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Elise Dawson
14 avril 2004

Uma das criaturas mais belas.

 

As primeiras referências ao unicórnio emergem em tábuas de pedra e selos da civilização do Vale do Indo, por volta de 2500 aC. Embora algumas dessas imagens possam ter sido de perfis de touros ou antílopes, revelando apenas um chifre, outras não combinam bem com qualquer espécie conhecida, sugerindo que o povo do Indo pode ter sido o primeiro a imaginar este animal mitológico.

No século V aC, um médico e historiador grego chamado Ctesias empreendeu uma viagem pela Pérsia e, ao longo do caminho, pegou relatos de viajantes persas e indianos sobre seus animais nativos, espalhando-os pela Grécia quando retornou. A primeira descrição de um unicórnio é encontrada em seu livro, "Indika". Os historiadores naturais, incluindo Aristóteles e Plínio, o Velho, pegaram a idéia e incluíam também teorias sobre esta criatura em seus livros, dando crédito à fábula recém-nascida.

Os romanos herdaram os unicórnios dos gregos e os dispersaram por toda a Europa, onde floresceram em bestiários, pinturas, tapeçarias e heráldica. O cristianismo ajudou a alimentar a popularidade pelo nome deixado na Bíblia e comparando-o ao Cristo, simbolizando o mistério da sua encarnação bem como o amor puro e a fidelidade matrimonial.

Entendemos os unicórnios como criaturas lendárias com corpos perolados e longos chifres em espiral se projetando de suas testas. Mas a história, desde a antiguidade, revela uma variedade deles em formas e tamanhos.

Os japoneses imaginavam um unicórnio muito antes da beleza branca e luminosa do mundo ocidental existir. Este ser, chamado de kirin, encantador por sua caridade, generosidade e grande respeito à vida, tem o corpo de um cervo e as magníficas escalas do arco-íris de um dragão, além de um chifre longo brotando do centro de sua testa. É tão leve que nenhuma grama era esmagada sob seus cascos.

O kirin é baseado no qilin (uma entidade da mitologia chinesa), termo este freqüentemente traduzido como "unicórnio" para o ocidente já que, às vezes, pode ser representado como tendo um único chifre, embora isso seja enganador, pois o qilin geralmente aparece como um animal híbrido com dois chifres e mais assemelhado a uma quimera. Os chineses têm uma palavra em particular para designar unicórnios, e não seria simplesmente "qilin". Várias de suas diferentes entidades míticas podem ser retratadas com um único chifre, e um qilin em específico, quando retratado com apenas um, seria então chamado de "qilin de um chifre" em chinês. Mas foi por causa das semelhanças caprichosas, míticas, sobrenaturais, místicas e religiosas na antiguidade com os unicórnios ocidentais que o governo chinês cunhou, em diversas oportunidades, moedas em prata e ouro retratando o qilin e o unicórnio ocidental juntos.

Os unicórnios não são encontrados na mitologia grega, mas sim nas narrativas da história natural, pois os escritores gregos ligados à área estavam convencidos da realidade deles e que seriam encontrados na Índia, um reino distante e fabuloso para eles. A partir de Ctesias, foi descrito como uma criatura com um corpo de burro branco neve, uma cabeça vermelha escura, cascos fofos e um chifre com cerca de 0,60 cm. de comprimento que era branco na base, preto no meio e vermelho brilhante na ponta.

Durante a Idade Média, pequenos unicórnios semelhantes a cabras tornaram-se populares em pinturas e tapeçarias. Eram geralmente de cor branca ou creme, com crinas e caudas sedosas como as de um cavalo, cascos trançados, e um tufo de barba debaixo dos queixos. Seus chifres permaneceram longos e perigosos.

No século XIII, Marco Polo identificou erroneamente um rinoceronte como sendo um unicórnio, informando ainda que não eram tão encantadores quanto o folclore os havia feito. Narrou que eram grandes e pesadas bestas com cabelos grosseiros, a cabeça parecida com a de um javali, um grande chifre preto no meio da testa, e que gostavam de se revirar na lama e na imundície. Por algum tempo, historiadores naturais aceitaram sua descrição, mesmo sendo decepcionante.

