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Elise Dawson
20 mars 2004

Vale ou não vale?

 

Eu e meu irmão não somos exatamente entusiastas de futebol. Sempre o acompanhamos apenas de vez em quando, em grandes jogos de finais, e nunca escolhemos um clube para torcer e seguir. Nossa predileção, instigada desde cedo por nossos pais e um tio, foi a esgrima, a natação e o alpinismo. Depois que saímos do Brasil, meu irmão acabou tendo contato com o rugby, pelo qual desenvolveu muito apreço. É um esporte duro, de muito contato físico, mas que traz uma máxima esquecida no futebol = quem ganha é o time melhor, que venceu jogando o esporte e dentro das regras, sem ludibriação de arbitragem, sem fingimentos e encenações para cavar exclusões de atletas adversários ou penalidades. Quem venceu, o fez com méritos, com justiça esportiva! Ele vai aos jogos sempre que possível.

Quando pequenos e adolescentes, tivemos muito contato com nossos primos. Com os mesmos, recebemos verdadeiras aulas sobre a história do futebol brasileiro já que ambos eram vidrados nele e torcedores fanáticos do Fluminense FC. Dentre o muito que escutei, do qual parte me motivou a aprofundar meus conhecimentos sobre alguns fatos históricos, determinados episódios parecem um tanto confusos ou mesmo injustos, frutos que são de uma falta de compreensão deliberada ou de um corporativismo corrupto. No fundo, chego à conclusão de que, como a sociedade brasileira é caótica, tudo que a mesma produz ou se envolve, nos mais diversos níveis sociais, se torna tão confuso e desonesto quanto ela, o mesmo valendo para o futebol.

Depois da rememoração de certos fatos através de meu irmão, resolvi apontar abaixo alguns casos que, no meu entendimento, e no dele também, mereceriam revisão, no mínimo. Acho ser sempre conveniente ressaltar que não estou perseguindo este ou aquele clube, até pelo motivo de não torcer por nenhum. Fique à vontade para dar sua opinião sobre o que exponho.

 

Os três Botafogos

O Botafogo de Futebol e Regatas foi fundado no dia 8 de dezembro de 1942, resultado da fusão de outras duas agremiações, o Club de Regatas Botafogo (de 1º de julho de 1894) e o Botafogo Football Club (12 de agosto de 1904). Aliás a união destes se deu por ocasião de uma tragédia ocorrida em uma partida de basquetebol entre ambos no Campeonato Carioca de 1942, no dia 11 de junho, quando o atleta Armando Albano (Botafogo Football Club), que havia chegado atrasado para a partida, sofreu um infarto fulminante no intervalo. O pessoal do outro Botafogo decidiu parar o jogo abdicando da vitória. O falecimento do atleta causou grande comoção e foi o pretexto necessário para que os presidentes dos dois Botafogos se unissem a fim de providenciar a fusão, efetivada seis meses depois.

Bom, quando se calcula a quantia de títulos estaduais para o Botafogo FR, todos os meios de comunicação e entidades oficiais creditam a ele as vitórias de 1907, 1910, 1912, 1930, 1932, 1933, 1934 e 1935, que na verdade foram conquistas do anterior Botafogo Football Club, tecnicamente extinto a partir do instante em que se fundiu com o Club de Regatas Botafogo, em 1942. Assim, a lista de campeões cariocas deveria apresentar o Botafogo FR somando 9 títulos e o Botafogo Football Club ficando com 8. No entanto, ao atual Botafogo FR são afirmados 17 campeonatos conquistados.

O caso do Botafogo FR não é de mera troca de nome, como aconteceu com o Palestra Itália paulista que se tornou o SE Palmeiras ou com o Palestra Itália mineiro que passou a ser o Cruzeiro EC (por um curto espaço de tempo foi Palestra Mineiro e depois Ypiranga, antes de adotar este nome), onde existe uma continuidade. Quando falamos em fusão, técnica e juridicamente, estamos falando da absoluta extinção daqueles clubes anteriores para que se juntem formando uma sociedade totalmente nova. O clube que surge passa a contar sua existência precisamente do momento da fusão ocorrida.

Vamos discorrer sobre o Paraná Clube, que surgiu da fusão entre o Colorado Esporte Clube e o Esporte Clube Pinheiros, em 19 de dezembro de 1989. O Colorado, que por sinal também veio de uma fusão ocorrida entre 3 associações campeãs estaduais em 29 de junho de 1971, venceu o Campeonato Paranaense de 1980, enquanto o Pinheiros foi campeão em 1984 e 1987. Quando se observa o ranking de campeões paranaenses, os títulos obtidos por ambos não são somados ao atual Paraná Clube, o qual aparece apenas com 6 conquistas. Percebam a perfeição do exemplo paralelo, bem como o encaixe, ao que se deu com o Botafogo FR.

