre os judeus egípcios no tempo helenístico havia camponeses e pastores, bem como generais no exército ptolemaico e oficiais, tanto no serviço civil como na polícia.

Posté par Ana Maria Karmazen, 12 février 2005 à 20:13 | Répondre

Ainda antes dos tempos ptolemaicos, assentamentos judaicos foram estabelecidos no Egito por contingentes de soldados judeus trazidos pelos persas, que formaram comunidades exiladas e pós-exiladas num modesto prelúdio para a notável expansão e distribuição que viria a ocorrer na era helenística.

Vários fatores orientaram a propagação das dispersões judaicas nos tempos helenistas, das quais a história política da bacia mediterrânea foi a mais importante.

A cidade de Alexandria, a capital dos Ptolomeus e centro intelectual da civilização helenística, tornou-se uma das comunidades judaicas mais populosas do mundo entre o século III aC e o final do primeiro século dC, incluindo nela comerciantes, banqueiros e artesãos. Esta dinastia também criou colônias judaicas nas cidades da Cirenaica (nome da costa oriental da moderna Líbia).

Acredita-se que os Falashas (ou "exilados", em amárico), os judeus negros da Etiópia, podem provir de contatos com os judeus egípcios durante a época helenística e romana.

Posté par Vlamir Scarpellini, 12 février 2005 à 22:12 | Répondre

Alexandria foi um centro de aprendizagem cristã, judaica e grega.
Uma das maiores realizações da Biblioteca de Alexandria e do centro de aprendizado foi a criação do Antigo Testamento por 72 estudiosos judeus, reunidos por Ptolomeu, para traduzir o Torá.
De acordo com uma lenda judaica, Ptolomeu pediu a cada um dos estudiosos judeus para individualmente traduzir toda a Bíblia hebraica, e milagrosamente, como resultado, foram 72 versões idênticas.

Posté par Cássio Siemens, 13 février 2005 à 20:19 | Répondre

Quando os selêucidas assumiram o controle da Judéia, grande movimentação populacional judaica ocorreu ao norte.

Em torno do período 210DC-205DC, o rei selêucida Antíoco III mudou milhares de soldados judeus com suas famílias para a Ásia Menor. Assim sendo, dentro de dois séculos, grandes comunidades judaicas encontraram-se em Antioquia e Damasco, nos portos fenícios e nas cidades de Halicarnasso, Sárdis, Éfeso e Pérgamo.

No início da Era Cristã, os judeus já viviam na maioria das ilhas do Mediterrâneo oriental, como Chipre e Creta, na Grécia continental e na Macedônia, nas margens do Mar Negro e nos Bálcãs. Inscrições judaicas dos primeiros tempos cristãos foram encontradas na Criméia e nas áreas das modernas Hungria e Romênia.

Posté par Flaviana Marchetti, 12 février 2005 à 21:45 | Répondre

 

Certamente alguns dos judeus na Itália provavelmente são descendentes dos 5 mil cativos que o Imperador Titus trouxe para lá após a destruição do Segundo Templo. Mas acredita-se que a maioria se estabeleceu antes por causa da importância de Israel como um centro de comércio marítimo.
Há uma lápide de uma sepultura encontrada na Itália, datada do século I d.C., que se credita pertencer a uma mulher de 25 anos, escrava doméstica judaica, onde se lê "Claudia Aster, cativa de Jerusalém. Tiberius Claudius Proculus, homem que viveu na época do império e foi liberto, cuidou deste epitáfio. Peço-lhes que assegurem, por lei, que ninguém danifique minha inscrição."
Certos historiadores consideram que alguns dos judeus do sul da Itália tenham sido os ancestrais dos primeiros que se estabeleceram no norte e no leste da Europa.

Posté par Regina Geviewski, 13 février 2005 à 12:06 | Répondre

 

A evolução do hebraísmo, religião baseada apenas nas escrituras do Antigo Testamento, para o judaísmo, com rabinos e doutrina de religião interpretada pelos mesmos, foi uma transformação lenta que começou na destruição do Segundo Templo e a compilação da Mishná (documento canônico do judaísmo que segue a Bíblia) no século II DC. Durante este tempo, esta religião abraâmica absorveu novas idéias e enfrentou novos problemas, muitos resultantes da guerra e do deslocamento.
Os rabinos criaram o judaísmo reconstruindo a religião dos judeus interpretando a Torá baseado em tradições orais. Seus registros formaram a base para a Mishná e o Talmude.