Uma série de outros traços foi adicionada para esculpir a fábula no decorrer dos anos : pés de elefante, caudas de leão ou de javali, chifres ramificados, etc. Ainda assim, no século XVIII, a imagem do unicórnio foi cimentada na forma majestosa que conhecemos hoje.

Mas mesmo na sua forma menos encantadora, a de cabra, os unicórnios sempre são tidos como animais poderosos, podendo superar qualquer predador. Um chute de um casco pode quebrar ossos, e um impulso de seu belo chifre pode destruir qualquer órgão interno.

De acordo com a lenda, muitos caçadores optaram por persegui-lo por conta de seus chifres, através dos quais poderia ser feito uma substância mágica chamada "alicorn", que teria propriedades curativas fantásticas e foi vendido como tal até 1741. Este material poderia neutralizar qualquer veneno, curar as febres contagiosas mais perigosas, incluindo a praga, e purificar a água. Durante a Renascença, os reis pagaram alto pelo que acreditavam ser alicorn, e os boticários reais colocaram-nos como pó ou esculpidos em copos.

Em 1638, o médico dinamarquês Ole Worm determinou que as supostas alicorns eram de presas de narvais (uma baleia dentada de tamanho médio, com uma única presa extremamente longa, que se projeta a partir do lado esquerdo da mandíbula superior), ou mesmo de chifres de vários animais como antílopes, orices, elandes e rinocerontes. Os copos feitos de alicorn para reis e dados como presente, na verdade, eram geralmente de marfim ou de marfim de morsa.

Enfim, até o século XVIII, a Europa viu um comércio próspero de falsos "chifres de unicórnio", que eram moídos em um pó medicinal, esculpidos em cetros ou copos para os ricos, e até mesmo usado para construir o trono dinamarquês. 

Estas criaturas podem parecer algo que as pessoas logo pensariam em transformar em bichos de estimação, todavia são selvagens no coração. Altamente independentes, podem facilmente escapar dos seres humanos, e considerando sua beleza deslumbrante, conseguem incrivelmente misturar-se ao meio ambiente. Quando são vistos, fogem, e no caso raro de serem encurralados, lutarão com fervor pela liberdade.

Ainda assim, esses seres elevados têm na inocência sua fraqueza. De coração nobre e puro, estão constantemente procurando por companheiros e amigos humanos cujo caráter é tão impecável quanto o deles. Uma donzela doce e inocente pode quase sempre atrair um unicórnio para fora de seu esconderijo, e se ele gostar muito dela, poderá até se deitar para cochilar com a cabeça em seu colo. Uma maneira usada por caçadores escondidos para abatê-lo seria usar uma donzela como isca.

Muitas tentativas foram feitas para evocar evidências de que os unicórnios realmente existiram, através dos tempos. Seja pela pouca especialização científica, para atrair a atenção e vender souvenirs e curas miraculosas, ou simplesmente deliciar o mundo dos que acreditam, todos deixaram suas marcas.

Em 1635, um prefeito alemão projetou um estratagema que atrairia turistas para sua pequena cidade. Ele selecionou os ossos pré-históricos de uma escavação de cavernas em curso e as juntou para parecer um esqueleto de unicórnio. O resultado ficou tão bem feito que muitos céticos científicos até mudaram-se para o campo dos "crentes", então todos ficaram desapontados quando a ossada foi revelada como simulada. Em anos posteriores, mais esqueletos falsos seriam "desenterrados", mas nenhum deles conseguiu ganhar tanta reputação como o primeiro.