A exemplo do Paraná Clube, também temos a história do Corinthian-Casuals Football Club, que se originou em 1939 da fusão entre o famoso Corinthian Football Club (aquele que excursionou pelo Brasil em 1910, servindo de inspiração para o nome do SC Corinthians Paulista), fundado em 16 de dezembro de 1882, com o Casuals Football Club, de 1883.

Já encontramos botafoguenses dizendo que uma grande prova de que o Botafogo de hoje é a mera continuidade dos anteriores estaria no fato das taças conquistadas pelos mesmos estarem reunidas na sala de troféus do atual, juntas às vitórias do clube que surgiu a partir de 1942. Ora, os triunfos do Colorado EC e do EC Pinheiros também estão na sala de vitórias do Paraná Clube, assim como as glórias do Corinthian FC e do Casuals FC estão em poder do contemporâneo Corinthian-Casuals FC. O patrimônio foi agrupado quando da fusão, portanto a história, materializada em troféus e medalhas, também está reunida num mesmo local, o novo clube formado da união dos anteriores. E afinal, copas e condecorações deveriam ficar com quem, se as agremiações que as conquistaram se extinguiram?

 

Da Floresta para o Morumbi?

Num contexto diferente do Botafogo FR, onde houve uma fusão, mas semelhante ao mesmo no sentido de somar para si títulos que, na verdade, de um ponto de vista técnico, não lhe pertencem, está o São Paulo FC com sua suposta conquista de 1931.

O Club Athletico Paulistano, fundado em 29 de dezembro de 1900 e vencedor de 11 títulos paulistas, era fiel às raízes amadoras do futebol e, diante da iminência do profissionalismo, havia fundado em 1926 uma associação paralela de nome Liga dos Amadores de Futebol (LAF) que durou até 1929, quando o clube decidiu encerrar suas atividades no futebol e fechou o seu departamento do mesmo, pois o rumo profissionalizante era irreversível.

A Associação Atlética das Palmeiras, de 9 de novembro de 1902, foi campeã paulista em 1909, 1910 e 1915, utilizava a Chácara da Floresta para fazer suas partidas, e tinha um pensamento semelhante ao do CA Paulistano, o acompanhando na criação da LAF. Com o final desta Liga, a AA das Palmeiras ainda tentou se adaptar ao profissionalismo, no entanto, decadente e endividada, se afasta definitivamente do futebol e se extingue como clube no início de 1930.

Uma parte dos dirigentes e jogadores ligados ao futebol do CA Paulistano, com uma visão diferente da cúpula do clube sobre o ideal amador e o encerramento das atividades futebolísticas, se juntaram a também diretores e atletas da AA das Palmeiras, os quais desejavam continuar nas disputas do esporte bretão e dispunham de algum patrimônio disponível restante do clube extinto, para fundarem em 25 de janeiro de 1930 o São Paulo Futebol Clube, que ficou conhecido pelo apelido de São Paulo da Floresta porque usava o Estádio da Floresta, antigo local das disputas da AA das Palmeiras.

Alguns anos depois, uma desestabilização política e financeira atingiu o São Paulo da Floresta por conta da compra de uma sede luxuosa que não conseguiu pagar. Dirigentes descontentes com as dívidas e com o andamento futebolístico decidiram pela fusão com o Clube de Regatas Tietê e o encerramento das atividades do departamento de futebol do clube, o que levou uma parte contrária a isso a ingressar na justiça para que a opinião dos sócios fosse ouvida quanto ao assunto, obtendo ganho de causa. Porém, o estatuto determinava que somente os sócio-fundadores poderiam opinar em assembléia. Como a maioria destes era ligada à diretoria, a fusão foi aprovada em 14 de maio de 1935, onde o departamento de futebol foi encerrado, a parte administrativa e patrimonial do São Paulo da Floresta foi incorporada ao CR Tietê, o qual quitaria as dívidas do clube extinto. Parte dos jogadores e dirigentes do clube, contrários a tudo, acabaram inclusive formando o Independente Esporte Clube, para que continuassem na prática do futebol. Esta agremiação chegou a disputar 2 partidas pelo campeonato da APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) mas retirou-se logo em seguida. Este Independente FC teve vida curta (criado em 25 de março de 1935, foi extinto em 16 de dezembro de 1935).

Após a fusão com o CR Tietê, outras associações foram formadas por associados dissidentes do São Paulo da Floresta, como o Clube Atlético Estudante Paulista, que inclusive disputou a "liga paralela" do Paulista em 1935 e a liga principal em anos seguintes. Merece maior destaque o Clube Atlético São Paulo, criado em 4 de junho de 1935 também por ex-sócios que estavam inconformados com o destino de extinção do antigo clube. Este segundo, diferentemente do CA Estudante Paulista, não chegou a participar do campeonato de 1935.