Posté par Thais Cristina Fogaça, 13 février 2005 à 21:30 | Répondre

 

 

16 janvier 2005

Também falta honestidade intelectual.

 

A honestidade intelectual é considerada um culto à verdade, ao apreço pela objetividade, e à verificabilidade, e o desprezo pela falsidade e auto-engano. Uma pessoa é intelectualmente honesta quando, verdadeiramente, está disposta a abandonar suas convicções, ou mesmo adotar outras, caso fique demonstrado que as mesmas são internamente inconsistentes e incompatíveis com enunciados que reportam fatos. Através dela, quem está pensando se apresenta à surpresa das conclusões da sua reflexão, e está propenso a apoiá-las mesmo que não lhe convenha.

O desonesto intelectual nega a verdade com argumentos consistentes, porém falsos. Nesta insinceridade ocorre a defesa de uma posição que sabe ser falsa ou enganosa, ou a omissão consciente de aspectos verídicos conhecidos ou acreditados como sendo relevantes ao contexto.

A crítica racional deve ser sempre baseada em fundamentos concretos. As pessoas devem evitar as tentações de demagogia, as omissões interessadas, as manipulações sentimentais, os argumentos “ad hominem”, e todas aquelas armadilhas com as quais têm a intenção de prevalecer em uma argumentação que despreza a busca da verdade que está em jogo em cada momento. Deve-se ser guiado pela idéia de chegar o mais perto possível da verdade objetiva. Deve-se, a este respeito, ser impessoal.

Quando nos envolvemos em um diálogo com um fanático, um oportunista, um militante, ou um mau-caráter, figuras que lucram com a democracia técnica e teórica, isso é quase impossível. A honestidade intelectual exige coerência, solidez e sinceridade de princípios pelo emissor, não só dentro das alegações apresentadas na dialética mas, principalmente, para consigo, seu pensar, seu pesar e medir, e suas convicções.

Ser intelectualmente íntegro significa não se prender em pessoalidades nem ver a quem, somente ser livre e ser fiel a si mesmo, e dar vazão ao que sabe ser o certo e o justo. O único local onde as partes devem se encontrar é no campo dos debates sobre idéias, e não no do egoísmo ou sadismo das vaidades. As “lutas” devem visar somente a melhor argumentação apresentada, aquela que glorifica a justiça, a lógica, o bem e a razão, e não a mera sensação de ficar com a razão ou a justificação da incoerência, da falsidade ou da injustiça.

O desafio não é vencer o debate, mas saber intimamente quando foi derrotado, e demonstrar isso, sem mentiras ou racionalizações, externamente.

A execução da honestidade intelectual exige, portanto : coragem intelectual, que é a iniciativa para defender a verdade e criticar o erro qualquer que seja sua fonte e, particularmente, quando o equívoco é próprio; independência de juízo, onde apenas convence a si mesmo conforme as provas demonstradas, sem segundos interesses ou vaidades; amor pela liberdade intelectual e, por extensão, pelas liberdades individuais e sociais que as tornam possíveis; e senso de justiça, ou seja, a vontade de ter em conta os direitos e opiniões dos outros, avaliando suas respectivas fundações.

Em qualquer caso, essas virtudes devem vir de um código interno, auto-imposto, e não depender de uma sanção externa. Afinal, uma pena que ainda não se possa “abrir a cabeça” ou “olhar o espírito” do indivíduo para conferir se é sincero no que fundamenta ou se está ocultando algo. Até dá para conferir suas mentiras pelos olhares, pelo desconforto, pelo seu tremular, enfim, pela fisionomia, quando continua a sustentar suas teses mesmo ciente de que se equivocou. Impossível não perceber seu medo, seu descontrole, sua hipocrisia. Alguns querem “apagar” estes visíveis sinais, o que eleva ao cubo sua desonestidade, levando no grito ou no soco a questão, principalmente por ser sabedor de que está errado ou de que aquilo que vociferou contra o outro serve para si, algo que o outro percebeu muito bem. No fundo, com o berreiro que promove, quer oprimir a razão interna que lhe indica seu erro e evitar a perda ou punição que bem sabe que merece.