Quando os restos fossilizados já não conseguiam mais excitar uma multidão, alguns entusiastas começaram a procurar maneiras de produzir unicórnios reais e vivos. Em 1933, um cientista da Universidade de Maryland conseguiu fundir cirurgicamente os chifres de um bezerro de um dia de idade, de modo que cresciam em um chifre único e longo, no centro de sua testa. O ocultista estadunidense Oberon Zell-Ravenheart co-fundou a "Ecosophical Research Association" (Associação de Pesquisa Ecosófica) em 1977, uma organização que explora a verdade por trás dos mitos. Este grupo ficou conhecido pelos "unicórnios vivos" que criaram por uma pequena cirurgia nos chifres de cabras. Um dos seus "unicórnios", de nome Lancelot, foi vendido e excursionou com o Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus. Lancelot era uma cabra branca de pelagem vistosa e encaracolada, e um único chifre no centro de sua testa, tendo atraído uma enorme audiência para o circo e recebido aprovação depois de examinada, com raios-x, por um grupo de cientistas incrédulos.

A maioria dos estudiosos acredita que o unicórnio de Ctesias, o primeiro a se apresentar à civilização ocidental, era apenas uma descrição confusa de um rinoceronte indiano. Como já escrevi, durante suas viagens ele encontrou muitos indianos e reuniu descrições de muitos animais exóticos, então pode ter juntado o poderoso rinoceronte de um único chifre com uma criatura mais graciosa, como um tipo de boi ou antílope. O folclore ocidental se encarregou, com o passar dos tempos, de polir o unicórnio em algo cada vez mais belo, até que ele fosse irreconhecível como um rinoceronte.

Ademais, exploradores e pastores podem ter encontrado touros, caprinos, orices, antílopes ou elandes com um dos chifres gravemente danificado, até mesmo quebrado, de modo que pareciam ter um único. Os distúrbios genéticos, que são surpreendentemente comuns em algumas populações, também podem ter produzido indivíduos que nasceram com um único chifre fundido.

Mas é fato que este ser fantástico tem sido representado por muitos artistas há vários séculos. Duas das mais famosas representações são séries de tapeçarias : "Dame à la licorne" (Museu de Cluny, Paris) e "The Hunt of the Unicorn" (The Cloisters, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque). Manuel Mujica Lainez publicou em 1965 o romance "El Unicornio", que recria um mundo medieval mágico do tempo das Cruzadas, cujo protagonista é a fada Melusina, que por uma maldição se transforma a cada sábado em uma cobra com asas de morcego. É também o caso do mais famoso álbum do cantor cubano Silvio Rodríguez : "Unicornio", ou um livro de poesia de Carlos Alva : "Unicornio".

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

A grande inundação.

Mitologia aborígene.

Uma antiga religião persa.

Captura de embarcações.

Para reparar a honra ofendida.

 

 

Commentaires (7)

 

A descrição de Ctesias é similar em muitas fontes, mas, pelo que sei, houve pelo menos uma variação nos registros históricos. Plínio, o Velho, em sua obra “História Natural”, do século I dC, um vasto compêndio das ciências antigas distribuído em 37 volumes, afirmou que tinham pés como os de um elefante, uma cauda como a de um javali e um chifre completamente preto com três metros de comprimento.

No entanto todos, inclusive Plínio, concordam que seria impossível capturar um vivo.

Posté par Fábio Carminatti, 14 avril 2004 à 17:30 | Répondre

 

O Kirin é uma criatura mitológica chinesa muito apreciada e querida, com natureza comparada aos unicórnios dos europeus, mas com atributos físicos um pouco diferentes pois sua pele é feita de escamas, tem cauda peluda (às vezes descrita como a de uma raposa), e uma pelagem volumosa nas patas, queixo e no pescoço. Os machos possuem normalmente um chifre, com alguns deles podendo desenvolver mais. Dizem que fala facilmente o idioma humano, podendo usar telepatia para conferir se estão lhe dizendo a verdade ou não.

Este ser nunca irá tirar a vida de um inocente, ao contrário, o protege de qualquer ameaça, se necessário cuspindo fogo, entre outras habilidades que são contadas. Ele tem uma enorme compaixão pelos puros de coração, não tolerando quem abuse deles, e só é visto em regiões que são governadas por pessoas benéficas ou virtuosas e por quem tem respeito à vida como ele. Vê-lo significa um bom presságio, mas matá-lo ou ver seu cadáver é péssimo.