Em 16 de dezembro de 1935, o pessoal do recém-fundado CA São Paulo resolveu "começar do zero", foi extinto e, com isso, foi oficialmente fundado o atual São Paulo Futebol Clube, que anos mais tarde incorporaria, entre outros clubes, o próprio CA Estudante Paulista.

Ufa! Embora a história da fundação do atual São Paulo Futebol Clube pareça confusa, inclusive entre os são-paulinos, o fato é que a agremiação que conhecemos hoje iniciou sua trajetória em 16 de dezembro de 1935, técnica e juridicamente dizendo, depois da devida extinção do São Paulo da Floresta através de sua fusão com um terceiro clube, o CR Tietê.

Ora, como acontece com o Botafogo FR, embora em um contexto um pouco diferente do que ocorreu com o São Paulo FC (o primeiro é oriundo de uma fusão, que extinguiu duas instituições anteriores; o segundo é fundado meses depois da extinção do São Paulo da Floresta, que foi incorporado a um terceiro), também se torna um erro somar o título paulista de 1931 aos que o atual venceu. Assim como com o clube carioca, no caso do paulista não se deu uma mera mudança de nome em uma linha contínua histórica de existência (repito, o time da Floresta foi extinto, e seu patrimônio e administração foram incorporados pelo CR Tietê) como com o Palestra Itália que passou a ser o SE Palmeiras. Por sinal, os membros do CA São Paulo, responsáveis pela fundação do São Paulo FC vigente, extinguiram o grupo do qual participavam para "começar do zero" com a criação deste que conhecemos, em 16 de dezembro de 1935, ou seja, não dá nem para considerar a data de 4 de junho de 1935 como a da criação da agremiação atual porque houve, tecnicamente, a também extinção do CA São Paulo em ata.

Parece que para alguns são-paulinos anda sendo importante olhar para o passado e "somar" vitórias para ficar bem nos rankings de títulos. Já encontramos torcedores deste clube afirmando categoricamente que o São Paulo FC é a continuidade pura e simples do CA Paulistano, o que não representa a verdade, como vimos na própria explanação da pré-fundação dele. O CA Paulistano não mudou seu nome para São Paulo FC (volto a mencionar a renomeação do Palestra Itália para SE Palmeiras), apenas extinguiu seu departamento de futebol pelos motivos já explicados, e sua existência como clube social ou voltado para outras modalidades esportivas permanece, com sede na rua Honduras nº 1400, Jardim Paulista, até hoje.

 

Só vale se tiver time grande

As federações que organizam o futebol do Rio de Janeiro e a mídia esportiva em geral têm esquecido alguns campeões estaduais. Alguns torcedores com quem argumentamos os fatos chegam a dizer que ambas estão corretas nisso, porque se não tiver time grande envolvido, a competição não vale nada!?

A Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) foi fundada em 1917, fundamentada no ideal amadorístico e elitista da prática do futebol.

O CR Vasco da Gama disputou pela primeira vez a primeira divisão da LMDT em 1923, e foi campeão com um elenco composto por jogadores de várias origens, como negros, mulatos e brancos pobres da classe operária. Este fato incomodou os clubes aristocráticos (América FC, CR Flamengo, Fluminense FC, e Botafogo FC) que saíram desta liga e fundaram uma outra em 1924, a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA), com algumas regras discriminatórias. O Vasco continuou na LMDT.

No ano de 1924, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) aceitou a filiação da AMEA e desfiliou a LMDT, mas ainda assim tanto o CR Vasco da Gama (pela LMDT) quanto o Fluminense FC (pela AMEA) são reconhecidos pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) como campeões cariocas da temporada. Em 1925 a AMEA revogou algumas cláusulas discriminatórias e o CR Vasco da Gama saiu da LMDT e se filiou a ela.

Agora chegamos ao ponto de nossa discussão. Mesmo com o CR Vasco da Gama tendo saído, a LMDT continuou promovendo campeonatos com os clubes que estavam filiados. Todavia, embora a entidade fosse a mesma desde 1917, a FFERJ ou mesmo a mídia esportiva simplesmente ignoram seus campeões estaduais de 1925 até 1932. O fato da LMDT estar desfiliada da CBD é irrelevante, afinal os campeões da Liga Carioca de Football (LCF) entre 1933 e 1936 são reconhecidos pela FFERJ, muito embora ela também não fosse filiada à CBD.