Todavia muitos assimilaram a insinceridade intelectual (e a mentira em geral) como a essência de seus discursos e a base de suas vidas a tanto tempo, em inúmeras vezes, e com tanta naturalidade, que os indícios das falhas morais mal podem ser notados.

Me recordo de uma partida de futebol na qual um jogador cavou um pênalti, anotado pelo árbitro, e um outro simulou ser agredido, o que provocou um cartão vermelho ao seu “agressor”. Nas duas situações não houve qualquer infração, como foi confirmado com as claríssimas imagens das emissoras de TV, captadas por vários ângulos. Os atletas nem se tocaram nos dois lances. Ao final da peleja, nas entrevistas concedidas, ambas as “vítimas” confirmaram as transgressões que receberam a todos os repórteres, sem demonstrarem dúvidas, sem qualquer movimento suspeito em seus olhos, se pronunciando com firmeza e convicção. Um deles, o “agredido”, ainda disse que perdoava o adversário pela investida que teria lhe dado.

É fato que a desonestidade intelectual é institucionalizada em certas áreas em específico, como a advocacia e a política, atividades nas quais a mentira é intrínseca e as benesses só podem ser alcançadas com hipocrisia, portanto faz parte do contexto rotineiro para vencer as discussões e manter para si a razão. São esferas onde a perícia é voltada para omitir comprometimentos, ou para trazer argumentos que a parte contrária desconhece, não tem como descobrir, ou não tem como provar que são falsas, ou para apresentar teses que sabe não corresponderem ao conteúdo da demanda mas que podem ser moldadas e encaixadas nas normas ou na situação fática (muitas vezes, mentiras absolutamente montadas, escancaradas e deslavadas). Tudo dentro da aparência fria e técnica da legislação vigente ou, simplesmente, firmada na improdutiva “palavra de um contra a do outro”.

A mentira nunca está ausente, mas nem sempre ocupa o lugar principal. A hipocrisia e o cinismo, tão evidentes nos administradores públicos e naqueles que reclamam das atitudes destes mas, indubitavelmente, farão o mesmo caso ingressem em cargos estatais, são características proeminentes dos discursos e das práticas de padrões duplos.

A verdade não importa para essa gente e, assim sendo, suas manifestações são sempre papo furado, besteira, conversa mole, palavrório, charlatanismo. Uma exposição vazia de quem lucra com a aparência de democracia e se nega à transparência, que não tem substância ou conteúdo, que mata a ideologia e cai claramente às vistas de quem é sábio. O que interessa ao mentir é atingir os seus objetivos e, para isso, aspira manipular as opiniões e atitudes, sem colocar qualquer atenção para a relação entre sua baboseira e a verdade.

Quando o discurso é construído com uma sucessão de mentiras, o que importa não é tentar enganar a respeito de cada uma das coisas que deturpou, mas enganar sobre as intenções do que faz. O problema não é relatar a verdade ou ocultá-la. Dizer a verdade ou falsificá-la exige ter uma idéia do que é verdadeiro. Seu olhar não é dirigido para nada dos fatos, ele não se importa se as coisas que diz descrevem a realidade corretamente, só as escolhe ou as inventa para que lhes sirvam para cumprir suas metas.

E, neste rebanho populacional, conseguem o que querem! Numa realidade em que as pertinências partidárias e as identidades ideológicas são frágeis, num momento em que o abismo entre a instrução educacional recebida e a educação efetivamente assimilada não cessa de aumentar, e em que as pessoas cada vez mais agem como consumidores e menos como cidadãos, não surpreende.

O infinito repertório de clichês e chavões, classificados em grandes prateleiras com nomes que são pomposos mas perderam o sentido, como inclusão social, soberania, justiça, ética, dignidade, diversidade cultural, educação, direitos humanos, democracia, direitos das minorias, respeito ao próximo, etc., formam o script de vitimização dos hipócritas, que querem vencer discussões no populismo e não na razão, até pelo motivo de saberem que vão perder caso esta última prevaleça. Então têm substituído o real, o que lhes permite desfrutar dos benefícios imediatos do presente sem que, por isso, se sintam traídos nos princípios.