Posté par Natália Volpi, 11 avril 2004 à 19:11 | Répondre

 

Ótimo texto!
No Gêneses está escrito que Deus deu a Adão a tarefa de nomear tudo o que o cercava, e em algumas traduções, o unicórnio foi o primeiro animal. Quando Adão e Eva deixaram o paraíso, a criatura foi com eles, tornando-se assim um símbolo de castidade e pureza. No Antigo Testamento ainda existem sete referências a esta criatura, embora haja discussão sobre isso, além do Talmude, que também menciona o ser.
Na Idade Média, para a igreja tornou-se o sinal de Cristo, com seu chifre simbolizando a unidade entre Jesus e Deus. O fato de aparecer na Bíblia significa que um verdadeiro cristão não poderia duvidar de sua existência, da unidade em questão.

Posté par Lívia Bettenay, 11 avril 2004 à 20:35 | Répondre

 

Um comerciante de Alexandria que viveu no século VI, Cosmas Indicopleustes, fez uma viagem à Índia e, posteriormente, escreveu obras de cosmografia. Ele dá uma descrição de um unicórnio baseado em quatro figuras de bronze no palácio do rei da Etiópia, e afirmou que é impossível capturar esta besta feroz viva, e que toda a sua força está no seu chifre. Disse ainda que quando ela se encontra perseguida ou em perigo de captura, se lança de um precipício e gira tão apropriadamente ao cair que recebe todo o choque no chifre, e assim escapa em segurança.

Posté par Miguel Gerdau, 11 avril 2004 à 20:43 | Répondre

 

Realmente diziam que venenos postos em um copo esculpido do chifre perderiam o efeito nocivo. E se a pessoa já ingeriu veneno, e está usando o chifre para curar-se, ao menos o segurando, o mesmo aparentemente induz o vômito restaurador. Também já li alguma coisa sobre beber do copo esculpido e ficar imune ao fogo.
Caçar um unicórnio seria muito difícil e apenas resultaria em morte ou graves ferimentos aos homens. Lendas afirmam que a única maneira de capturá-lo seria cercá-lo e matá-lo, ou seja, nunca poderia ser preso vivo. Um dos meios seria se aproveitar dos momentos em que esteja junto a seus potros, porque nunca os abandonaria, então poderia ser atingido à distância, por dardos e flechas.

Posté par Gabriela Lizarelli, 11 avril 2004 à 21:26 | Répondre

 

Elise, como você mencionou, o chifre do unicórnio tem virtudes mágicas, e decanta águas poluídas, cura doenças, detecta e destrói o veneno, e só pode ser tocado por uma virgem. No British Museum de Londres, há um chifre que dizem ser de um unicórnio, e que os cientistas não obtiveram permissão para estudá-lo.
Por seu chifre original no meio de sua testa, simboliza a flecha espiritual, a espada divina do discernimento, a revelação da inserção do espírito na natureza, mas também uma ponte entre os mundos.
Nele estão reunidas as pontas das polaridades sexuais, e ele as transcende. Disso surgiu a idéia de pureza e virgindade. O unicórnio sempre evoca a idéia de uma sublimação milagrosa da vida carnal e da força surreal que flui de todas as coisas puras.

Posté par Thiago Winzer, 12 avril 2004 à 19:08 | Répondre

 

Os unicórnios aparecem muito na heráldica, normalmente representados como um cavalo com cascos e barba de cabra, cauda de leão e um chifre espiral na testa.

Seja como símbolo da encarnação ou das terríveis paixões animais de natureza selvagem, teve sua imagem popularizada a partir do século XV. Por vezes, aparecem com coleiras ou presos, o que indica que foram domesticados ou controlados, mas são mais mostrados com colar ou corrente quebrados, mostrando que se libertaram.

No brasão de armas do Reino Unido há um unicórnio ao lado de um leão, e no da Escócia dois deles estão presentes.

Posté par Lais Dias Vitti, 12 avril 2004 à 21:40 | Répondre

 

 

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