Eis os demais campeões da LMDT que não constam das listas oficiais de campeões :

1925 – Engenho de Dentro Athletico Clube

1926 – Modesto Football Club

1927 – Modesto Football Club

1928 – Sport Club América (não confundir com o América FC)

1929 – Sport Club América

1930 – Sportivo Santa Cruz

1931 – Oriente Athletico Clube

1932 – Sport Club Boa Vista

A LMDT se dissolveu em 1932, com seus participantes se acomodando nas ligas existentes a partir de 1933 : na AMEA (amadora) ou na LCF (profissional). 

Posté par Elise Dawson

 

 

Veja também :

A democracia dos ditadores.

No topo da ciência.

Uma visão sobre a embriaguez na antiga Inglaterra.

Australianos no conflito global de 1914-18.

Simbolismo mitológico.

 

 

Commentaires (12)

 

É o tal negócio, nenhuma lei é seguida neste país, as pessoas procuram ganhar suas discussões no grito ou na refutação barata e persistente. Embora seja tudo lógico o que você escreveu, acaba afetando certos interesses corporativistas. Se os indivíduos ligados a algum grupo esportivo de hoje vê uma possibilidade de aumentar as glórias de seu clube juntando fatos históricos de associações antigas que se extinguiram por algum motivo, mesmo que a conexão com aquele que ainda existe modernamente seja distante em períodos cronológicos ou em atos jurídicos (extinção, fusão, incorporação por outra instituição ...), vai fazê-lo.

No caso dos campeonatos oficiais cariocas não reconhecidos, certamente a idéia é não banalizar a história do futebol do Rio de Janeiro com a inclusão de campeões de menor expressão. Uma injustiça absoluta, é claro ! A liga vinha fazendo campeonatos oficiais desde 1917 e, mesmo abandonada pelos elitistas, realizou a competição de 1924 só com o Vasco dentre os que poderiam ser considerados clubes maiores ou médios. Quer dizer que depois que o Vasco saiu, outros torneios continuaram a ser realizados pela LMDT até 1932 mas seus campeões não são incluídos no rol dos legítimos campeões do futebol do Rio de Janeiro !?

Coisas da corrupção ideológica deste povo, que quando entra na administração do futebol, faz o mesmo que está acostumado em sua vida particular. Coisas de Brasil ! Curioso a imprensa, que deveria manter sempre seu papel investigativo e contestador, se silenciar sobre este fato histórico.

Posté par Josias Melchert, 20 mars 2004 à 18:21 | Répondre

 

O conteúdo escrito na postagem é eloqüente, lúcido e lógico. Tenho certeza de que deveria ser a determinação prevalecente para os clubes e federações envolvidos, e pela imprensa em geral, e ponto final. É que brasileiro não aceita lideranças nem ordens instituídas, então sempre quer “ensinar o padre a rezar a missa”. Como se não bastasse isso, como ele é sempre corrupto e de ética seletiva, quando toma as rédeas para decidir algo “em nome do que é certo” sempre decide errado ou com corporativismo, e com isso sempre prejudicando alguém como no caso dos campeões da LMDT.

Todavia, em particular, me chama a atenção a situação do Botafogo de Futebol e Regatas. Cá entre nós, se a tese apresentada nesta página fosse seguida, o Botafogo, que dentre os maiores do Brasil está entre os que menos títulos e torcida têm, perderia mais ainda ... iria acabar virando um América !!!

Nos estaduais do Rio ficaria assim então
Botafogo de Futebol e Regatas = 9 vezes
Botafogo Football Club (extinto) = 8 vezes
América Football Club = 7 vezes

Posté par Jairo Chateaubriand, 20 mars 2004 à 19:20 | Répondre

 

Cara Elise, muito interessantes e racionais as colocações feitas por você. Vou tomar a liberdade de mencionar um outro fato histórico, também ocorrido na história do futebol do Estado do Rio. Não sei se você já teve algum conhecimento sobre o Campeonato Fluminense de Futebol, competição que envolvia clubes do antigo Estado do Rio de Janeiro, cuja capital era Niterói, antes da sua fusão com o Estado da Guanabara.

Acontece que até 1960 a capital brasileira era a cidade do Rio, a qual não integrava o Estado do Rio de Janeiro mas compunha o então Distrito Federal. Com a inauguração da nova capital do Brasil, Brasília, o que fez com que o Distrito Federal se transferisse para o leste do Estado de Goiás, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se um novo Estado, chamado Guanabara. Apenas em 1975 os Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro se uniram naquilo que se tornou o atual Estado do Rio, cuja capital passou a ser a cidade do Rio de Janeiro. Entretanto as federações de ambos permaneceram separadas até 1978.