Esta dissimulação produz vantagens e proveitos para o desonesto intelectual, ao mesmo tempo, criando uma zona de conforto para sua granja. Ela tem sido bem sucedida porque tem se mostrado útil e confortável para a sociedade, a qual vive o hoje sem querer se desgastar com o que está inadvertidamente edificando no futuro. O sucesso da desonestidade antecipa o fim do social, pois a conversa mole corrompe as bases da existência da sociedade, e destrói qualquer relação com a verdade e, ainda mais, com a realidade.

A simulação costuma ficar impune, porque suas teses e promessas nunca podem ser medidas contra as evidências da realidade. Assim, ela instala um presente perpétuo, que cancela cada promessa futura. Continuar a viver sob a simulação é condenar-se a não ter futuro.

Olhemos para onde for, vemos homens e mulheres fazendo esforços extraordinários para não ter de mudar de opinião. A maioria não gosta que a vejam mudar o pensar, embora talvez até estivesse disposta a fazê-lo em seu íntimo, em seus próprios termos, quiçá em uma ocasião posterior, fora das vistas destes que agora a observam. Esse medo de que a imagem pública seja prejudicada envolve um erro fundamental. Ao, teimosamente, se agarrar às suas crenças além do ponto onde sua falsidade tem sido demonstrada, claramente não consegue ver nada direito.

A honestidade intelectual nos permite pensar que estejamos um pouco fora de contato com a realidade, podendo trazer, por tabela, o verdadeiro conhecimento. Tudo depende do entendimento de que querer algo que seja certo não é suficiente para que ele seja. 

Nosso progresso científico, cultural e moral é quase inteiramente o resultado de uma persuasão bem sucedida. Portanto, a incapacidade (ou recusa) de raciocinar honestamente é um problema social. Na verdade, desafiar as expectativas de lógica dos outros é uma forma de hostilidade. 

O dom de mudar de opinião, especialmente em temas e questões significativas, é a única coisa que nos permite esperar que as causas das misérias humanas possam ser finalmente superadas.

Ante o exposto, como todos no Brasil estão cronicamente doentes no caráter e na cabeça, impossível a pessoalidade não preponderar, as alegações serem expostas ou usadas sem a devida honestidade, e as refutações e imposições sem sentido virarem a regra. O brasileiro, um oportunista por excelência, é um indivíduo que normalmente age, se posiciona, opina e participa, por clima de excitação ou pelo que tem a ganhar individualmente com aquilo. Este elemento já não gosta do certo e do justo, mesmo perdendo um tempo enorme clamando por justiça e proclamando o que é direito, sensato e democrático, geralmente em ocasiões sociais, pois a hipocrisia pode lhe trazer vantagens. Somente vai se comportar bem e empregar os conceitos que uma sociedade proba deve conter se sentir medo ou algum tipo de intimidação. Fora isso, se não houver algo que o iniba, seja ser agredido pelo outro, perder ou deixar de ganhar algo, confrontar alguém que tem sucesso social, ou seja lá o que for, VAI PRATICAR ATOS FALHOS E DESACERTOS CONTRA O PRÓXIMO SIM!

Aquele que se mete na questão porque “entrou na onda” é um elemento que, no mínimo, nem deveria ter participação social. Sua “intelectualidade” e “sabedoria” já conspiram contra ele. Não tem uma única possibilidade sequer de raciocinar com independência, e sempre se envolve na discussão para fazer jogo de cintura pessoal, porque não agüenta as conseqüências do que fez. Quem perde é a parte contrária, a verdade, e a sociedade como um todo.

Como esperar integridade intelectual de um povo que, em seu âmago, tem ética seletiva e, além disso, adora praticar o esporte do “faça o que digo, mas não faça o que faço”, fato que fica muito claro nas eternas reclamações que dirige aos políticos e autoridades, embora atue socialmente da mesma maneira logo que a oportunidade surge?

Como poderíamos sequer pensar em honestidade intelectual no país da corrupção endêmica, da boçalidade, do cultural passar a perna, e das históricas inversões de valores onde bandido e mau-caráter viram heróis, e onde as pessoas se sentem inteligentes quando passam por cima de um (como passam a chamar a vítima de suas improbidades) “ingênuo”?