A lista de campeões do Rio de Janeiro que habitualmente vemos mostra os vencedores do Distrito Federal (até 1959), da Guanabara (1960-1978) e do atual Estado do Rio (1979 até hoje). Os campeões do antigo Estado do Rio de Janeiro são simplesmente ignorados, embora tenham integrado entidades organizadoras oficiais de uma unidade da Federação, que passou inclusive por uma fase amadora e posterior profissionalização. Aceitem ou não, foram campeões estaduais, e mesmo a unidade federativa à qual estavam associados não existindo mais desde 1975, deveriam constar juntos a todos os demais. Nem a mídia, quando faz revistas, livros ou publicações sobre a história dos campeonatos estaduais brasileiros lista estes campeões.

A primeira federação estadual do antigo Estado do Rio de Janeiro foi a Liga Sportiva Fluminense - LSF. Em 1917 e 1918 uma liga rival, a Associação Fluminense de Desportos Terrestres - AFDT, organizou outro campeonato. Em 1918, a LSF torna-se a representante oficial do Estado do Rio perante a então CBD, vencendo a disputa com a rival AFDT (depois, neste mesmo ano, esta foi extinta), e passa a montar as seleções fluminenses para a disputa do antigo Campeonato Brasileiro de Seleções. Em 1925, o Serrano foi campeão por uma nova liga, a Associação Fluminense de Esportes Atléticos - AFEA. Em 1926, a LSF mudou seu nome para Federação Fluminense de Desportos (FFD), mas não realizou o seu campeonato por estar esvaziada de membros e se extinguiu no mesmo ano, sendo substituída pela outra, AFEA, como a única entidade oficial do Estado perante a CBD. Pelo que pude apurar, o profissionalismo surgiu em 1933, embora nesta época apenas existisse competição por selecionados municipais. Em 1941, quando voltou a disputa por clubes, o campeonato voltou a ser amador (!!!), e ficou assim até 1952, quando o profissionalismo retornou em definitivo.

Os vencedores do velho Estado do Rio de Janeiro foram =
1915 - Ararigboya (Niterói)
1916 - Parnahyba (Niterói) 
1917 - Odeon (Niterói) (pela LSF) 
             Byron (Niterói) (pela AFDT) 
1918 - Nictheroyense (Niterói) (pela LSF) 
             desconhecido (pela AFDT) 
1919 - Fluminense (Niterói) 
1920 - Fluminense (Niterói)
1921 - Barreto (Niterói) 
1922 - Byron (Niterói) 
1923 - Barreto (Niterói) 
1924 - Byron (Niterói) 
1925 - Byron (Niterói) (pela LSF) 
             Serrano (Petrópolis) (pela AFEA) 
1926 - Elite (Niterói)
1927 - Gragoatá (Niterói)
1928-40 - não houve neste período. foi substituído pelo Campeonato Fluminense de Seleções
1941 - Icaraí (Niterói)
1942 - Royal (Barra do Piraí)
1943 - Icaraí (Niterói)
1944 - Petropolitano (Petrópolis)
1945 - Serrano (Petrópolis)
1946-51 - não houve neste período. foi substituído pelo Campeonato Fluminense de Seleções
1952 - Adrianino (Engenheiro Paulo de Frontin)
             Adrianino (Engenheiro Paulo de Frontin) – campeonato extra
1953 - Barra Mansa (Barra Mansa)
             Barra Mansa (Barra Mansa) – supercampeonato
1954 - Coroados (Valença)
             cancelamento do supercampeonato
1955 - Frigorífico (Mendes)
             Goytacaz (Campos) – supercampeonato
1956 – neste ano as finais não foram disputadas. há dúvidas sobre se as equipes finalistas Central, Campos, Serrano e Guarani dividiram o título.
1957 - Adrianino (Engenheiro Paulo de Frontin)
1958 - Manufatora (Niterói)
1959 - Fonseca (Niterói)
1960 - Fonseca (Niterói)
1961 - Rio Branco (Campos)
1962 - Fonseca (Niterói)
1963 - Goytacaz (Campos) 
1964 - Americano (Campos) 
             Eletrovapo (Niterói) – campeonato extra 
1965 - Americano (Campos) 
1966 - Goytacaz (Campos)
1967 - Goytacaz (Campos)
1968 - Americano (Campos)
1969 - Americano (Campos)
1970 - Central (Barra do Piraí)
1971 - Barbará (Barra Mansa)
1972 - Barbará (Barra Mansa)
1973 - desconhecido
1974 - Sapucaia (Campos)
1975 - Americano (Campos) 
1976 - Central (Barra do Piraí)
1977 - Manufatora (Niterói)
1978 - Goytacaz (Campos)

Posté par Vinicius Novak, 20 mars 2004 à 20:10 | Répondre

Excelente lembrança Vinicius! Muito Obrigada! Já tinha ouvido falar neste Campeonato Fluminense de Futebol sim, muito tempo atrás.

Dei uma pesquisada por aí, e vale a pena rememorar que, como as federações dos anteriores estados do Rio de Janeiro e da Guanabara tinham sido fundidas na atual federação estadual do Rio, o campeonato de 1978 foi originalmente concebido como apenas uma fase classificatória para a primeira competição do novo estado, cuja fase final seria disputada de fevereiro a abril de 1979 (Resolução nº 4/78 do CND).

Em 25/01/1979, após o seu término, a disputa foi transformada no último campeonato do antigo estado, a competição de fev-abr/1979 foi transformada no que ficou conhecido como “Campeonato Especial” de 1979, e o primeiro campeonato estadual do (novo) estado do Rio de Janeiro, válido pela temporada de 1979, foi disputado entre maio e setembro deste ano.

Sem dúvidas um erro esta lista não aparecer entre os demais históricos de campeonatos estaduais do país. Certamente tem a ver com os clubes de pouca expressão que dele participavam. Agora, se a imprensa divulga relações de clubes campeões, inclusive no período amador, de estados fraquíssimos no futebol e onde o profissionalismo entrou décadas depois do Campeonato Fluminense como, com o devido respeito, Amapá, Roraima, Tocantins, Rondônia, Acre, ..., qual o motivo de não incluírem a do antigo estado do Rio de Janeiro?

Mais uma vez muito obrigada.

Posté par Elise Dawson, 20 mars 2004 à 21:16 | Répondre

Como você escreveu, o raciocínio que prevalece no Rio é que uma competição só vale mesmo caso tenha participação de times grandes. Pelo que me recordo, quando do período da fusão e pelos anos posteriores, ocorreram muitas atitudes da federação e dos clubes maiores, para impedir ou diminuir a presença ou a participação dos menores no novo estadual.

Mas, mexendo ou não na relação histórica de campeões do Rio que estamos acostumados a ver, é lamentável que a lista dos vencedores do Campeonato Fluminense não tenha a divulgação legítima de um estadual, que é o que foi, pela imprensa e pelas entidades organizadoras.

Posté par Vinicius Novak, 20 mars 2004 à 22:31 | Répondre

Vinicius, muito bem lembrado !
Algumas fontes tratam o antigo Campeonato Fluminense como sendo o da cidade de Niterói, argumentando que, em seus primeiros tempos, quase que só existiam clubes da capital na disputa (Niterói), o que se dava também pelo motivo das equipes de outras cidades do estado se afastarem da competição por terem muitas dificuldades financeiras e de transporte para fazerem seus jogos nesta cidade.
Mais aí vem a pergunta :- a imensa maioria dos campeonatos estaduais, na verdade, começaram como campeonatos citadinos, com clubes apenas da capital do estado (normalmente é a localidade mais desenvolvida, onde as novidades chegam primeiro, inclusive a do futebol), então deveríamos desconsiderar a parte destas competições que não tinha a participação de clubes de outros municípios dos estados?
O que é interessante notar também são os termos de identificação. Carioca é o natural da cidade do Rio de Janeiro, e fluminense é o do estado do Rio de Janeiro. Ora, a denominação “Campeonato Carioca de Futebol” tem a ver mesmo é com a área da Guanabara e com a do antigo Distrito Federal. Se estamos nos referindo a “Campeonato Fluminense de Futebol”, então mencionamos os torneios da área cuja antiga capital era Niterói e com as disputas que passaram a ser realizadas a partir de 1979, a partir da fusão.

Posté par Raul Michels, 21 mars 2004 à 21:43 | Répondre

 

Quando o nome, as cores e/ou o uniforme da nova associação coincide(m) com o(s) que a(s) anterior(es) extinta(s) usava(m), a confusão só aumenta. E isso se dá porque os torcedores do clube posterior enxergam uma “seqüência” de existências, uma continuidade ininterrupta de acontecimentos, descartando as extinções que, de fato e de direito, ocorreram. Normalmente, se essa absorção da história das instituições esportivas extintas traz vantagens, na visão dos torcedores das agremiações que restaram das anteriores, como títulos e grandes vitórias e atletas, o bate-boca só se intensifica porque estes desejam ligar a retumbância do passado à agremiação da qual é simpatizante para torná-la maior, no seu entendimento.

Se olharmos por aí e prestarmos a atenção, vamos constatar que é muito comum que as entidades posteriores, principalmente as que se originaram de fusões, façam homenagens aos grupos que encerraram suas atividades para formá-las, utilizando suas cores e nomes ou se inspirando em seus uniformes, até pelo motivo óbvio de que a nova agremiação só existe porque as outras foram finalizadas e também por ser formada justamente por antigos componentes daquelas que se fundiram.