Assim como com muitos, enquanto vivia no Brasil, teve um momento no qual optei (mais pela falta de opções) por evitar dialogar com certas pessoas e não participar de debates, de cunho relevante ou não, mesmo diante da insistência dos promotores dos eventos, simplesmente pelo desgaste das alegações imorais e iníquas e, conseqüentemente, pela improdutividade. Sempre desejei o melhor e mais ético, de modo sério, compromissado, imparcial e sincero, quer dizer, diferente dos demais. Já que o verdadeiro escopo sempre é relegado a um segundo plano de interesse, decidem errado, porque pronunciam-se com corporativismo, vaidade e pessoalidade. Passei a achar que não valia mais a pena.

O brasileiro é um ignorante! Ele pensa que sabe das coisas quando, na prática, não sabe de nada! Quer participar de tudo, e vai errar uma barbaridade! Como se compromete muito, se trata de um crianção mimado brincando de ser adulto, e é um covarde, não vai assumir nada do que quis fazer! E a sociedade piora ...

Para ser bem franca, vários só conseguem sobreviver neste país caso sejam indignos na intelectualidade, porque se não forem deste modo, não poderiam preponderar em uma única dialética sequer, e seriam afastados de quaisquer participações em suas comunidades.

É óbvia a conclusão de que inconcebível é, em se tratando de Brasil, encontrar humanos cuja retidão lhes permite ingressar e continuar dentro de um diálogo para, com honradez, analisar ou dirimir qualquer tipo de demanda, especialmente as de grande vulto social, com a exceção do perfeito, inconteste e incomparável Rodrigo Guizzardi. Só ele reúne todas as qualificações, condições pessoais e princípios descritos para debater, ouvir, se pronunciar e decidir. Quem o conhece sabe que nenhuma das falhas ou transgressões apresentadas neste texto nele tem cabimento, e que todos os quesitos de um honesto intelectual nele se encontram em fartura. Aptidão inexistente no resto desta sociedade débil.

Não é por menos que sua integridade, sabedoria e oratória foram reconhecidas e repercutidas somente em ambientes de extrema lisura, e apenas pelas pessoas probas. Durante toda a vida está fora da ordem instituída depravada vigente nestas terras amaldiçoadas. Um milagre, um fenômeno ocorrido no país do despreparo galopante, da enfermidade moral, da corrupção endêmica e da irresponsabilidade cultural.

Honesto intelectual é tudo o que o Rodrigo Guizzardi sempre foi, e tudo o que o povo brasileiro nunca será!

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

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A democracia dos ditadores.

No topo da ciência.

Uma visão sobre a embriaguez na antiga Inglaterra.

 

 

Commentaires (12)

 

É claro que todos devem se esforçar para evitar erros no possível. Mas eles continuarão a aparecer, principalmente para esta maioria sem conteúdo da sociedade. O importante é agir com honestidade intelectual quando se sabe que está errado, o que, convenhamos, é praticamente impossível para esta mesma maioria.

Agora, imagine, existem umas pessoas que são movidas por intuição ! Aí já viu né, esse povo já não sabe de nada, e ainda tem gente que se sente capaz o suficiente para agir com intuição .... E o pior é que estes bichos continuam refutando, e não mudam a sua posição ante os erros que sabem que cometeram ou ante os seus despreparos pessoais já patentes desde outras situações.

No momento em que deveriam começar a reforma ética e prática, preferem continuar com a velha posição, a que leva a racionalizar os erros, a ocultá-los, a enfeitá-los, e, assim, a esquecê-los o mais rápido possível.

O povo do Brasil é boçal e/ou ignorante. Eu já vi vários indivíduos que só se lembram que são pobres, burros, e que não tiveram estudos, quando fizeram alguma besteira e estão sendo cobrados por isso, porque, do contrário, querem fazer e participar de tudo ! Se você procura os retirar de certas decisões por estes mesmos motivos, te chamam de preconceituoso !

Deveriam entender que precisam de outras pessoas para a descoberta e correção de seus infinitos erros, especialmente das pessoas que cresceram com outras referências ideológicas e em outra atmosfera, como o Rodrigo Guizzardi, seres que são ímpares na percepção deste mundo e na prática de tudo o que é correto e justo. Pois estas pessoas sim têm moral e condição intelectual para agir e decidir.

Enfim, exigir honestidade intelectual no Brasil é como extinguir a corrupção deste país. Aliás estes dois aspectos estão interligados !