Posté par Gustavo Filippi, 20 mars 2004 à 21:52 | Répondre

Você falou tudo Gustavo. A situação funciona desta forma mesmo.

Quanto ao São Paulo da Floresta, que não surgiu de uma fusão de clubes como muito bem está explanado no texto – o Paulistano fechou seu departamento de futebol e a AA das Palmeiras encerrou totalmente suas atividades – também aconteceu esta homenagem às associações anteriores porque seus fundadores eram gente ligada a elas – diretores e jogadores.

Este clube se tornou tricolor da seguinte forma: o Paulistano é alvirrubro e tem seu uniforme principal quase que totalmente branco, e a AA das Palmeiras era alvinegra com uniforme tradicional branco com uma faixa negra horizontal no meio da camisa. O time da Floresta escolheu um uniforme titular branco (os dois anteriores assim eram) com faixas horizontais no meio da camisa (a AA das Palmeiras tinha uma faixa horizontal) nas cores vermelha (Paulistano) e preta (AA das Palmeiras) separadas por uma faixa estreita branca. O segundo uniforme era de calções brancos e camisas listradas na vertical em vermelho e negro, intercalado com listras brancas mais finas.

A despeito da extinção do São Paulo da Floresta em 1935, incorporado que foi ao Tietê, como os que fundaram o Clube Atlético São Paulo e o atual São Paulo Futebol Clube eram ligados a ele, mantiveram idênticos uniformes nestes dois.

Posté par Matheus Franco, 21 mars 2004 à 12:30 | Répondre

No que diz respeito ao Botafogo, seu time de futebol seguiu com o mesmo uniforme do Botafogo Football Club, inspirado na italiana Juventus (camisa listrada verticalmente em preto e branco e calção branco), enquanto sua equipe de regatas manteve as cores do Club de Regatas Botafogo (uniforme inteirinho preto).
Inicialmente o Botafogo Football Club usava calção branco. Ao aderir ao profissionalismo, em 1934, passou a usá-los na cor preta como é até hoje em dia. Apenas entre 1948 e 1956 voltou a ser branco. 
Foi a partir desta fusão que o distintivo com a estrela solitária foi adotado (esta estrela já aparecia em um dos cantos do emblema do Club de Regatas Botafogo).

Posté par Cristiano Maruyama, 21 mars 2004 à 22:01 | Répondre

Exatamente Cristiano. Vou detalhar a história da estrela e do distintivo que foram base para as identificações do atual Botafogo.

O escudo do Botafogo Football Club era branco no estilo suíço, com o contorno em preto. Ao centro, as iniciais BFC, entrelaçadas em preto. Foi desenhado a nanquim por um de seus fundadores. Já o Club de Regatas Botafogo não tinha um escudo oficial, porém, havia um escudo usado popularmente que continha uma estrela solitária junta a remos cruzados e o monograma com as iniciais CRB. No uniforme, o clube usava apenas um monograma com a estrela no topo e, em 1919, a estrela se sobrepôs às iniciais, que passaram para dentro dela.

Com o surgimento do Botafogo de Futebol e Regatas, em 1942, manteve-se o formato do escudo do Botafogo Football Club, com a estrela solitária branca do Club de Regatas Botafogo no lugar das letras, em um fundo preto.

Posté par Émerson Kurtz, 23 mars 2004 à 19:57 | Répondre

 

Quando mentiras são contadas muitas vezes, talvez virem verdades ...

O conteúdo do que escreveu está coberto de razão. Quando você tem um final de um clube, por fusão ou encerramento de atividades, esta associação, tecnicamente, deixa de existir. Troféus, conquistas e páginas honradas que tenha conseguido são fatos integrados à sua história, e somente a ela ! Se não fosse assim, os títulos do Pinheiros e do Colorado deveriam então ser somados ao Paraná Clube !

Já que me referi ao futebol paranaense e o Paraná Clube faz parte de suas explicações, vale ressaltar mais fatos históricos que têm a ver com a história deste centro esportivo.

Como você relatou, o Paraná Clube foi formado pela fusão do Colorado com o Pinheiros.

Muito bem, o Colorado Esporte Clube foi fundado em 29 de junho de 1971 através da FUSÃO de outros 3 clubes – o Britânia Sport Club(19 de novembro de 1014) campeão paranaense 7 vezes, o Palestra Itália Futebol Clube(1921) campeão 3 vezes, e o Clube Atlético Ferroviário(30 de janeiro de 1930) vencedor 8 vezes do Paraná. Além disso, o Esporte Clube Pinheiros foi fundado em 12 de agosto de 1971 depois de um plebiscito que determinou a mudança de cores (verde e branco para azul e branco) e de nome do antigo Esporte Clube Água Verde(17 de dezembro de 1914), que foi campeão paranaense 1 vez.