Posté par Paulo Roberto Wolff, 16 janvier 2005 à 18:46 | Répondre

 

A honestidade intelectual é extensão da honestidade de caráter. Como o brasileiro é corrupto, a tônica de sua mentalidade nos diálogos que participa e nas opiniões que emite é corrompida também. O mesmo sempre digo sobre as eternas críticas que são dirigidas ao comando político do país, ou seja, uma extensão do povo degenerado que aí vive.

Há uma epidemia da desonestidade intelectual, onde meias verdades (que são mentiras inteiras) são espalhadas rapidamente, sem que as pessoas se preocupem em buscar proteção contra isso, deixando-se (e até gostando) contaminar com facilidade. Isto é, um só existe por causa do outro, e é no encontro entre a mencionada desonestidade e o desinteresse pela informação sofisticada e correta que floresce a mentira e as manipulações de mentes.

Posté par Bruna Monjardim, 16 janvier 2005 à 19:39 | Répondre

 

Na verdade tudo falta aos brasileiros. Não é a toa que o país funcione de modo tão ineficiente e distorcido. Entregar participação social a eles é garantir um futuro sombrio, de privações, e baseado em idiotices.
Sem dúvidas, quanto mais burro, mais o sujeito quer intrometer-se nas questões e opinar. O resultado óbvio disso é a piora das situações.
O brasileiro pensa que sabe das coisas, quando na realidade não sabe de nada !!! Impressionante como não se toca, apesar dos episódios anteriores em que ingressou e não agüentou os resultados !!! Se não tem nada para apresentar, acrescentar, ou emendar, nem tem como arcar com os resultados do que fez, o estúpido deveria se calar, e deixar a inteligência dos outros em paz !

Posté par Marília Hammel, 16 janvier 2005 à 20:14 | Répondre

 

Excelente texto !

É impossível evitar todo erro, ou mesmo todo erro em si é evitável. Os equívocos são continuamente cometidos por todos, uns mais do que outros conforme o nível de honestidade, de ética e de preparo pessoal. A percepção de que uma tese bem corroborada ou uma abordagem prática muito empregada é falível, e que pode receber emendas importantes, é um bom começo para não dogmatizar e agir com desonestidade intelectual.

O princípio fundamental é que, para aprender e evitar possíveis imperfeições futuras, devemos precisamente aprender com nossos erros atuais. Encobri-los é, portanto, o maior pecado intelectual.

Quando o equívoco é encontrado devemos gravá-lo na memória, analisá-lo por todos os lados e chegar até sua causa. A postura autocrítica e a sinceridade se tornam, nesta medida, um dever.

Ou seja, isso tudo é mais um caminho lúcido e progressista que NINGUÉM NO BRASIL percorre ! As pessoas não só não argumentam sincera ou logicamente, como apenas começam a atacar o outro, e não a sua idéia em si.

Posté par Alina Mosimann, 16 janvier 2005 à 21:00 | Répondre

 

Existem muitos animais que encontrei em minha vida com quem nem aceito entrar em um diálogo ou exposição de raciocínio. Primeiro porque conheço a moralidade destes maus elementos e os exemplos que têm protagonizado, e segundo pelo comportamento que têm na vida o qual, como se isso não fosse previsível, é o mesmo como se portam dentro de um debate, ou seja, com desonestidade intelectual.
Esta improbidade é alimentada pelo populismo e pela demagogia e, especificamente no meio acadêmico, local que deveria primar pela autonomia de pensamento, passou a produzir um sem número de estudos cujo destino é o lixo.
Uma sociedade habitada por pessoas intelectualmente desonestas tende a ficar repleta de conflitos. Isso se dá porque as que defendem idéias incompatíveis não dispõem de critérios lógicos que lhes permitam decidir quem tem razão - nem querem ter estes critérios, diga-se de passagem - e não estão dispostas a dar o braço a torcer.
A honestidade intelectual de Rodrigo Guizzardi, ao lado de todas as infinitas qualidades que tem, se destaca nitidamente em todo e qualquer local em que esteja ou ao lado de quem quer que seja. Um exemplo de integridade e conduta.

Posté par Viviane Lucca Dal Pian, 16 janvier 2005 à 22:07 | Répondre

 

Se por um lado conheço gente que só menciona e assume sua condição de pobre e ignorante quando se meteu em alguma dialética e quebrou a cara, portanto quer evitar punições e reprovações, também conheço diplomados e autoridades que se intrometem nas questões falando qualquer coisa sobre um assunto, mesmo que seja mentira (talvez dentro de sua própria área de formação), sempre esfregando seus títulos ou sua suposta experiência de vida na cara do interlocutor para dar crédito à besteira que está a falar. Todos são boçais, mesmo que uns tenham apenas mais verbalidade do que os outros. O brasileiro é um idiota, portanto é pouco preparado para quase tudo ! Todos estão nivelados nestes critérios !