Perceba que, embora o Pinheiros seja a exata continuidade do Água Verde, nos dados oficiais do clube não tomam a data de fundação do mesmo como sendo a sua; optam pela data em que ocorreu a mudança de nome e das cores. Até achei sites onde dão a fundação do Pinheiros como sendo em 1914, quando o Água Verde surgiu, mas na hora em que se confere a relação de todos os campeões paranaenses sempre se observa o Pinheiros com os seus 2 títulos (1984 e 1987) e o Água Verde com o seu único (1967). Nunca somam a vitória de 1967 ao Pinheiros.

Se você fizer uma somatória geral de títulos de todos os que se fundiram ou mudaram de nome ao longo da história para chegarmos hoje à agremiação chamada de Paraná Clube, atingirá o número de 28 conquistas!!! Confira:
8 Clube Atlético Ferroviário
7 Paraná Clube
7 Britânia Sport Club
3 Palestra Itália Futebol Clube
2 Esporte Clube Pinheiros
1 Colorado Esporte Clube
1 Esporte Clube Água Verde

Logo, o Paraná Clube só ficaria atrás do Coritiba!!!

No entanto, quando você observa todas as listas de campeões do Estado do Paraná que aparecem por aí, constatará que a tal soma não é feita, e que cada um aparece com os respectivos títulos, como deve ser porque são clubes independentes um do outro, juridicamente falando.

Posté par Otávio Bertelli, 20 mars 2004 à 21:22 | Répondre

 

Além de não ter havido um linha contínua entre o Club Athletico Paulistano e o São Paulo da Floresta, afinal o anterior encerrou as atividades de seu departamento de futebol, também houve um rompimento ideológico entre as duas agremiações, pois os que fundaram o posterior ingressaram no profissionalismo, o que contrariou os princípios e os valores do C.A.P. e, portanto, sua decisão oficial de não disputar mais competições.

Creio ser bem possível que, pelos anos ou décadas posteriores, o pessoal do Paulistano (ou uma boa parte dele) visse até com antipatia o novo clube, criado por seus antigos companheiros de administração e de convivência associativa. Seria interessante averiguar em documentos, como atas e registros, se o tal descontentamento existia (talvez no não envio de representantes a alguma cerimônia oficial em homenagem ao time da Floresta, a não remessa de cumprimentos pelo título de 1931, etc.). Ora, a aversão que destinavam à iminente entrada do profissionalismo no futebol paulista também deve ter sido dirigida ao São Paulo da Floresta. No ângulo de visão do Alvirrubro, aqueles que se DESLIGARAM dele para fundar a nova associação e ADERIRAM ao esporte profissional provavelmente foram entendidos até como traidores, do clube em si (por terem o abandonado) e da convicção (adentraram na atividade esportiva remunerada).

De fato, de vez em quando encontro são-paulinos que afirmam categoricamente ser o atual Tricolor uma extensão do Paulistano, o qual teria apenas mudado de nome !!!??? Certamente querem acrescentar a reputação e os 11 títulos paulistas do C.A.P. à sua história. Curioso é que ninguém fala que o São Paulo F.C. seria a continuidade da A.A. das Palmeiras, com uma existência bem menor de glórias. Dá para imaginar qual seria o motivo desta diferenciação oportunista ....

Como se já não bastassem as extinções, fusões, refundações, ou seja lá o que mais, que ocorreram na primeira metade dos anos 30, anteriores ao São Paulo atual, o distanciamento entre este e o Paulistano (como já foi com o São Paulo da Floresta) também se dá no campo dos ideais desportivos, seja na aceitação do profissionalismo, seja na popularização do futebol.

O Paulistano não era um clube aberto, assim como vários em sua época. Seus jogadores eram todos sócios e pagavam mensalidades. A vinda da profissionalização futebolística, além de bater de frente com o espírito nobre esportivo no qual acreditavam, induzia a democratização da prática para qualquer um, independentemente de sua origem étnica ou social. E o Alvirrubro não estava gostando disto.

Deve ter havido muita vista grossa com Friedenreich, um mulato, devido sua alta qualidade como atleta. Mesmo assim, este jogador tinha o hábito de alisar muito bem sua cabeleira crespa para parecer “mais branco”. Eu não acho que as pessoas ligadas ao Paulistano ficariam muito felizes ao saber que atletas como Leônidas da Silva, Zizinho, Canhoteiro ou Serginho Chulapa, além de tantos e tantos outros de origem humilde e/ou pele escura, jogaram pelo São Paulo F.C.

Posté par Glauco Fiorio Novelli, 25 mars 2004 à 20:11 | Répondre

 

 

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