Elise, inclusive em meu comentário ao maravilhoso texto que você fez sobre o nosso Rodrigo Guizzardi já mencionei as muitas pessoas com esclarecimento psicológico que encontrei, às vezes formados na área, ou que se julgam conhecedores pelo que acompanham em atrações televisivas, revistas ou jornais. Estes quadrúpedes, TODOS ELES SEM EXCEÇÃO, apenas pinçam as argumentações científicas da psicologia que lhes são convenientes momentaneamente, e ignoram aquelas que sabem que são favoráveis ao adversário. Até parece que essa ciência veio ao mundo apenas para servir a esta gente problemática e parcial ! Até parece que estes indivíduos corruptos têm moral para citar algo que se refira a conhecimentos humanos ou qualquer coisa que tenha um escopo tão nobre ! Nunca deveriam ser lidos ou pronunciados por estes desonestos intelectuais, imbecis por excelência.

O importante é ganhar o bate-boca, e não ser honesto na aplicação psicológica. Para eles os debates viram duelos pessoais. Acabam funcionando muito mais como advogados da própria causa, do que como gente “esclarecida” sobre a Psicologia. O progresso social não precisa de elementos assim !

Diálogos, debates, dialéticas, participação social, votar, são privilégios e não direitos ! Somente os poucos bons, como o Rô, deveriam ter acesso a eles !

Posté par Tânia Pertussatti, 17 janvier 2005 à 18:43 | Répondre

É por aí que a coisa funciona mesmo, Tânia. Também conheço indivíduos que usam explicações e conceitos da Psicologia apenas quando for conveniente ou vantajoso, e nunca quando os mesmos demonstram suas próprias falhas e fraquezas ou quando beneficiam a parte desafeta ou contrária.

Aliás, já vi vagabundo mau-caráter jogar contra outrem, incessantemente, o argumento de que “quem não reage a uma situação é porque sabe que está errado”, ou que “quem está correto não fica quieto”, trocar rapidamente para o “eu faço o que é possível” e “medo todo mundo tem, você enfrenta tudo?” assim que uma pressão ou algo intimidador acontece contra ele, dentro da mesma discussão inclusive. O imbecil usava a tese como única e principal justificativa para apontar o outro como o errado na questão.... e quando a coisa virou? O m. está errado também? Qual o motivo para o medo ser compreensível para um, e não o ser para o outro?

Esses beócios, desonestos e covardes ao extremo, não servem pra nada neste mundo! Eles sabem quando erraram (basta olhar a fisionomia que fazem) mas dão um jeito para colocar o outro em situação difícil e livrar os próprios erros de merecidas punições. Só pioram as relações! São lixo social! São o que tornam o país essa depravação histórica. Depois os políticos é que não prestam.

Com relação ao Rô não escrevi nada de mais, apenas cumpri minha obrigação de relatar a verdade e me curvar diante de quem é o melhor!

Posté par Elise Dawson, 17 janvier 2005 à 21:13 | Répondre

 

O Rodrigo é um homem incrível, em qualquer tempo, contexto ou situação. Fica impossível estabelecê-lo como modelo para esta gente que mal parou de se locomover com 4 patas!
Já a população brasileira é sempre ruim, corrupta e deficiente, em qualquer aspecto ou área que se possa imaginar.
Na desonestidade intelectual ocorre a defesa de uma posição que se sabe ser falsa, ou a ocultação consciente de verdades e aspectos relevantes. O respeito à honestidade intelectual e à racionalidade é muito mais importante e fundamental para uma sociedade do que qualquer ideologia. E o Rodrigo é o único que segue estes valores.

Posté par Suzana Szafir, 17 janvier 2005 à 19:05 | Répondre

 

Esta é apenas mais uma falta, das infinitas que formam a história cultual e sociológica brasileira. Este povo é pouco preparado mental e espiritualmente para TUDO, então como estaria pronto para adentrar em uma diálogo ???

A desonestidade intelectual costuma ser associada à arrogância ou à corrupção, à caracterização daqueles que discordam como estúpidos, ou à representação errônea de suas posições e argumentos como citações fora de contexto. Nela, geralmente ocorre a omissão de dados e informações inconvenientes, ou a ética seletiva, onde o rigor só é aplicado ao oponente.

O Rodrigo é o único honesto intelectual que conheci, um ponto de referência, um exemplo a ser seguido por quem fala e crê, verdadeiramente, nas autênticas qualidades que um ser humano decente deve cultivar, e que se esforça e guia, de fato, por estas vias.

Que o povo brasileiro chafurde em seus dejetos ! É o que merecem !

Posté par Edu Senfle Gevaer, 17 janvier 2005 à 20:28 | Répondre

 

Para quem fala bonito mas só faz feio (essa maioria que faz do Brasil o que é) talvez o Rodrigo seja até entendido como um inimigo ou um encrenqueiro !?? Até parece que alguém nobre e perfeito como ele vai se sujar se misturando com este lixo social através do hábito de se meter nas particularidades e problemas pessoas dos outros !?? Os outros, burros, vazios de conteúdo e de caráter, “marias vão com as outras”, é que fazem isso !

O que o Rô faz, coberto de razão e de percepção por sinal, é se distanciar dessa gentinha estúpida e corrompida. Se fossem julgados pelo que são, nem serviriam como adultos para a sociedade !

É característica primordial do idiota se sentir capacitado para se envolver em tudo. O resultado é não assumir as conseqüências e “resolver” a situação de modo pior ou injusto, sempre protegendo a si das responsabilidades e não a vítima, inclusive ofendendo valores que a lei condena (mesmo tendo entrado na questão com a bandeira da ética na mão). E para isso, bota para fora toda a corrupção de sua intelectualidade, se é que tem alguma coisa na cabeça ! Assim sendo, como poderia sequer adentrar em uma dialética ?

Realmente, além da incoerência de discurso propriamente dita, é impossível não perceber o quanto o idiota que estabelece uma discussão, principalmente acusadora ou difamatória, sabe que está errado e mesmo assim se esforça para continuar e se sustentar nela.

Posté par Astrid Steux, 18 janvier 2005 à 20:12 | Répondre

 

Não devemos diminuir nossa aplicação e atenção, mas as falhas e erros são inevitáveis. Se as pessoas fossem éticas (assim não precisariam defender despautérios, injustiças, imaturidades, corrupções e leviandades, nem administrar pelas exceções ou ter ética seletiva) e se fossem francas (aceitando as alegações melhores e mais bem formuladas, não procurando proteger o lado que sabem que é o errado, e não contrapondo as palavras que correspondem aos fatos), então deveriam aprender a aceitar, agradecidas, quando os outros as fazem conscientes.

É que nós sabemos que os brasileiros, quando encontram alguém fazendo o correto ou agindo em conformidade com a ética e com as práticas saudadas pelas sociedades probas, ao invés de aplaudi-lo, se inspirar nestas pessoas melhores e copiar seus atos, muito provavelmente vão condená-lo, repreendê-lo e, talvez, persegui-lo. E na dialética a coisa vai se dar desta forma também.

Posté par Marcel Cutrale, 18 janvier 2005 à 20:54 | Répondre

 

Escreveu ipsis verbis o que tenho visto e pensado, especialmente quanto a temas onde a linha entre a razão e a emoção não é clara. A desonestidade intelectual enfraquece a palavra. Não se trata de contar uma mentira, mas de deixar que alguém acredite em algo que não é verdade.

Ser honesto intelectualmente é a busca sincera pela verdade, ser coerente entre o que pensa e expressa, mesmo que isso lhe traga constrangimento ou derrota. Suas palavras têm de ser um reflexo verdadeiro de suas idéias, onde a hipocrisia não encontra oportunidade.

Todos cometem erros, apenas variando o nível de comprometimento e de assiduidade, afinal alguns são melhores, mais sábios e mais capacitados do que outros, evidentemente. É a postura que assumem quando são confrontados com eles que faz a distinção.

Há um mundo real ao qual a mente tem a capacidade de atingir, e a negação deliberada leva ao engano e à desonestidade intelectual.

Posté par Ana Flávia Valtrich, 20 janvier 2005 à 19:57 | Répondre

 

 

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